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quinta-feira, 24 de julho de 2014

Alemanha e EUA: distanciamento sem precedentes

Angela Merkel e Barack Obama, 4/7/2014 (G7)
Dia 10/7/2014, o governo alemão exigiu a imediata saída do país do chefe da missão da CIA-EUA em Berlim. Não é exigência absolutamente inusual, mesmo entre aliados ostensivos. Inusual é que a expulsão tenha sido anunciada publicamente com barulho máximo. O que explicará o que para alguns já é “um distanciamento sem precedentes” nas relações entre EUA e a República Federal Alemã Federal, sempre muito próximas desde 1945?

Em apenas um dia o assunto apareceu em dois espaços importantes: num editorial do Los Angeles Times e em reportagem da revista alemã Der Spiegel. Os dois artigos são pessimistas quanto à possibilidade de o tal distanciamento poder ser “reparado” rapidamente, se é que será possível alguma reparação.

O editorial do Los Angeles Times, escrito por Jacob Heilbrun, leva o título deA ruptura germano-estadounidense. A palavra “ruptura” é inequívoca. Ou quase. Depois de fazer um panorama de vários comentários alemães, Heilbrun finaliza com uma nota de alerta:

Se Obama não conseguir controlar a espionagem contra aAlemanha, logo descobrirá que seus espiões estão ajudando a converter um aliado em adversário. Obama, se disser auf wiedersehen [adeus] a aliado de tantos anos, estará aplicando tal golpe contra a segurança nacional, que quantidade alguma de informação secreta conseguirá jamais justificar.

Angela Merkel...
Se Heilbrun já parece ter bem pouca esperança de que seu ponto de vista seja levado em consideração em Washington, ainda pior é o que se lê namatéria de fundo de Der Spiegel da mesma data. É texto longo e leva o título de “Quem a Alemanha escolherá: EUA ou Rússia?” Um dos subtítulos da matéria é “A gota que fez transbordar o copo” (ing. The Last Straw). A opinião citada não é de alguém da “esquerda” ou que tivesse trabalhado a favor de relações mais próximas com a Rússia. A fonte é, bem diferente disso, um típico promotor da economia de livre mercado, conservador e pilar de sustentação das relações com os EUA, presidente de uma organização chamada “Ponte Atlântica”. Em tom de desespero, diz:

Se for verdade o que se ouve sobre espionagem, tem de parar imediatamente.

A fonte é bem clara: não fala de iniciar discussões e negociações para “reduzir” a espionagem. Fala de “parar” e de “parar imediatamente”.

Há ainda alguns detalhes que têm de interessantes o que têm de incômodos para os EUA: o embaixador dos EUA na Alemanha não fala alemão. O embaixador russo, por sua vez, é falante tão competente do alemão, que praticamente não se percebe o sotaque. A entrada do gabinete do embaixador dos EUA é cercada de mais segurança do que a se vê no Salão Oval da Casa Branca. A entrada da embaixada russa é tão fácil e desimpedida que até surpreende.

O distanciamento em que se veem hoje EUA e Alemanha será mesmo sem precedente, repetitivo e imprevisível? Por hora, todos os jornais importantes e menores na Alemanha, EUA, França, Grã-Bretanha e outros países estão publicando comentários, analisando causas e tentando prever desdobramentos. De modo geral, todos os comentaristas procuram alguém a quem atribuir responsabilidades. Os suspeitos de sempre são a Agência de Segurança Nacional dos EUA e o presidente Obama. Mas será só isso, ou serão só esses os culpados?

Em outras palavras: as coisas poderiam ser diferentes? Poderiam, com certeza, nos detalhes. O governo dos EUA agiu de modo torpe, estúpido, sem dúvida. Mas o problema é estrutural. Não se trata só de erros conjunturais ou da estupidez de que esteja no poder nos EUA.

Vladimir Putin explica...
O problema básico é que os EUA estão, já há algum tempo, em rota de decadência geopolítica. A coisa não agrada aos EUA. De fato, os EUA não “aceitam” essa realidade, não sabem como lidar com ela e tendem sempre a minimizar o que os EUA estão perdendo. Assim, tentam restaurar o que já é irrestaurável: a “liderança” norte-americana (leia-se: a hegemonia) dos EUA no sistema−mundo. E isso faz dos EUA ator muito perigoso. Não é pequeno o número de agentes políticos nos EUA que têm clamado por alguma espécie de “ação” decisiva – seja lá o que isso signifique. E as eleições nos EUA podem depender, em grande parte, de como os atores políticos norte-americanos jogam esse jogo.

Contra isso, precisamente, é que líderes europeus em geral começam a tomar suas próprias providências preventivas. Agora, chegou a vez da chanceler Angela Merkel. Os EUA converteram-se em sócio muito pouco confiável. Por isso, mesmo os que, na Alemanha e em outros países da Europa vivam ainda a nostalgia do ninho quente do “mundo livre” começam a aproximar-se dos menos nostálgicos e cuidam de encontrar meios para sobreviver geopoliticamente sem os Estados Unidos. ISSO, precisamente, os está empurrando para a alternativa lógica: um teto europeu que inclua a Rússia.

E conforme alemães e europeus em general movem-se inexoravelmente nessa direção, os seus problemas mudam. Se não não podem confiar nos EUA, poderão realmente confiar na Rússia? E o mais importante: poderão chegar a algum acordo com os russos que os russos considerem importante e necessário cumprir?

Podem apostar: ISSO é o que se discute nos círculos internos do governo alemão, hoje.

Absolutamente ninguém está discutindo como reparar a brecha irreparável na confiança que afastou os alemães dos EUA.

Redecastorphoto

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