Ildo Sauer denuncia como José Dirceu entregou o Pré-Sal para Eike Batista - Noticia Final

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sábado, 7 de abril de 2012

Ildo Sauer denuncia como José Dirceu entregou o Pré-Sal para Eike Batista

Ildo Sauer mostra como Dirceu entregou o petróleo brasileiro a Eike Batista (parte I – O petróleo no mundo)

O comentarista Mário Assis nos envia uma entrevista do professor Ildo Sauer, diretor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo, concedida a Pedro Estevam da Rocha Pomar e Thaís Carrança, da revista da Associação dos Docentes da USP.

Considerado um dos maiores especialistas em energia do país, ex-diretor da Petrobras no primeiro governo Lula, Sauer conta como foi descoberto o Pré-Sal e denuncia o lobby feito por José Dirceu para entregar a Eike Batista a maior parte das reservas.

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Ildo Sauer

Não acredito que o regime capitalista tenha condições, sem se aprofundar numa crise mais violenta do que a que já viveu até hoje, de abrir mão dos recursos remanescentes do petróleo. A população era de 700 milhões de habitantes em1750. A Era do Carvão a elevou para 1,7 bilhão, com o incremento extraordinário da produtividade do trabalho social. A Era do Petróleo praticamente se aprofunda de1910 a 1920, e é hegemônica ainda até agora, como processo de incremento extraordinário da produtividade do trabalho e da circulação de mercadorias, no âmbito industrial, urbano e de circulação, conquanto a eletricidade foi mais para alguns tipos de fábrica e algumas coisas do ambiente urbano.

Lenin dizia que socialismo é soviete mais eletricidade. Ele tinha razão porque a eletricidade chegando, a produtividade do trabalho aumentava, saía-se da era de quase caçador e coletor, pré-revolução agrícola, para uma era pós. Então não há que desprezar o que aconteceu na União Soviética em termos de fenômeno de produção. Incremento extraordinário com apropriação social da energia.

A apropriação do petróleo pelo capitalismo para incrementar a produtividade do trabalho fez a população pular de 1,7 bilhão, em 1910, para 7 bilhões de pessoas, 100 anos depois. Produz-se em escala sem precedentes, circula-se em escala sem precedentes. O PIB mundial hoje é de US$ 60 trilhões, mais ou menos; o excedente econômico do petróleo sozinho é US$ 3 trilhões. Hoje um barril custa menos de US$ 10, vale mais de US$ 100. Produzem-se hoje 85 milhões de barris por dia, que dá uns 30 bilhões de barris por ano. O excedente é US$ 100 por barril, vezes 30 bilhões, isso dá US$ 3 trilhões por ano, que é um excedente econômico disputado com todas as armas para incrementar a acumulação capitalista. Isto é produção de valor sem alocar trabalho de capital, é o chamado lucro suplementar. Então se invade o Iraque, se ameaça a Venezuela, se cria a 4ª Frota para vigiar o Atlântico Sul quando o Pré-Sal brasileiro vai até300 kmmar adentro e não é reconhecido que isso é mar territorial pelos países.

Os Estados Unidos têm 30 bilhões de barris de reservas: dá para três anos se eles quiserem produzir seu próprio petróleo, consumindo cerca de 9 bilhões/ano. O capitalismo mundial não consegue operar sem o petróleo, por esses atributos. Substituir o petróleo significa gastar muito mais trabalho, muito mais capital, para fazer a mesma produção. Quando o mundo de hoje precisaria, se fosse possível pensar utopicamente, satisfazer as necessidades dos 2 bilhões de famintos que vivem abaixo da linha de pobreza, dos outros 2 bilhões de remediados; significa que deveríamos produzir mais, portanto incrementar a produtividade industrial do trabalho, mas, acima de tudo, redistribuir melhor o produto social do sistema econômico. Esse é o dilema. Isso evidentemente agrava a questão ambiental global da biosfera. Só que eu não vejo saída, a não ser uma saída gradual.

Não é possível imaginar, como muitos da sustentabilidade vulgar fazem crer, que os processos são circulares, que retornam sempre ao mesmo ponto. A história só anda para frente, é um processo dialético permanente de rupturas e mudanças. Achar que o mar sempre vai ser do mesmo jeito, a atmosfera, é ilusão. E aí, como é que eu coloco o Pré-Sal nessa história? Primeiro, que a demanda mundial de petróleo vai ser satisfeita, independentemente de com que recursos, ou vai ser substituído por coisas piores como carvão liquefeito, por um processo Fischer-Tropsch. Você usa carvão para separar a molécula da água em hidrogênio e oxigênio, combina os hidrogênios com carbono e faz qualquer cadeia de combustível, que pode ser GLP, pode ser gás natural, pode ser gasolina, pode ser querosene, pode ser óleo combustível. Quanto custa? US$ 80, que aliás é o preço diretor, o preço social de produção da energia. Marx já previa isso, ele estava correto. É o carvão que determina o preço do petróleo, porque ele é o único substituto em escala global.

Então, do ponto de vista da apropriação da renda absoluta, renda diferencial, todos aqueles que controlam o oligopólio do petróleo não abrem mão dele, a não ser pelo seu preço social alternativo, que é dado pelo preço social de produção do carvão, que seria a alternativa em escala mundial, capaz de satisfazer as necessidades energéticas. Talvez no futuro, se a tecnologia evoluir muito, podem ser os renováveis, ou então a nuclear. Porque o bolsão de petróleo remanescente convencional hoje é de cerca de 1,8 trilhão de barris. Nós estamos consumindo hoje 30 bilhões de barris por ano, portanto teria, teoricamente, [estoque para] 60 anos.

No entanto, nesse quadro, eu não vejo como se poderá abrir mão do petróleo. Ainda que fosse um desejo de apropriar mais energia renovável, aumentar a produtividade dos sistemas tecnológicos que apropriam energia do sol, o recurso menos disponível na Terra é o do petróleo. Energia natural não falta. Aquela que é disputada é a que permite maior excedente econômico, especialmente aquela que gera o lucro suplementar tão grande quanto é o petróleo hoje. Não há nada que se compare. Mesmo num sistema socialista, se eu me lembro bem do que disse o Lenin, também não se poderia abrir mão daqueles recursos que permitem produzir mais com menos trabalho, para satisfazer mais necessidades, ao invés de só acumular e botar no balanço das empresas, que é o que o capitalismo faz — essa é a grande diferença.

No entanto, nesse quadro, é absolutamente inaceitável o modelo que foi aprovado, depois que o Pré-Sal foi confirmado, em 2005, quando se furou o poço de Paraty. No poço de Paraty, debaixo do sal, havia petróleo, confirmando uma suspeita de três, quatro décadas. Em 2005 foi Paraty, em 2006 Tupi chegou.

Ildo Sauer denuncia como José Dirceu entregou o Pré-Sal para Eike Batista (Parte final - Os leilões dos campos da Petrobras)

Agradecendo ao comentarista Mario Assis, que nos enviou a matéria, publicamos hoje a segunda parte da importantíssima entrevista do professor Ildo Sauer, diretor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo, concedida a Pedro Estevam da Rocha Pomar e Thaís Carrança, da revista da Associação dos Docentes da USP (Adusp).

Considerado um dos maiores especialistas em energia do país, ex-diretor da Petrobras no primeiro governo Lula, Sauer conta como foi descoberto o Pré-Sal e denuncia o lobby feito por José Dirceu para entregar a Eike Batista a maior parte das reservas.

Revista Adusp: Você ainda estava na Petrobras, quando o Pré-Sal foi descoberto?

Ildo Sauer - Eu ajudei a tomar essa decisão. Nós tomamos essa decisão, não sabíamos quanto ia custar. O poço de Tupi custou US$ 264 milhões, para furar os 3 km de sal e descobrir que tinha petróleo. O Lula foi avisado em 2006 e a Dilma também, de que agora um novo modelo geológico havia sido descoberto, cuja dimensão era gigantesca, não se sabia quanto.Então, obviamente, do ponto de vista político, naquele momento a nossa posição, de muitos diretores da Petrobras, principalmente eu e Gabrielli, que tínhamos mais afinidade política com a proposta do PT de antigamente, a abandonada, achávamos que tinha que parar com todo e qualquer leilão, como aliás foi promessa de campanha do Lula.

Na transição, ainda a Dilma falou, “não vai ter mais leilão”. Mas se subjugaram às grandes pressões e mantiveram os leilões. Fernando Henrique fez quatro, Lula fez cinco. Lula entregou mais áreas e mais campos para a iniciativa privada do petróleo do que Fernando Henrique.

Um ex-ministro do governo Lula e dois do governo FHC foram assessorar Eike Batista. O que caberia a um governo que primasse por dignidade? Cancelar o leilão. Por que não foi feito? Porque tanto Lula, quanto Dilma, quanto os ex-ministros, estavam nessa empreitada”.

Revista Adusp: Mas Gabrielli era contra e acabou concordando?

Ildo Sauer - Não. A Petrobras não manda nisso, a Petrobras é vítima, ela não era ouvida. Quem executa isso é a ANP [Agência Nacional do Petróleo], comandada pelo PCdoB, e a mão de ferro na ANP era da Casa Civil. Então a voz da política energética era a voz da Dilma, ela é que impôs essa privatização na energia elétrica e no petróleo. Depois do petróleo já confirmado em 2006, a ANP criou um edital pelo qual a Petrobras tinha limitado acesso. Podia ter no máximo 30% ou 40% dos blocos, necessários para criar concorrência. Porque, em 2006, Tupi já havia sido furado e comunicado. O segundo poço de Tupi, para ver a dimensão, foi feito mais adiante, esse ficou pronto em 2007. Só que o Lula e a Dilma foram avisados pelo Gabrielli em 2006.

Muitos movimentos sociais foram a Brasília, nós falávamos com os parlamentares, os sindicatos foram protestar. O Clube de Engenharia, que é a voz dos engenheiros, mandou uma carta ao Lula, em 2007, pedindo para nunca mais fazer leilão.

Em 2005-6, o [Rodolfo] Landim, o queridinho do Lula e da Dilma, saiu da Petrobras. Porque o consultor da OGX, do grupo X, do senhor [Eike] Batista, era o ex-ministro da Casa Civil (José Dirceu), e ele sugeriu então que Eike entrasse no petróleo. Aí ele contratou o Landim, que começou a arquitetar. Como o centro nevrálgico da estratégia da Petrobras é a gerência executiva de exploração, o geólogo Paulo Mendonça, nascido em Portugal, formado aqui na USP, e o Landim, articularam para em 2007 criar uma empresa nova, a partir dos técnicos da Petrobras. E o senhor Batista queimou alguns milhões de dólares para assinar os contratos e dar as luvas desses novos cargos, que estavam dentro da Petrobras mas, desde que o Landim foi trabalhar com o senhor Batista, ele já estava lá para arrancar de dentro da Petrobras esses técnicos.

Aí chegou o fim de 2007, todos nós pressionando para não ter mais leilão, o Lula tira 41 blocos… Mas vamos voltar a 2006. Em 2006, quem anulou o leilão foi a Justiça, por discriminação contra a Petrobras fazer essas coisas. Ouvi isso da Jô Moraes, num debate na Câmara dos Deputados.

Só que aí se criou o seguinte imbróglio: um ex-ministro do governo Lula e dois do governo Fernando Henrique, Pedro Malan e Rodolpho Tourinho, foram assessorar o Eike Batista. Ele já tinha gasto um monte para criar sua empresa de petróleo. Se o leilão fosse suspenso, ele ia ficar sem nada, e já tinha aliciado toda a equipe de exploração e produção da Petrobras.

O que caberia a um governo que primasse por um mínimo de dignidade para preservar o interesse público? Cancelar o leilão e processar esses caras que saíram da Petrobras com segredos estratégicos. Por que não foi feito? Porque tanto Lula, quanto Dilma, quanto os ex-ministros, os dois do governo anterior e um do governo Lula, estavam nessa empreitada.

Revista Adusp: Quem era o ex-ministro?

Ildo Sauer - O ex-chefe da Casa Civil, antecessor de Dilma.

Revista Adusp: José Dirceu?

Ildo Sauer - É, ele foi assessor do Eike Batista, consultor. Para ele, não era do governo, ele pegou contrato de consultoria, para dar assistência nas negociações com a Bolívia, com a Venezuela e aqui dentro. Ele [Dirceu] me disse que fez isso. Do ponto de vista legal, nenhuma recriminação contra ele, digamos assim. Eu tenho (recriminação)contra o governo que permitiu se fazer.

E hoje ele [Eike] anuncia ter 10 bilhões de barris já, que valem US$ 100 bilhões. Até então, esse senhor Batista era um milionário, tinha cerca de US$ 200 milhões. Todo mundo já sabia que o Pré-Sal existia, menos o público, porque o governo não anunciou publicamente. As empresas que operavam sabiam, tanto que a Ente Nazionale Idrocarburi D’Italia (ENI) pagou US$ 300 milhões por um dos primeiros poços leiloados em 2008. Três ou quatro leilões foram feitos quando o leilão foi suspenso pela justiça. Até hoje, volta e meia o [ministro] Lobão ameaça retomar o leilão de 2008, 2006. A oitava rodada. Para entregar. Tudo em torno do Pré-Sal estava entregue naquele leilão.No leilão seguinte, o governo insiste em leiloar. E leiloou. E na franja do Pré-Sal é que tem esse enorme poderio.

Como é que pode? A empresa dele (Eike) foi criada em julho de 2007. Em junho de 2008 ele fez um Initial Public Offering, arrecadou R$ 6,71 bilhões por 38% da empresa, portanto a empresa estava valendo R$ 17 bilhões, R$ 10 bilhões dele. Tudo que ele tinha de ativo: a equipe recrutada da Petrobras e os blocos generosamente leiloados por Lula e Dilma. Só isso. Eu denunciei isso já em 2008. Publicamente, em tudo quanto é lugar que eu fui, eu venho falando para que ficasse registrado antes que ele anunciasse as suas descobertas. Porque fui alertado pelos geólogos de que lá tinha muito petróleo.

Foi um acordo que chegaram a fazer, numa conversa entre Pedro Malan, Rodolpho Tourinho e a então ministra-chefe da Casa Civil (Dilma), em novembro, antes do leilão. O Lula chegou a concordar, segundo disse o pessoal do MST e os sindicalistas, em acabar com o leilão. Mas esse imbroglio, de o empresário ter gasto dezenas de milhões de dólares para recrutar equipe e apoio político nos dois governos fez com que eles mantivessem… Tiraram o filé-mignon, mas mantiveram o contra-filé. O contra-filé é alguém que hoje anuncia ser o oitavo homem mais rico do mundo.

E tudo foi mediante essa operação no seio do governo. Contra a recomendação dos técnicos da Petrobras, do Clube de Engenharia, do sindicalismo. Foi a maior entrega da história do Brasil. O ato mais entreguista da história brasileira, em termos econômicos. Pior, foi dos processos de acumulação primitiva mais extraordinários da história do capitalismo mundial. Alguém sai do nada e em três anos tem uma fortuna de bilhões de dólares.

A Petrobras durante a vida inteira conseguiu descobrir 20 bilhões de barris de petróleo, antes do Pré-Sal. Este senhor, está no site da OGX, já tem 10 bilhões de barris consolidados. Os Estados Unidos inteiros têm 29,4 bilhões de barris. Ele anuncia que estará produzindo, em breve, 1,4 milhão de barris por dia — o mesmo que a Líbia produz hoje.

É esse o quadro. Ou a população brasileira se dá conta do que está em jogo, ou o processo vai ser o mesmo de sempre. Do jeito que foi-se a prata, foi-se o ouro, foram-se as terras, irão também os potenciais hidráulicos e o petróleo, para essas negociatas entre a elite. O modelo aprovado não é adequado. Mantém-se uma aura de risco sem necessidade, para justificar que o cara está “correndo risco”, mas um risco que ele já sabe que não existe.

Qual é a nossa proposta? Primeiro, vamos mapear as reservas: saber se temos 100 bilhões, 200 bilhões, 300 bilhões de barris. Segundo, vamos criar o sistema de prestação de serviço: a Petrobras passa a operar, recebe por cada barril de petróleo produzido US$ 15 ou US$ 20, e o governo determina o ritmo de produção. Porque há um problema: a Arábia Saudita produz em torno de 10 milhões de barris, a Rússia uns 8 milhões de barris, depois vêm os outros, com 2 a 4 milhões de barris por dia: Venezuela, Iraque, Irã. O Eike Batista anuncia a produção de 1,4 milhão de barris, a Petrobras anuncia 5 milhões de barris e pouco. Significa que o Brasil vai exportar uns 3 ou 4 milhões de barris. Já é o terceiro ator. Não se pode fazer mais isso.

Eike Batista usou informações privilegiadas da Petrobras para conquistar as melhores áreas.

O comentarista Mario Assis nos envia importante artigo do engenheiro Diomedes Cesário, ex-presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (AEPET), reproduzido do site da entidade.

Como se sabe, jornais, revistas e televisões têm apresentado anúncios da OGX informando o “início da produção de petróleo no Brasil por uma empresa privada brasileira”.


A OGX faz parte do grupo EBX, de Eike Batista, o empresário mais rico do Brasil e um dos maiores do mundo. Para o leitor desavisado, parece tratar-se de uma história de dedicação, esforço próprio e alto risco, como dos pioneiros da indústria de petróleo em todo mundo. Infelizmente, a história é bem mais obscura.

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OGX E A QUESTÃO DO TALENTO, CONHECIMENTO E ÉTICA

Diomedes Cesário

A OGX foi criada após Eike contratar Rodolfo Landim, ex-diretor de Exploração da Petrobrás, em 2006, e adquirir blocos para exploração de petróleo no 9º Leilão, promovido pela Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), em pleno governo Lula.

Para escolher as áreas, contratou o geólogo Paulo Mendonça, até então Gerente Executivo de E&P da Petrobrás, responsável pelas locações e detentor de informações acumuladas pelo corpo técnico da empresa.

No 9º Leilão, em novembro de 2007, a empresa de Eike arrematou diversos blocos, com o assessoramento da equipe de técnicos da Petrobrás. Foi exatamente neste leilão que 41 áreas em torno de Tupi foram retiradas por fazer parte do pré-sal, descoberto pela Petrobrás, após décadas de estudo, pesquisas e investimentos. A estatal, de posse das informações recém obtidas nos poços pioneiros, alertou o governo federal que não fazia sentido mantê-las, pois seria uma doação e não um leilão. A partir deste episódio, o governo Lula iniciou a discussão que resultou na mudança do regime do pré-sal de concessão para partilha.

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INFORMAÇÕES RESERVADAS

Segundo Ildo Sauer, professor titular da USP e diretor da Petrobrás entre 2003-2007, em artigo na revista Retrato do Brasil, de novembro de 2009, “Vários setores do próprio governo lutavam pela manutenção das regras liberais, mesmo diante de várias descobertas feitas na camada pré-sal. A primeira se deu no bloco de Parati, em 2005. E o primeiro poço com resultados espetaculares foi o 1-RJS-628, de Tupi. Estranhamente, porém, foram mantidos os 11 blocos do chamado ‘arco de Cabo Frio’, arrematados pela OGX, que recrutara a equipe de exploração da Petrobras, sem reação por parte do governo.”

A equipe de técnicos da Petrobrás foi paga a preço de ouro, é claro. Somente Landim – que acabou saindo, em 2009, após desentendimento com Eike – recebeu 165 milhões de reais nos quatro anos em que trabalhou no grupo. Em poucos meses ganhou mais que em toda sua vida na Petrobrás.

O salário médio dos diretores da OGX em 2010 foi de 5,96 milhões de dólares por anos, com um máximo de 11,9 milhões de dólares. O salário médio de um diretor da Petrobrás no mesmo período foi de 691 mil dólares – um décimo da OGX – com um máximo de 728 mil dólares, conforme Retrato do Brasil de outubro de 2011.

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QUESTÃO DE ÉTICA

A pergunta óbvia é: é legal e moral um empregado ou diretor sair da empresa, onde foi formado e detendo informações estratégicas, para trabalhar imediatamente numa concorrente? A questão é ainda mais grave se esta empresa é controlada pela União Federal.

Em algumas áreas do governo, há períodos de carência que – dizem -, muitas vezes, acabam sendo burlados por contratos de gaveta. O que importa, na verdade, é o posicionamento ético, como o relatado por Celso Furtado, em entrevista no livro “Seca e Poder”:

“Eu me recordo de uma história curiosa com Raul Prebisch, o criador do Banco Central da Argentina, de tremenda influência na América Latina. Ele me contou que quando saiu do Banco Central passou por grandes dificuldades financeiras, teve até de vender o piano da mulher. Eu arregalei os olhos: quem passara tantos anos chefiando o BC da Argentina teria o emprego que quisesse! E ele disse: “Mas Celso, eu conhecia a carteira de todos os bancos, administrava o redesconto por telefone, era o homem mais bem informado! Todos queriam me contratar, mas eu não podia trabalhar para nenhum.”

A história de sucesso de Eike termina uma de suas propagandas afirmando: “Um marco importante para uma empresa que tem como essência realizar e transformar. Afinal, recursos naturais só se transformam em riqueza para o país quando se tem talento para descobrir onde estão e o conhecimento para se chegar até eles.”

Deixou de informar que o talento – se é que se pode chamar de talento -, ao contrário do que sugere o texto, não foi descobrir o petróleo, mas, onde estavam os detentores de informações e “o conhecimento para se chegar a eles”.

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TECNOLOGIA E PATENTE BRASILEIRA

Por fim, a questão tecnológica. Apesar de elogiar a Petrobrás pela inovação e patente, Eike segue caminho diverso. Em entrevista à revista Carta Capital de novembro de 2011, informava:

“Eu não ia conseguir montar o FPSO (navio-plataforma) sem a ajuda da Hyundai. Mas vou trazer isso, com estrutura e tecnologia. Será que só eu consigo? Nossos estaleiros vão virar a Embraer dos mares. Um estaleiro com todo o know-how coreano transferido para o Brasil. O bacana é que eu fiz o inverso. Não precisei de 20, 30 anos de pesquisa e desenvolvimento para criar know-how. Comprei tudo, e em quatro ou cinco anos vai estar tudo absorvido e a gente vai virar patente brasileira.”

Como Eike irá descobrir – se permanecer no negócio e não repassá-lo aos chineses ou às “big oil” – a tarefa é bem mais complicada do que aparenta.

Tribuna da Imprensa

4 comentários:

  1. Embora louvável as penas impostas por nosso Excelentíssimo Ministro Joaquim Barbosa hoje relator do processo intitulado mensalão todas elas serão bem vindas, mas se não forem duras tenho certeza de que este tipo de bandidagem continuará livre para voar, seguindo impune, indivisível inatingível, inarredável, inaceitavelmente incrustada no entorno do poder, em todos os níveis, particularmente nesta esfera “federal”.
    Pois se visa desta maneira colocar um ponto final aos “assaltos dos trens pagadores de nossa República”, outrora praticados pelos protagonistas irmãos “petralhas”, tendo em vista que só há uma alternativa: Livramo-nos hoje de todos os tipos e graus de Corruptos ou cairemos num aterrador regime oligárquico!
    Pena que os púlpitos das igrejas de todas as religiões parecem estar mais preocupados em agregar carneiros dizimistas, com raras e honrosas exceções, do que procurar combater e esclarecer ao povo onde vamos chegar caso continuemos aceitando indiferentemente esta desenfreada e escancarada ONDA DE CORRUPÇÃO.
    A gravidade desta situação deveria estar sendo enfrentada nas ruas, escola, igrejas, com o envolvimento de milhões, não somente com nossos briosos Ministros do STF!

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  2. Boatos, boatos e falatório sem nexo. Passados dois anos, a OGX foi a falência, suas expectativas eram infladas porque ele não é tão sério como o setor de petróleo exige. Ademais os campos que ele explora não são do pré-sal, pois o pré-sal exigem muito mais tecnologia e capital e prova disso é só de luvas para participar no leilão é 16 bilhões de dólares. Dirceu foi condenado sem provas, apenas por suspeição, e pela segunda vez (o congresso já tinha feito o mesmo) em um processo onde vários ou foram condenados até mesmo contra as provas ou em interpretações esticadas dos seus malfeitos (como os banqueiros). Enquanto o mensalão original tucano, onde ocorreu realmente desvio de dinheiro de Furnas, caminha para a prescrição sob o véu de discrição da mídia e dos deformadores de opinião. Isso só o tempo mostra.

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