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segunda-feira, 26 de novembro de 2012

O Egito se agita ante um novo faraó

Mohamed Mursi discursa em 23/11/2012 (Cairo-Egito)

É virtualmente impossível capturar, em imagens, o tumulto de uma revolução – especialmente a revolução no Egito, que prossegue, sem final à vista. Está em curso outra revolução dentro da revolução.

Os cinegrafistas chineses capturaram visuais fantásticos, com as margens do Nilo outra vez agitadas pelas ininterruptas paixões humanas. Veja álbum de fotos da rede Xinhua.

O Egito se agita. O país está rachando. A esquerda, virou direita. A Fraternidade Muçulmana, o azarão vencedor, tornou-se establishment. E uma Nova Esquerda apareceu, incluindo, paradoxalmente, os centristas, liberais, secularistas e esquerdistas de estilo ocidental – todo mundo, de fato; exceto os islamistas.

Aparentemente, a questão é o movimento autoritário que, pelo que se diz, marcaria o recente decreto assinado pelo presidente Mohamed Mursi, que o torna imune à corte constitucional, no momento em que o Egito está às vésperas de dar o importante passo de redigir uma nova constituição. O grande medo é que os islamistas estejam empurrando a maioria silenciosa para o total alinhamento.

Mohamed El Baradei

É perigo real. Até um liberal como Mohammed El Baradei já chamou Mursi de “um novo faraó”. Mas Mursi não dá sinais de remorso. É raposa esperta, que já conjurou os militares e os vestígios remanescentes da era Mubarak, essa semana, no desempenho que teve na questão de Gaza, demonstrando a Washington que pode servir aos interesses ocidentais na região, com mais efetividade e mais credibilidade que qualquer outro, no Egito.

Mursi converteu o conflito de Gaza em jogo de xadrez político-diplomático de primeira classe. Alcançou acordo que traz alívio aos EUA e a Israel. Mas enquanto o ferro ainda está quente, age também para consolidar-se no poder, quando assinou o catastrófico decreto, calculando que, hoje, nada tenha a temer dos militares pró-EUA e do aparelho de segurança.

Para o governo Barack Obama, Mursi tornou-se presente caído do céu: é voz legítima, democraticamente eleito, preparado para subservir a agenda dos EUA. E, além do mais, é islamista. O exemplo de Mursi como colaborador encoberto encoraja Washington a ajudar os Irmãos da Fraternidade Muçulmana a assumir o comando também na Síria – e na Jordânia, Inshah Allah.

Mursi, de fato, trabalhou excepcionalmente bem. Conseguiu até o pacote de resgate do FMI, de $4,2 bilhões, para a economia egípcia – com os cumprimentos de Obama, claro. E tem também o presentinho de $2 bilhões de dólares de cada lado, do Qatar e da Turquia. Só os sauditas mantêm-se a uma distância suspeitosa.

Mas, para consolidar-se, Mursi tem de, antes, livrar-se do desafio barulhento da Nova Esquerda. Como fará, ainda falta ver. Haverá sangue em suas mãos, no final de tudo?

Tudo isso gera tempos de alta ansiedade também para o governo Obama. Obama precisa saber logo, mais uma vez, qual é “o lado certo da história” no Egito. Mursi é grande dádiva – preciosa demais para deixar escapar. Por outro lado, se Mursi vencer decisivamente o round em curso da revolução dentro da revolução na Praça Tahrir, o islamismo estará incontivelmente em marcha na região.

A ironia disso tudo é que Mursi, nesse caso, terá esmagado irreparavelmente todo o eleitorado que se esperaria que fossem os “aliados naturais” dos EUA – os liberais, os centristas, os secularistas, etc.

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MK Bhadrakumar* foi diplomata de carreira do Serviço Exterior da Índia. Prestou serviços na União Soviética, Coreia do Sul, Sri Lanka, Alemanha, Afeganistão, Paquistão, Uzbequistão e Turquia. É especialistaem questões do Afeganistãoe Paquistão e escreve sobre temas de energia e segurança para várias publicações, dentre as quais The Hindu,Asia Online e Indian Punchline. É o filho mais velho de MK Kumaran (1915–1994), famoso escritor, jornalista, tradutor e militante de Kerala.

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