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domingo, 1 de março de 2015

Netanyahu vai para o tudo ou nada.


No dia 3 de março, o primeiro-ministro de Israel vai fazer o lance mais audacioso de sua carreira: desafiar o presidente dos EUA em plena Washington..

A convite do líder do Partido Republicano, ele irá discursar no Senado contra o acordo nuclear com o Irã, que o governo americano vem negociando há anos. E representa um dos pontos principais da política externa da Casa Branca.

Netanyahu deixou seu objetivo bem claro, em declarações recentes a repórteres: “É minha obrigação como primeiro-ministro de fazer tudo o que eu posso para impedir este acordo. Portanto vou a Washington, porque o Congresso americano é provavelmente o último freio antes do acordo.”

Pretender interferir na política externa dos EUA, agindo para derrotar o presidente e, ainda por cima, usando a tribuna do Senado, é passar dos limites, especialmente para um povo tão nacionalista quanto o americano.

Nos EUA e em Israel, não foram poucos os que sentiram o tamanho do problema.

O deputado israelense Yacimovich declarou: “Com sua teimosia, Netanyahu está causando prejuízo irreversível ao nosso país. Ele devia lembrar que não se trata de um reality show… ou de mais material para promoção eleitoral – mas, na verdade, do futuro do país.”

Nos EUA, defensores tradicionais das causas israelenses também são contra.

Rick Jacobs, presidente da União pela Reforma do Judaísmo, a maior organização judaica do país, chamou a visita de “má idéia.”

Para Abrahan Foxman, diretor nacional da poderosa Liga de Anti-Difamação: “Interferindo na política externa dos EUA… o primeiro- ministro cruzou a linha vermelha. Isto torna os judeus americanos muito desconfortáveis e eu penso que é irresponsável.”

Um oficial superior do estado maior das forças armadas falou ao Al Jazeera-America, em dois de fevereiro, em condição de anonimato: “Sempre houve apoio a Israel entre os militares, mas está em significativa erosão nos últimos anos. Isso (a fala no Congresso) contribui. Uma coisa é americanos criticarem seu presidente, outra coisa, inteiramente diferente, é um líder estrangeiro fazer isso.”

E o coronel reformado Richard Klass escreveu no website War on the Rocks (popular no exército) que “a intrusão” está “propositadamente sabotando a segurança dos EUA.”

O povo de Israel parece dividido: ser ou não ser pela audaciosa incursão no Senado americano?

Pesquisa da Universidade de Telaviv mostrou um empate : 46% versus 46%.

Sentindo a barra, Netanyahu atacou. Num out-door de sua campanha aparece foto de David Ben Gurion, um dos fundadores de Israel. E o texto diz que num momento de decisão, contra a posição do secretário de Estado dos EUA, Ben Gurion anunciou a criação do Estado de Israel. E pergunta: “Estaríamos aqui se Ben Gurion não tivesse feito a coisa certa?” Termina com o slogan : “Só Likud. Só Netanyahu!”

É uma meia verdade. O general George Marshall, o secretário de Estado, opunha-se de fato à criação do Estado de Israel, mas o presidente Truman era favorável e sua vontade pesou na posição final dos EUA.

Parece estranha essa exploração de anti-americanismo em Israel contra um país que lhe deu apoio militar, econômico e político essenciais à sua sobrevivência nos seus 70 anos de conflitos com os árabes e com a justiça internacional.

Na verdade, integra-se na estratégia de comunicação do governante israelense.

No mês de março, o Congresso americano deve  discutir novas sanções que destruiriam o acordo nuclear com o Irã, o qual, aliás, caminha para sua aprovação pelo P5+1 (EUA, Alemanha, Rússia, China, França e Reino Unido).

Em 17 de março, Israel vai eleger um novo parlamento. Governo e oposição estão pau a pau nas pesquisas.

Apresentar-se como um herói, capaz até de enfrentar os EUA para salvar Israel de um “holocausto nuclear”, poderia ajudar Netanyahu a ganhar votos para seu partido e a sua permanência na chefia do governo.

O que, no momento, está problemático.

Informa o Jerusalem Post, em 23 de fevereiro: de acordo com as pesquisas, na primeira semana do mês, o Likud (partido de Netanyahu) elegeria dois parlamentares a mais do que a “União Sionista” (oposição). Na semana seguinte, a vantagem caiu para um. Uma semana depois, a oposição tinha passado na frente: elegeria 24 parlamentares contra 22 do Likud.

Apostar nesse confronto com a Casa Branca para derrotar o Irã e ganhar as eleições é mesmo arriscado.

Já se sabe que a opinião pública yankee não está nada contente.

Pesquisa da CNN, publicada em 17 de fevereiro deste mês, mostra que 63% do povo condenou o convite dos republicanos ao primeiro-ministro israelense. Só 33% aprovaram.

Pegaram muito mal nos EUA a expansão de assentamentos ilegais, o massacre de Gaza, a sabotagem das negociações de paz intentadas por John Kerry e o bloqueio de Gaza.

Em todos esses acontecimentos, Obama tentou conseguir alguma boa vontade do governo de Telaviv, mas Netanyahu negou fogo.

Aos poucos, foi se formando na opinião pública americana objeções ao alinhamento automático com Israel.

Na pesquisa da CNN, 66% dos respondentes preferem que os EUA fiquem neutros nos conflitos entre israelenses e palestinos. Posição compartilhada por 75% dos respondentes com menos de 50 anos.

Em pesquisa Gallup, os jovens repeliram as últimas ações israelenses por uma maioria de 51% versus 25%.

O desafio ao presidente dos EUA, no próprio recinto do Poder Legislativo Federal, pode ser a última gota d´água num copo já quase cheio de sérias recriminações.

Como diz o site político Mondoweiss : “ o anúncio do discurso está fazendo os americanos discutirem sobre o que é do interesse dos EUA e o que é do interesse de Israel. E fazerem distinções entre estas questões.”

Obama já demonstrou estar muito irritado.

Fez questão de informar que não receberia o primeiro-ministro de Israel. Acusou os israelenses pelo vazamento de pontos secretos das negociações do acordo nuclear com o Irã. Declarou que restringiria as informações que presta a Bibi,  pois a confiança se fora. E mandou Susan Rice, sua assessora especial de Segurança, declarar a ação de Netanyahu destrutiva do tecido do relacionamento entre os países.

E a Casa Branca age para que o maior número possível de senadores democratas falte ao speech do israelense.

Já se sabe que o vice-presidente Biden, que é também presidente do Senado, não irá, além de diversos outros senadores, normalmente favoráveis de Telaviv, como os líderes Nancy Pelosi e Richard Durbin.

Para Obama, é inaceitável que o projeto de novas sanções vire lei. Ele anunciou que irá vetá-lo, mas bastariam 12 votos democratas para que, somados à totalidade dos republicanos, seu veto seja derrubado.

Aí, a vaca vai para o brejo. Desiludidos, os iranianos voltariam a operar seu projeto nuclear a todo vapor e o presidente dos EUA ficaria na pior posição. No intento de convencer parlamentares a não sancionar mais o Irã, ele tinha lembrado que, não havendo acordo, a guerra seria inevitável.

Coisa que ele não quer de modo algum fazer.

Mas como resistir ao War Party, calçado na bélica promessa presidencial?

Vencendo mais essa, Netanyahu aumenta bastante suas chances de ir para o trono.

Mesmo Obama vencendo a parada, o líder israelense pode sair bem nas urnas, pois voltará a Israel jurando que só com ele o Irã ficará sem bomba, por bem, ou por mal.

Mas Israel, de um modo ou de outro, pode ser o grande perdedor.

As comportas já se abriram e as queixas e ressentimentos contra as ações e abusos de Telaviv tendem a jorrar cada vez com mais força.

Não serão fechadas pelos bilhões dos bilionários irmãos Koch e Adelson, o magnata do cassinos de Las Vegas, nem pela pressão dos “Cristãos Sionistas”, da rede Fox e das associações judaicas.

Antes do que se imaginava, o governo Obama e os parlamentares deverão perder o medo de serem taxados de anti-Israel e começarão a agir de acordo com os direitos humanos, a justiça, as leis internacionais e os legítimos interesses dos EUA.

A conseqüência é que Israel terá de respeitar esses valores no trato com os palestinos, se quiser continuar com a ajuda dos EUA.

Não seria de uma vez que tudo isso acontecerá.

Acredito que o conflito detonado com o desafio israelense a Obama e aos EUA vai acelerar esse processo.

Que poderá ser ainda mais rápido conforme os desdobramentos na cobertura dos jornais internacionais ,no congresso nacional da AIPAC (principal agência pró-Israel), na discussão de novas sanções e nas linhas gerais do acordo nuclear, em 31 de março.

Acho que uma possível derrota de Netanyahu poderia talvez melhorar a situação.

Nesse caso, Herzog, o provável sucessor precisaria tempo para provar que Israel pode mudar.

Precisa ver, se ele conseguiria.

E se quer.

Olhar o Mundo / Gílson Sampaio

2 comentários:

  1. Fico imaginando se um democrata chamar o Fidel Castro para discursar no congresso americano o fim do bloqueio à cuba .... Hahhahaah

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  2. Fico imaginando se um democrata chamar o Fidel Castro para discursar no congresso americano o fim do bloqueio à cuba .... Hahhahaah

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