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sábado, 12 de maio de 2012

A Grécia está deixando a Europa, e o processo será doloroso

A população da Grécia rejeitou a austeridade. É difícil culpá-la por ter expulsado um "establishment" político corrupto. Também é inegável que a receita econômica prescrita por seus credores internacionais é assombrosamente rigorosa. O problema é que raiva não é uma política. Não importa quantas vezes a Grécia vote contra a austeridade, não poderá evitá-la.

A Grécia navega entre os monstros Cila e Caríbdis: entre uma depressão imposta pelos credores e o caos de um calote unilateral da dívida e o abandono do euro. Na eleição desta semana, mais de dois terços dos eleitores apoiaram partidos contrários aos cortes de gastos, aumentos de impostos e reformas estruturais impostas pela União Europeia (UE) e Fundo Monetário Internacional (FMI) como condição para um segundo pacote de resgate financeiro. A mesma proporção de eleitores, no entanto, também diz desejar a manutenção do euro como moeda do país.

Essa contradição fundamental não é sustentável. Aproxima-se o momento em que a decisão será tirada das mãos dos políticos em Atenas. Os prazos financeiros estão acabando. O resultado da recente eleição (e a perspectiva de outra votação inconclusiva em junho) sugere fortemente que a Grécia se dirige a passos largos ao redemoinho de um calote caótico.
Os grandes perdedores da eleição foram os partidos que dominaram, e corromperam, a política grega nas últimas décadas: o Nova Democracia, de centro-direita, e o socialista Pasok, de centro-esquerda. Partidos menores de oposição, desde os comunistas até os neonazistas do partido Aurora Dourado viram sua base de apoio crescer. O grande vencedor foi o Syriza, partido esquerdista que empurrou o Pasok para o terceiro lugar. Alexis Tsipras, líder do Syriza, promete rasgar o que chamou de exigências "bárbaras" da UE e FMI.

Uma economia quebrada está agora lado a lado com um sistema político quebrado. O legado letal do velho duopólio Nova Democracia-Pasok foi uma balcanização da política que deixou a Grécia sem uma maioria de governo - seja a favor ou contra o atual rumo econômico. Algumas autoridades políticas europeias falam, com esperança, sobre um voto de protesto - um grito de angústia que será seguido por uma volta ao "establishment", à medida que os gregos olhem de cabeça fria para sua complicada situação. Não há nada que indique, entretanto, que a próxima eleição trará um resultado diferente.
É possível entender por que Tsipras teve tanto apoio. O Nova Democracia e o Pasok comandaram o sistema clientelista e corrupto que arruinou a economia e desfigurou a sociedade grega. Apesar das provocações vindas de Berlim e outros lugares sobre gregos se aposentando aos 50 anos ou se recusando a pagar impostos, a austeridade já cobrou um preço pesado. Os gastos públicos foram reduzidos, e as aposentadorias, cortadas em 25%. A Grécia perdeu 20% de sua produção econômica. O colchão de penas deu lugar a panos rústicos.

A revolta da opinião pública, porém, não gera respostas. A Grécia pode dizer não a Bruxelas e Berlim. Pode torcer o nariz para os burocratas do FMI. Se optar por isso, poderá se livrar do euro.
O que ela não pode fazer é fugir à pressão dos números. Dentro ou fora da zona do euro, a Grécia não pode evitar o gigantesco ajuste necessário para reparar suas finanças públicas e restabelecer sua competitividade internacional. Simplesmente dar baixa contábil em suas dívidas e resgatar o dracma levará ao colapso da economia.

Os políticos gregos podem estar apostando que os credores do país estão blefando; que, por mais que insistam no contrário, a UE e o FMI não podem se permitir um calote descontrolado na Grécia. Os mais recentes colapsos do sistema bancário espanhol são um lembrete oportuno dos perigos do contágio para a periferia da zona do euro. A blindagem da moeda única ainda está feita somente pela metade. Será que a Alemanha de Angela Merkel assumiria o risco de uma saída da Grécia que poderia anunciar o esfacelamento da zona do euro?

Há, de fato, um argumento importante a ser brandido sobre o equilíbrio entre austeridade e solidariedade na zona do euro. Há a poderoso raciocínio a ser defendido de que a Alemanha exigiu demais, e cedo demais, das economias periféricas da moeda única. A contenção fiscal está se tornando um tiro no pé. Mesmo em Berlim há hoje sugestões de que membros centrais do euro deveriam fazer uma contribuição para restabelecer o crescimento da economia.

Felizmente, todas essas discussões foram reabertas com a vitória de François Hollande na França. Mas a percepção que tenho de várias conversas com autoridades e políticos europeus desapaixonados é de que a Grécia estaria enganando a si mesma se imaginasse que a nova retórica do crescimento lhe permitirá deixar de lado seus compromissos com a integridade fiscal e as reformas estruturais.

A paciência do restante da UE se esgotou. As negociações com as autoridades de política econômica de Atenas são marcadas pela completa ausência de confiança e pelo profundo pessimismo quanto à capacidade do Estado grego de se reformar. Há economistas que dizem que isso é para o bem: a salvação para a Grécia está em sair do euro. A grande desvalorização que deverá se seguir a um retorno ao dracma restabelecerá a competitividade do país. O erro é imaginar que a desvalorização será indolor. Será, em vez disso, uma forma alternativa de reduzir o padrão de vida interno. Quanto ao calote desordenado, as consequências seriam a implosão do sistema bancário do país e o fim do acesso ao crédito internacional.
Todos os caminhos levam à austeridade. Para a Grécia, no entanto, há mais aspectos em jogo do que apenas a economia. A tragédia de sua filiação à UE foi sua incapacidade de desafiar a geografia e redefinir-se como um país europeu moderno. Agora é difícil imaginar como a Grécia poderá permanecer no bloco da moeda única. Mas será que ela vai querer voltar aos Bálcãs?

UND

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