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domingo, 23 de novembro de 2014

Itália fora do Euro?

 
O que parecia impossível até pouco tempo atrás está a tornar-se uma possibilidade cada vez mais real. Os britânicos nunca viram de bom olho o circo do Euro, mas desta vez não é apenas prejuízo, é mais do que isso. Até que o diário The Guardian é muito explícito: a Itália está a dirigir-se rumo à saída.
Seria um golpe não indiferente para a moeda única: a Italia é não apenas um dos Países fundadores da União, mas é também a terceira economia em ordem de importância. O maior perigo é que isso possa desencadear um efeito domino, de modo que outros Países sigam o exemplo. Bruxelas tem consciência do problema: até quando a Zona Euro mantiver uma aparência compacta, há a esperança de que o projecto possa continuar, mas uma vez começado a perder "peças" tudo ficaria extremamente difícil  
O problema é a insatisfação dos Italianos.

 O Produto Interno Bruto é quase 10% inferior quando comparado com os dados de antes a crise financeira e todos os esforços para reanimar a economia falharam, sobretudo porque acompanhados pela receita de austeridade imposta pela Alemanha.
Houve um tempo em que a classe média italiana recusava até a ideia duma saída do Euro. Mas agora as coisas têm mudado: o Movimento Cinco Estrelas (segundo partido nas últimas eleições) quer a saída e o mesmo acontece com a Lega Nord (6.15% nas eleições) e Alleanza Nazionale (3.67%).

O que virou os sentimentos foram sobretudo as promessas de crescimento quebradas, a atitude de
Bruxelas e aquela do Banco Central Europeu.
Os italianos têm esperado três anos que o chefe do BCE, Mario Draghi (que é italiano) imitasse os homólogos do Banco da Inglaterra e da Federal Reserve, imprimindo dinheiro. Draghi fala sem parar de fundos bombeados nas economias para sair da crise, mas logo a seguir faz marcha atrás, tal como aconteceu na semana passada.

Todavia, nesta altura é improvável que uma eventual injecção de dinheiro possa ser eficaz. Teria tido significado até um ou dois anos atrás, agora já é tarde. A Italia, tal como outros Países europeus, precisa de desvalorizar a moeda, assim como têm feito recentemente os japoneses.
Voltar à Lira vai ser doloroso. No entanto, parece algo que os eleitores estão dispostos a enfrentar para impedir que a economia possa deslizar ainda mais para trás.

Mas, além do que afirma o Guardian, até a que ponto pode tornar-se realidade esta hipótese?
Internet neste sentido pode ajudar a entender. Há uma ampla discussão na rede italiana, e é preciso salientar que não envolve apenas cidadãos comuns mas muitos entre especialistas do sector também, como economistas (nacionais e não), jornalistas, operadores de Bolsa. Sinal significativo: o debate começa a ocupar os ecrãs televisivos. Nos últimos meses as discussões abandonaram o "se" para concentrar-se no "como", sinal de que a confiança nas instituições europeias atingiu níveis particularmente baixos.

A actuação do Primeiro Ministro, Matteo Renzi, que supostamente é homem de Esquerda (Partito Democratico, antigo Partito Comunista Italiano), piorou a situação neste sentido: uma vez experimentados governos de Centro (Monti e Letta) e de Direita (Berlusconi), é possível agora constatar que não é uma questão de medidas baseadas nas ideologias partidárias, mas que o problema reside no pano de fundo, sempre o mesmo, cujo nome é Euro.

É impossível nesta altura afirmar com absoluta certeza se e quando a Italia sairá do regime da moeda única. Todavia é bem realçar como do ponto de vista italiano o que está em jogo é mais do que a simples economia: a crise está a reforçar as tendências separatistas do Norte, nunca totalmente desaparecidas, com aquelas da Lega Nord que nas últimas sondagens alcança quase 11% das preferências. E a Lega reflecte os sentimentos das áreas mais produtivas do País, como a Lombardia e o Veneto.
É também evidente que parte da elite política italiana e as instituições europeias não estão dispostas a largar o sonho do Euro tão facilmente (nem existe um mecanismo oficial que permita a saída da Zona Euro), pelo que é inevitável prever algumas concessões no curto e médio prazo (como um Quantitative Easing à europeia, por exemplo).

Todavia, a situação atingiu níveis que requerem uma mudança de rumo ou, no mínimo, fortes correcções por parte das instituições centrais europeias. Caso contrário, a maré anti-Euro não apenas não poderá baixar mas, pelo contrário, irá recolher cada vez mais adeptos entre um eleitorado amplamente cansado das promessas.

Update: Die Welt

Tinha escapado mas aqui está: o alemão Die Welt está na mesma senda do The Guardian.
O diário alemão fala dum abandono do Euro como de "facto necessário" e de "prova secular", comparando o actual momento histórico aos vividos no início do Estado italiano (1861) e ao final da segudna Guerra Mundial (coma queda do monarquia e do Fascismo).
O tom não é simpático, como é normal que seja dada a origem do diário. Que, todavia, é obrigado a admitir: o problema não é apenas a Italia.
Em França Marine Le Pen, da Frente Nacional, tem hipótese de ganhar a próxima eleição presidencial e o seu primeiro acto será anunciar a saída da união monetária do Euro. Juntamos o mal estar da Escócia, da Catalunha... no horizonte da Zona Euro as nuvens negras não faltam e em Bruxelas ninguém parece entender onde fica o sol.
Ipse dixit.

Fontes: The Guardian, Die Welt
Gílson Sampaio

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