Catalunha vai a votos para preparar independência - Noticia Final

Ultimas Notícias

Post Top Ad

Responsive Ads Here

Post Top Ad

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Catalunha vai a votos para preparar independência

No dia 11, cerca de 20% da população da Catalunha saiu às ruas para pedir a independência.

O governo regional da Catalunha desafiou ontem o governo central de Madrid, ao convocar eleições antecipadas para legitimar uma possível secessão da Espanha.

Confrontado com grandes manifestações populares em favor da independência, e ainda com a recusa férrea do primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, em aceitar um pacto fiscal que permitisse à Catalunha gerir as receitas dos impostos angariados no seu território, o presidente de centro-direita do governo regional, Artur Mas, deu ontem o primeiro passo para a independência. Ao falar perante o Parlamento regional, Mas marcou eleições para o dia 25 de Novembro, de modo a conseguir um governo com legitimidade para realizar um referendo sobre a autodeterminação.

"Como querem que não hajam eleições depois do 11 de Setembro? [data em que 1,5 milhões de catalães desceram às ruas a pedir a independência]", questionou o governante.

Para Artur Mas, "se o país deve iniciar um processo de grande complexidade, é necessário o aval das urnas", sublinhando que o novo parlamento "vai ter a missão mais complexa dos últimos 300 anos", alusão ao facto da Catalunha ter perdido a soberania em 1714. Para os analistas, a decisão de Barcelona é motivada pelo facto dos impostos pagos pela Catalunha, uma das regiões mais ricas de Espanha, serem usados por Madrid para financiar as regiões mais pobres do país em vez de combater a crise econômica local, onde o desemprego atinge os 20%.

Econômico Sapo

A Espanha, a crise e a síndrome da Catalunha

A Espanha não é a Espanha: os portugueses, seus vizinhos e dela súditos por algum tempo, referem-se ao resto da Península como as Espanhas. Ainda que o nome do país venha do tempo em que ainda o ocupavam os cartagineses, nunca houve no território unidade cultural e política, a não ser pela força. A Espanha é um mau arranjo histórico. Até onde vai o conhecimento do passado, o povo que a ocupa há mais tempo é o basco. O orgulhoso nacionalismo basco proclama que sua gente sempre esteve ali, como se houvesse brotado do chão, mas a antropologia histórica contesta a hipótese. De algum lugar vieram os bascos, provavelmente da África, como os demais europeus.

" Os catalães não se consideram espanhóis, como tampouco assim se consideram os bascos, os galegos, os asturianos e os andaluzes "

A Espanha foi ocupada por todos os povos do Mediterrâneo, e alguns deles nela estabeleceram colônias que mantiveram, durante todos os séculos, sua identidade primordial. É esse o caso dos catalães. Colônia fenícia, em seu tempo, a Catalunha vem lutando, desde o século 17, para recuperar sua independência. Um dos episódios mais fortes desse movimento foi a Guerra Civil de 1640. Iniciada por camponeses (a rebelião dos segadores), ela se tornou movimento de independência nacional só derrotado doze anos mais tarde. Os catalães não se consideram “espanhóis”, como tampouco assim se consideram os bascos, os galegos, os asturianos e os andaluzes. O predomínio de Castela, depois de sua união com o reino de Aragão, no fim do século 15, tem sido frequentemente contestado.

Mais recentemente, em 1913, os catalães obtiveram seu primeiro estatuto de autonomia, principalmente em questões orçamentárias, mas essa concessão lhes foi revogada pela Ditadura de Primo de Rivera, em 1925. Em 1931, com a vitória da esquerda republicana nas eleições municipais, a Catalunha se proclamou república independente, mas, em solidariedade com os republicanos do resto da Espanha, adiou sua plena autonomia, diante das dificuldades políticas que levariam à Guerra Civil de 1936.

Com a vitória de Franco, a repressão aos movimentos de autonomia, particularmente os da Catalunha e dos Países Bascos, foi de aterrorizadora brutalidade.

O momento é propício para a reivindicação dos catalães. A Espanha entrou em uma crise econômica de difícil saída, por ter — fosse com os conservadores, fosse com os socialistas de faz de conta — privilegiado o grande capital, que preferiu investir na América Latina a promover o desenvolvimento do próprio país e a criação de empregos.

A razão era a normal do capitalismo: os lucros em nossos países são maiores, porque os salários e as obrigações trabalhistas são menores. Ao mesmo tempo, sem o controle sobre a remessa de lucros, o nosso continente é-lhes o paraíso. Mesmo assim, a arrogante Espanha, por ter promovido a desigualdade social e malgastado os recursos obtidos da União Europeia, ao serviço dos banqueiros, encontra-se hoje de chapéu na mão diante da ainda mais arrogante Ângela Merkel, que comanda, hoje, o FMI e o Banco Central Europeu.

A situação internacional, sendo instável, particularmente na Europa, coloca os espanhóis na defensiva e acelera o movimento centrífugo, já antigo. Há, mesmo, uma tendência para que a união dos estados europeus seja substituída por uma “união de povos europeus”. Pensadores bascos têm insistido nesta tese.

Ontem, o líder do PSOE, Alfredo Perez Rubalcaba, propôs uma solução inteligente para resolver não só o caso da Catalunha como o de todas as outras nacionalidades que orbitam em torno de Madri: a construção de um estado federativo.

Os conservadores levantaram-se contra e é esperada uma manifestação dura do rei, e com sua própria razão: no caso da Espanha será difícil uma federação sem república, e a monarquia dos Bourbon começa a claudicar, com a desmoralização da família real, metida em escândalos e em desvio de recursos públicos.

"Será difícil uma federação sem república, e a monarquia dos Bourbon começa a claudicar, com a desmoralização da família real "

Não obstante essa presumível reação, será o melhor caminho: uma reforma constitucional negociada — e rapidamente, tendo em vista a situação geral do país e da Europa — para que as atuais “autonomias regionais” se convertam em unidades federadas, com o máximo de soberania nacional em um estado republicano. Tanto quanto a autonomia administrativa e financeira, esses povos reclamam respeito à sua cultura e à sua dignidade histórica.

Enquanto isso, o Parlamento da Catalunha caminha para realizar a histórica consulta ao seu povo — se deseja, ou não, tornar-se uma nação independente. Se a Catalunha disser “sim”, será difícil à Espanha repetir, hoje, o que fez Filipe IV, da Espanha, e subjugar militarmente os catalães — sem que haja uma comoção europeia. Os tempos são outros, embora se pareçam muito aos anos 30 — os de Franco, Hitler e Mussolini.

Jornal do Brasil


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Post Top Ad