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terça-feira, 8 de outubro de 2013

Entenda por que o Afeganistão é estratégico

Localizado entre o sul, o oeste e o centro da Ásia, país é alvo de invasões e palco de disputas de Índia, Paquistão e Irã

Ao longo da história, a posição geográfica estratégica do Afeganistão tornou o país asiático alvo de invasões e guerras . Para entender o que é essa “posição estratégica”, basta observar um mapa da Ásia e ver que as nações que fazem fronteira com o Afeganistão são peças essenciais no quebra-cabeça geopolítico há anos.

A divisa mais extensa é com o Paquistão, que enfrenta desde sua independência (1948) um conflito com a vizinha Índia, possui armas nucleares e tem com os EUA uma conturbada aliança. Do lado ocidental está o Irã, nação teocrática, de regime fechado, inimiga declarada dos americanos.

A China, que compartilha com o Afeganistão 76 km de fronteira, emergiu como uma superpotência econômica nos últimos anos e, portanto, tem interesse em influir em uma região eventualmente estabilizada no intuito de ganhar o mercado consumidor afegão.

"O Afeganistão está localizado entre o sul, o oeste e o centro da Ásia, ou seja, entre importantes regiões econômicas e culturais. No período moderno, a rivalidade entre czaristas russos e os britânicos durante o colonialismo (século 19) afetou diretamente o Afeganistão. Depois, o legado dos poderes coloniais e a briga superpoderosa entre os EUA e a União Soviética (Guerra Fria, 1947-1991) também atingiram o país em cheio. Além disso, existe o latente confronto entre o Paquistão e a Índia", afirmou ao iG o especialista em islamismo e conflitos asiáticos Pervaiz Nazir, professor da Universidade de Cambridge, Reino Unido.

Índia x Paquistão

O conflito entre a República Islâmica do Paquistão e a República da Índia teve início após a partilha da Índia britânica, em 1947 (que deu origem aos dois países e a Bangladesh), e está centrado no controle da Caxemira, região montanhosa de maioria muçulmana que faz divisa com os dois países.

Entre 1947 e 1948, a Índia e o Paquistão travaram sua primeira guerra pela região. Sob supervisão da ONU, os dois concordaram com um cessar-fogo ao longo de uma fronteira que deixou um terço da área sob administração paquistanesa e os dois terços restantes sob controle indiano.

Em 1972, um acordo renomenou a fronteira do cessar-fogo de Linha de Controle. Apesar de a Índia, de maioria hindu, alegar que todo o Estado faz parte do país, tem indicado que aceitaria a demarcação como uma fronteira internacional com algumas possíveis modificações. Mas o Paquistão rejeita a medida com o argumento de que o chamado Vale da Caxemira, com população 95% muçulmana, ficaria com a Índia. Além disso, o movimento insurgente da Caxemira, apoiado por Islamabad, luta desde 1989 pela independência da área sob administração indiana.

O Afeganistão, geograficamente muito próximo à disputa das duas potências nucleares, contou em seus conflitos internos com interferência dos dois países, sempre assumindo lados opostos. Enquanto Nova Délhi apoiava os soviéticos durante a invasão (1979-1989), o Paquistão financiava os mujahedin (combatentes islâmicos) para expulsá-los.

Mais tarde, o Paquistão ajudou a milícia islâmica do Taleban a controlar o país, enquanto a Índia financiou a Aliança do Norte (organização político-militar das etnias afegãs) para combatê-lo.

O Afeganistão também é palco de denúncias mútuas entre os dois países. Depois da queda do Taleban, após a invasão da coalizão liderada pelos EUA em 2001, Islamabad acusou consulados abertos pela Índia nas cidades afegãs de Maza-e-Sharif, Jalalabad, Herat e Kandahar de abrigar agentes de inteligência que planejavam operações contra o Paquistão.

A Índia, por outro lado, é um dos países que acusam o serviço de inteligência paquistanês de ainda apoiar o Taleban, o que é negado pelas autoridades de Islamabad. Essa desconfiança cresceu depois de dois ataques contra a embaixada da Índia na capital afegã, Cabul, no período de 15 meses (entre julho de 2008 e outubro de 2009), que deixaram um total de 57 mortos.

A Índia tem interesses particulares no Afeganistão, pois o país é rota para as nações do centro asiático com alto potencial energético. Além disso, Nova Délhi tem feito investimentos pesados no setor no Turcomenistão, vizinho do Afeganistão. "Em uma tentativa de isolar o Paquistão, a Índia quer reforçar os laços com o Afeganistão, e vice-versa", disse Kirk Buckman, professor de Relações Internacionais da Universidade New Hampshire, nos EUA.

Irã

O Irã e o Afeganistão têm proximidades culturais, uma vez que os tajiques, segundo maior grupo étnico em território afegão, também falam farsi, enquanto os hazaras, terceiro maior grupo e localizados predominantemente no centro do país, também são xiitas.

Durante a invasão soviética, desembarcaram no país tropas da Guarda Revolucionária Islâmica para treinar grupos xiitas em uma tentativa de expandir a Revolução Islâmica do Irã de 1979. Com a queda da União Soviética (1991) e a retirada de seus soldados do país asiático, Teerã apoiou as etnias tajique e hazara ligadas à Aliança do Norte para tentar impedir a ascendência do sunita Taleban.

No entanto, em 1996, o Taleban passou a controlar boa parte do território afegão, complicando as relações bilaterais até então amigáveis. O auge da tensão aconteceu em 1998, quando o Taleban invadiu o consulado iraniano em Mazar-e-Sharif, matando um grupo de diplomatas. Em resposta, Teerã posicionou soldados em suas fronteiras.

Depois da invasão pós- 11 de Setembro , que culminou com a deposição do Taleban (que dava abrigo à rede terrorista Al-Qaeda), o Irã voltou a marcar presença no território afegão, construindo até uma ferrovia para ligar os dois países. Por causa do impacto interno do grave problema da produção de ópio no Afeganistão, o Irã tolerou a presença americana no país, facilitou programas de combate às drogas e também reconheceu o governo de Hamid Karzai.

Esse breve momento de indulgência em relação à presença ocidental, porém, chegou ao fim quando, em 2002, o então presidente americano George W. Bush (2001-2009) colocou o Irã em seu "eixo do mal", ao lado do Iraque e Coreia do Norte.

Para alguns especialistas ouvidos pelo centro de estudos americanos Council Foreign Relations (CFR), desde então o Irã começou a apoiar a militância islâmica, primeiro no Iraque (invadido pelos EUA em 2003) e posteriomente no Afeganistão. Apesar de parecer contraditório, tendo em vista que o Taleban é sunita e o Irã, xiita, o apoio ao grupo insurgente desestabiliza o Afeganistão e, consequentemente, a missão militar dos EUA no país.

Divisões frágeis

Os 2,4 mil km de fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão são palco de históricos conflitos, e a pacificação da região , segundo os EUA, depende da vitória sobre o caos provocado pelas disputas tribais dos dois países.

Cabul nunca reconheceu as divisões fronteiriças e reivindica áreas da etnia pashtun, localizadas no Território Federal das Áreas Tribais e partes do norte paquistanês. "Há um forte laço entre os dois países que é a identidade comum entre as populações muçulmanas afegãs e paquistaneses. Além disso, a população afegã é predominantemente pashtun (40%) e há também um significativo número de pashtuns na região noroeste do Paquistão", disse Buckman, da New Hampshire.

A etnia balúchi também vive em ambos os lados da fronteira. Essa presença tribal nos dois países mostra o quão frágeis são as divisões impostas pela mentalidade colonialista do século 19, que não respeitaram as diferenças étnicas, dispondo no mesmo território povos com diferentes costumes e dialetos e separando outros com profunda identidade histórica. A fragilidade na fronteira é tamanha que circulam com tranquilidade criminosos, traficantes de drogas e de armas pela região.

Após os atentados do 11 de Setembro e o início da Guerra no Afeganistão, o Paquistão se aliou aos EUA e declarou oposição aos grupos que antes tinha fortalecido durante a invasão soviética, como o Taleban, em contraponto à Índia.

As autoridades americanas, afegãs e indianas, porém, deixam claro que suspeitam que essa oposição aos grupos militantes limita-se ao discurso. De acordo com essas denúncias, a escalada da violência no Afeganistão tem como uma de suas causas o apoio implícito dado pelo serviço de inteligência paquistanês (ISI) ao Taleban e à sua aliada rede Haqqani , cuja base fica no Paquistão.

Essas suspeitas fizeram com que Washington invadisse o Paquistão em maio de 2011, desrespeitando sua soberania, para garantir o sucesso da operação Geronimo em que o líder da Al-Qaeda, Osama bin Laden, foi morto. Na época, os EUA justificaram a medida afirmando que era necessária para evitar que bin Laden fosse avisado e pudesse fugir.

Caçado desde antes dos ataques do 11 de Setembro, bin Laden estava escondido em uma casa na cidade paquistanesa de Abbottabad , a apenas 64 km de Islamabad e ao lado de uma academia militar.

Desde então, a relação dos dois países está estremecida e piorou ainda mais quando, em 22 de setembro de 2011, o chefe do Estado-Maior Conjunto americano, almirante Mike Mullen, acusou a ISI de apoiar o grupo Haqqani no planejamento e condução do ataque lançado nove dias antes contra a Embaixada dos EUA em Cabul .

A há também uma acusação feita contra o ISI está relacionada ao assassinato de Burhanuddin Rabbani , ex-presidente afegão e mediador para a paz. Em 20 de setembro, um homem que se apresentou como mensageiro do Taleban explodiu uma bomba escondida no seu turbante ao cumprimentar Rabbani em sua residência, em Cabul.

Segundo autoridades afegãs, o resultado das investigações confirmaram que o terrorista era paquistanês e que o atentado foi planejado em Quetta. O ministro do Interior afegão garantiu que os agentes da ISI tinham envolvimento na trama, o que foi negado veementemente por Islamabad.

O Taleban não reivindicou o atentado na época, mas a possibilidade de ter sua autoria é quase certa, uma vez que, além de representar o governo Karzai, Rabbani era um tajique e fez parte da Aliança do Norte, inimiga do Taleban pashtun desde o período pós-ocupação soviética.

Defesa Net

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