Exigência tripla mina acordo com Irã - Noticia Final

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terça-feira, 8 de outubro de 2013

Exigência tripla mina acordo com Irã

Washington - Se há uma coisa que vem deixando os parlamentares republicanos quase tão indignados quanto a lei de reforma da saúde do presidente Obama é a República Islâmica do Irã. Assim, se o Congresso é capaz de paralisar o governo dos EUA em função da reforma da saúde, o que não poderia fazer para bloquear um potencial acordo nuclear com Teerã?

Não é uma pergunta fantasiosa. Hasan Rowhani, o novo presidente iraniano, é uma voz de bom senso que reflete o desejo da maioria dos iranianos de emergir do status de pária e reatar os laços do país com o Ocidente. A conversa entre ele e o presidente Obama, a primeira nesse nível ocorrida entre Irã e EUA em mais de três décadas, foi importante.

Mas para conseguir um acordo com o Irã, mesmo um acordo limitado que imponha um teto ao enriquecimento de urânio e levante as sanções, será preciso que Rowhani conquiste a adesão do aiatolá Ali Khamenei, o líder supremo do Irã, que Obama convença o Congresso, que impôs algumas das sanções, e que todos conquistem a adesão de Israel. É uma exigência tripla que será muito difícil satisfazer.

A eleição de Rowhani demonstrou que a corrente reformista no Irã, esmagada brutalmente pela ordem conservadora em 2009, reflete a vontade da maioria. O novo presidente vem lançando todos os sinais corretos. Ele declarou, com certa dose de hipérbole, que "o Irã não representa ameaça alguma ao mundo ou à região", abraçou a moderação e pediu negociações sobre o programa nuclear iraniano.

Sendo eu alguém que argumenta há muito tempo que o engajamento com o Irã é essencial e que o atrito entre EUA e Irã virou uma anomalia desnecessária, aplaudo a abertura promovida por Rowhani. Obama, cujo desejo avassalador de evitar outra guerra dos EUA num país muçulmano ficou mais evidente que nunca com sua hesitação em relação à Síria, reagiu com interesse apropriado, ao mesmo tempo insistindo que qualquer compromisso assumido pelo Irã seja submetido "aos mais altos padrões de verificação". Os termos amplos de um acordo possível são fartamente conhecidos: envolvem a inspeção internacional intensa de um programa nuclear altamente limitado e voltado a finalidades comprovadamente pacíficas. Mesmo assim, ainda resta muita confusão.

O programa nuclear, que vem sendo implementado há décadas, já fez muitas coisas, mas produzir uma arma ou uma quantidade importante de eletricidade não fazem parte delas. Se o Paquistão foi capaz de chegar do zero até uma bomba em menos de uma década, qual foi o objetivo real do programa iraniano? Ele tem sido uma declaração de posição política, a expressão máxima da rejeição iraniana da tutela americana, afirmação de orgulho tecnológico e proclamação de independência.

Em outras palavras, se a questão nuclear é realmente, no fundo, uma questão de inimizade política entre EUA e Irã, um acordo nuclear técnico e limitado, mesmo que possa ser alcançado, não irá muito longe. É difícil imaginar que muita coisa será resolvida com um acordo que limite o enriquecimento de urânio a 5% e permita inspeções mais rígidas, se o governo iraniano ainda estiver trabalhando com afinco, por meio da Guarda Revolucionária, do Hizbullah e de outras armas de seu aparato de segurança, para atacar interesses americanos e se cientistas iranianos continuarem a ser mortos nas ruas de Teerã.

Isso nos conduz ao primeiro elemento daquela árdua exigência tripla: Khamenei tem uma decisão política muito difícil pela frente. Ao longo das décadas, ele consolidou seu poder em torno da ideia do "Grande Satã". "Morte à América" ainda é uma palavra de ordem repetida ritualmente nas orações de sexta em todo o país. É preciso questionar a disposição do líder supremo de desmontar agora esse pilar antiamericano da ordem revolucionária.

Os americanos não repetem ritualmente "morte ao Irã". Mas o radicalismo islâmico penetrou na consciência do grande público com a crise dos reféns americanos em 1979. O investimento do Congresso na ideia do Irã como fonte de grande mal é considerável, reforçado nos últimos anos pelas diatribes anti-Israel do presidente iraniano anterior, Mahmoud Ahmadinejad. Obama terá muita dificuldade em mudar essa visão no Capitólio. Logo, o segundo elemento da exigência tripla também é difícil.

E há Israel. O país vem definindo "linhas vermelhas" para o programa nuclear do Irã há mais de dez anos. O primeiro-ministro Binyamin Netanyahu vem trabalhando incansavelmente para colocar a questão do Irã no primeiro lugar da agenda. Israel não aceitou ainda a ideia de enriquecimento limitado de urânio pelo Irã, um componente-chave de qualquer acordo possível. Haverá problemas enormes para conseguir a adesão de Israel a um acordo nuclear.

Isso será difícil também porque qualquer acordo que seja significativo terá também que ser um acordo político. Terá que trazer algum avanço nas relações entre EUA e Irã. Isso, por sua vez, inevitavelmente modificaria de modo importante a equação estratégica no Oriente Médio.

Israel desconfiaria de um Irã que não fosse inimigo dos EUA, mesmo que não se tornasse seu aliado. Deixando de lado qualquer outra consideração, não haveria nada evidente para desviar a atenção do dilema fundamental de Israel: a Palestina.

NYT e Folha de S.Paulo

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