Europeus vendem armas para Rússia mas condenam ocupação na Ucrânia - Noticia Final

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domingo, 22 de junho de 2014

Europeus vendem armas para Rússia mas condenam ocupação na Ucrânia

Moscou — Imersa em uma crise de consciência desde que a Rússia se implantou militarmente em solo ucraniano, as nações europeias lutam para equilibrar considerações econômicas e políticas. A França deve convidar este mês 400 marinheiros russos para treinar em um novo navio que um almirante do país disse certa vez que teria permitido a seu governo derrotar a vizinha Geórgia, na guerra de 2008, em “40 minutos em vez de 26 horas”.

Líderes franceses se recusaram a cancelar a venda de dois porta-helicópteros da classe Mistral que custaram US$ 1,7 bilhão — capazes de transportar 16 helicópteros de ataque, dezenas de tanques e 700 soldados — apesar dos recentes ataques da Rússia, incluindo a anexação da Península da Crimeia, em março. Manter a venda gerou condenação dos aliados, incluindo os Estados Unidos e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), que dizem que o fornecimento de equipamentos militares à Rússia com uma mão, enquanto condena suas ações militares com a outra, é claramente contraditória.

O acordo Mistral e outros carregamentos de armas demonstram a dificuldade de pressionar o governo de Vladimir Putin, mesmo num momento em que as tensões entre o Ocidente e a Rússia estão no seu pior nível desde a Guerra Fria. Os líderes europeus têm procurado proteger suas indústrias de defesa, mesmo quando condenam as autoridades russas sobre a anexação Crimeia.

— Estamos executando o contrato em conformidade legal, pois não estamos nesse nível de sanções — disse o presidente francês, François Hollande, a repórteres este mês, acrescentando que, se as sanções mudarem, “a França pode reter o envio dos navios”.

Já o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, não concorda com Hollande:

— Eu expresso algumas preocupações, e não acho que eu estou sozinho. Eu acho que teria sido preferível apertar o botão de pausa.

Ainda assim, nenhuma nação se mostrou disposta a ajudar a França e evitar que o país arque sozinho com o ônus financeiro de qualquer cancelamento. Isso demonstra a dificuldade do Ocidente de encontrar uma resposta unificada para as ações da Rússia na Ucrânia, segundo analistas.

DE OLHO NA TECNOLOGIA EUROPEIA

Apenas alguns anos atrás, a Rússia não costumava comprar equipamentos militares feitos fora do bloco soviético. Ainda hoje, a Rússia continua a ser um grande exportador de armas. Mas depois da guerra com a vizinha Geórgia, em 2008, os principais líderes repensaram seus velhos hábitos. Embora a Rússia tenha prevalecido no conflito, seus soldados se mostraram mal equipados e desorganizados, lutando com armamento da era soviética que falhou em numerosas ocasiões. Assim, os líderes russos se voltaram para o Ocidente para aumentar a sua capacidade militar.

— Os russos descobriram que seus equipamentos não faziam mais jus às suas expectativas — disse Pieter Wezeman, pesquisador do Instituto Internacional de Estocolmo de Pesquisa da Paz (SIPRI), que acompanha as transferências de armas. — Os russos, então, começaram a comprar não apenas sistemas completos de armas, mas também de tecnologia.

Eles encontraram um continente que estava ansioso para vender. A crise financeira global de 2008 e subsequentes lutas econômicas da Europa fizeram com que mudassem políticas para aumentar as chances de empregos e exportações.

Embora números precisos sejam mantidos em segredo e difíceis de compilar, a França foi o parceiro comercial mais entusiasmado, dizem analistas. Alemanha, Itália e República Tcheca também estiveram envolvidos na venda de equipamentos para a Rússia nos últimos anos, de acordo com dados do SIPRI. Os contratos envolvem aeronaves, veículos blindados e material de comunicação.

Entregas francesas de armas e equipamentos de defesa para a Rússia triplicaram de valor entre 2009 e 2010, e em seguida, continuaram a aumentar, segundo relatórios de parlamentares franceses. Em 2011, o acordo Mistral — do qual mais de mil postos de trabalho dependem — era uma ordem de grande magnitude.

O presidente russo, Vladimir Putin, disse este mês que se a França seguir com o acordo dos navios, mais pedidos virão em breve. Uma proposta atraente para Hollande, que enfrenta uma economia estagnada.

— Se tudo correr como está no contrato, não descarto a possibilidade de novas encomendas, e não necessariamente na construção naval. Podemos considerar outros setores também — disse Putin a jornalistas franceses em uma viagem à Normandia este mês. — Em geral, as nossas relações neste domínio estão se desenvolvendo bem, e nós gostaríamos de continuar assim, na aviação, construção naval e outros setores.

Os dois porta-helicópteros Mistral oferecem novas capacidades para a Marinha russa, dizem analistas. O primeiro navio, Vladivostok, será entregue no outono.

— O Mistral traz um novo conceito, uma nova filosofia de guerra marítima — disse Alexander Golts, um dos maiores especialistas de defesa russa.

A Rússia também comprou 60 veículos blindados da Itália, de acordo com números do SIPRI, juntamente com novos produtos eletrônicos e sistemas de rádio, para atualizar aeronaves militares.

Um centro de treinamento militar de alta tecnologia, de US$ 163 milhões, construído na Rússia, pela empresa de defesa alemã Rheinmetall, estava quase pronto, quando o ministro da Economia da Alemanha, Sigmar Gabriel, parou o projeto, no final de março, citando a situação na Crimeia. Ainda não é claro se o trabalho será retomado.

As exportações da Europa têm sido fundamental para modernizar os equipamentos militares da Rússia, disse Igor Sutyagin, um especialista militar, no Royal United Services Institute, sediada em Londres.

— É muito difícil construir qualquer sistema moderno sem o uso de peças ocidentais — disse Sutyagin.

A Rússia está interessada em eletrônica ocidental, computação e sistemas de comando e controle, disse ele.

— A eletrônica russa ainda é muito atrasada comparada com a do Ocidente, e ela é muito, muito importante.

Ele acrescentou que os sistemas de comunicação do Mistral serão particularmente úteis para a Rússia, uma vez que podem ser estudados e recriados em outro lugar.

Na França, onde o governo do presidente Nicolas Sarkozy assinou o acordo em 2011, Hollande continua com a venda sem grande problemas internos com a oposição.

— A questão é monetária, em primeiro lugar. Mas também é de reputação — disse Etienne de Durand, diretor de estudos de segurança no Instituto Francês de Relações Internacionais.

— É meio difícil quando você está no ramo de defesa cancelar qualquer tipo de venda.

FONTE: O Globo/Defesa Aérea & Naval

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