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sábado, 28 de maio de 2016

Calma antes da próxima tempestade global

In this Saturday, Jan. 23, 2016, file photo, an oil pump stands as the Saudi Hawks Aerobatic Team of the Royal Saudi Air Force performs during the Bahrain International Airshow in Sakhir, Bahrain

Traduzido por Vila Vudu

Fortes turbulências, esse parece ser o nome do jogo em 2016. Mesmo assim, a atual turbulência pode ser interpretada como a calma antes da próxima devastadora tempestade geopolítico-financeira. Examinemos o atual estado de coisas, revisando os dilemas que afligem a Casa de Saud, a União Europeia e os BRICS Rússia, Brasil e China.
Petróleo e a Casa de Saud Poucos conhecem bem o Índice Báltico Seco [ing. Baltic Dry Index], mas é índice crucial para rastrear a demanda de commodities. Há dois meses, despencara para baixas recordes em todos os tempos. Desde então, subiu mais de 130%. Todos os preços de metais preciosos subiram muito em virtualmente todas as moedas. Por que isso é importante? Porque nos informa que a fé nas moedas – especialmente no dólar norte-americano – está caindo rapidamente.

A subida no Índice Báltico acompanha o aumento na demanda por petróleo na Ásia – especialmente na China. Oferta em queda e demanda em alta por petróleo provavelmente elevarão o preço do barril na segunda metade de 2016.

Não significa que a Casa de Saud reconquistará a confiança de EUA e Rússia. Fontes profundas continuam a confirmar que, no que tenha a ver com Washington e Moscou, a Casa de Saud é descartável. Ambos os países são realmente autossuficientes em energia (os EUA aspiram a isso). Poderosas facções em Washington abertamente acusam Riad de “terror” – ok, ok, é muito mais complicado que isso –, e Moscou avalia que a Casa de Saud sempre obedece ordens dos EUA para que destruam a Rússia numa guerra de preços do petróleo.
O moribundo – tomado pela demência – rei Salman e o jovem príncipe guerreiro Mohammed estariam acabados se as tais famosas 28 páginas sobre o 11 de setembro fossem divulgadas e já não há dúvida alguma de que a conexão saudita existiu. Depois disso, vem o quê? Mudança de regime. Golpe da CIA. E agente militar saudita em que aCIA “confie” posto no trono.

A única coisa que resta à Casa de Saud é tentar ganhar tempo. Em Riad o sentimento dominante é que as relações com Washington não melhorará enquanto Obama estiver presidente; com o próximo presidente – seja Hillary ou O Donald [Trump] – o negócio será muito melhor. Assim sendo, o Plano A por hora é manter a pose de essencial a Washington na “guerra contra o terô”. Significa o rei Salman voltando-se para Mohammed bin Nayef, o príncipe coroado, muito mais dado a manter poses que o príncipe guerreiro, autor da desastrosa guerra contra o Iêmen.

Paralelamente, o sultão Erdogan da Turquia continua fazendo avançar o jogo de tomar o petróleo do Curdistão iraquiano, eventualmente desviando para si toda a oferta, para fazer a independência da Turquia em matéria de energia – e convertê-la em superpotência regional.

Acima de tudo, em termos do Oleogasodutostão, Erdogan necessita de modo absoluto do gasoduto do Qatar, que atravesse a Arábia Saudita e a Síria, para se tornar independente da energia Russa. Nisso, os EUA concordam: esse é também um dos mais altos objetivos dos EUA. O que indica que, com certeza, o processo de paz na Síria enfrentará dificuldades perenes.

Erdogan tem também, jogada aos seus pés, a superpotência alemã, na forma de uma chanceler Merkel que geme e torce as mãos e implora. Se a Turquia já estivesse mais próxima de tornar-se potência no campo da energia, Merkel se atiraria pessoalmente pelos gramados daquele palácio dourado em Ancara, em tempo integral. A CIA já chegou à mesma conclusão, ao analisar como a Turquia continuará a “expandir sua influência” no Iraque, mediante milícias mantidas pelos turcos, à custa da segurança e da unidade política do Iraque.

Em America’s War for the Greater Middle East [Guerra dos EUA pelo Oriente Médio Expandido], Andrew Bacevich examina o modo como Washington impôs que a “preponderância militar” em todo o Oriente Médio seria o objetivo estratégico de uma guerra contra a URSS – desde quando o Dr. Zbig “Grande Tabuleiro de Xadrez” Brzezinski reinava como El Supremo geopolítico. Essa guerra sempre foi pensada para não ter fim – e agora inclui o “Oriente Médio Expandido” que os neoconservadores tanto amam.

Rússia, Brasil e Guerra Híbrida

A maior bolsa de valores da Rússia está ativamente trabalhando para seduzir os corretores internacionais de compra e venda de petróleo para que se integrem ao seu emergente mercado de futuros. O objetivo não poderia ser mais claro: desconectar o mecanismo de definição do preço do petróleo do sistema Brent e, crucialmente, afastá-lo do petrodólar. Essa é também a condição chave que Pequim impôs à Casa de Saud para continuar a comprar o petróleo saudita.

Esquece-se muito facilmente que há apenas 20 anos, Moscou sonhava com integrar-se ao ocidente como boa cristã; e foi tratada como lixo. Washington via a Rússia como muito fraca; o governo de Ieltsin abriu as portas a saqueadores que devoraram a Rússia como praga de gafanhotos, fazendo o PIB russo cair 40%, com eles saqueando recursos naturais da Rússia e roubando de lá pelo menos 1 trilhão em dólares norte-americanos.

Hoje, o Excepcionalistão continua a requentar todos e quaisquer truques do manual para destruir ou, no mínimo, enfraquecer a Rússia com “Maidan” na Ucrânia, guerra de preços do petróleo, ataques ao rublo, oleogasodutos sírios. Arce a guerra híbrida, não convencional – e tudo isso, doravante, só ficará mais e mais sujo e violento. Os BRICS, como grupo, estão sendo atacados e sitiados. A revolução colorida, cujo objetivo é forçar a troca de regime por via soft, é só o primeiro estágio de uma nova e sofisticada estratégia de Guerra Híbrida, que será estudada nas academias por décadas e décadas futuras.

Com a demanda por petróleo aumentando, e a oferta em contração, os serviçais da Guerra Híbrida em todo o espectro terão de criar uma recessão, para não deixar que o caos perca ímpeto. Um dos cenários possíveis é deixar que o periclitante sistema bancário italiano desabe. E essa é a próxima fronteira a ser atacada na União Europeia.

A Europa Morta Viva, enquanto isso, subcontratou e/ou apenas deixou ver uma política de repressão aos refugiados, e assim desencadeou o maior programa de deportação em massa desde a 2ª Guerra Mundial, serviço completo, com campos de concentração pagos pelos contribuintes europeus e gerenciados pelo Grande Democrata Erdogan. O elo que faltava agora está aí, à vista: tudo acontece sob controle de think-tanks mantidos pela OTAN.
Por assustador que seja, nada disso é novidade. Tudo já estava previsto e inserido em acordos que a União Europeia impõe a nações africanas, quando “requalifica” o statusdelas e converte-as em Cérberos de fronteira. Essa é a missão chave da agência Frontex, que está progressivamente deslocando as fronteiras externas da União Europeia – para o oriente e para o sul – para poder repelir mais eficientemente quaisquer imigrantes. Nada que possa ligar algo/alguém com as guerras neoimperiais eletivas da OTAN, claro.

Não surpreende que Noam Chomsky já tenha observado que o apoio a democracias formais no ocidente esteja diminuindo, porque já não há democracias reais. Todas as grandes decisões que afetam a União Europeia são tomadas em Bruxelas por eurocratas não eleitos.
Em livro marco publicado na Espanha, Mercado-Estado-Carcel en la Democracia Neoliberal Española (ed. Anthropos), Daniel Jimenez, doutor em Sociologia Jurídica da Universidade de Zaragoza, expõe em detalhe o modo como a nova ordem institucional local trata, mesmo, é de desdemocratização, desnacionalização e construção de dependência: OTAN, FMI, Banco Mundial, Clube de Paris, Comissão Europeia, o Fed, são nodos de uma rede global de instituições, privadas, mas autodescritas como públicas, ou públicas mas administradas por interesses privados (como o Fed). Michael Hudson, dentre outros, tem mostrado como a União Europeia jamais desenvolve mecanismos sustentados de transferência de capital das economias mais ricas para as mais pobres dentro do bloco.

Frente à China, só quebro a cara

Técnicas derivadas de sofisticada Guerra Híbrida podem ser aplicadas a pleno vapor contra Rússia e Brasil. Mas contra a China, tudo dá chabu.

O boato da hora no Excepcionalistão é que a China não é tão economicamente sólida quanto parece. Por isso a opinião pública é bombardeada pela litania de sempre de “convulsões nos mercados financeiros chineses”, “aversão ao risco de investir”, “volatilidade” ou, então, de um inevitável crash chinês.

Nonsense. A liderança chinesa tem todos os imperativos estratégicos do país delineados em detalhes no mais recente Plano Quinquenal. Será bombeado para dentro do sistema todo o crédito necessário. O yuan não será desvalorizado – não importa o quanto Washington/New York berrem e esperneiem.

Uma desvalorização do yuan faria naufragar muitas firmas chinesas carregadas de dívidas em dólares. Mais importante, Pequim está ajustando seu sistema, uma transição cuidadosamente calibrada, de modelo dirigido à exportação, para modelo orientado ao consumo pelo mercado interno. Yuan forte preserva o poder de compra de dezenas de milhões de membros da Nova Classe Média Chinesa – todos com alta mobilidade para cima e todos proprietários.

Segundo o Tesouro dos EUA, apenas cerca de $1,2 trilhão de derivativos líquidos estão em mãos de chineses. E isso vai diminuir rapidamente – ao ritmo em que a China compra cada vez mais ouro. E como se fosse pouco, a China já fez sua economia dar meia volta. O que nos leva de volta àquele aumento dramático no Índice Báltico. Os preços do petróleo estão subindo. E a China está comprando tudo.

Pequim avança em todas as frentes; espalha negócios e influência comercial por toda a Eurásia, que as Novas Rotas da Seda modelarão como empório de massa; moderniza suas forças armadas; compra ativos estratégicos estrangeiros; constrói e firma a confiança global no yuan como moeda estável de reserva; permite que as elites chinesas diversifiquem sua enorme riqueza comprando propriedades no exterior, de vinhedos em Bordeaux a um gigante do futebol como o AC Milan.
Não surpreende que o impressionante alastramento do poder econômico chinês tenha deixado completamente doidos um sortimento variado de excepcionalistas do Excepcionalistão – de neoconservadores a neoliberais conservadores. Washington nada tem a oferecer, absolutamente nada, a nações da Ásia, África e América Latina – a todo o sul global, como se pode ver.

Todos esses já viram que Pequim não está no mercado como gangue de mafiosos, a exigir juros compostos sobre a dívida soberana dos países; “apoio” a ataques neoimperialistas puxados pela OTAN ou pela ONU; mais uma toca extraterritorial onde enfiar o Império de Bases dos EUA; ou dominação total sobre os bancos centrais nacionais.

Por outro lado, todos esses já viram o que podem esperar de Washington: guerra sem fim; esmagamento progressivo do estado-nação; democracia detonada, reduzida a farelo; e governança tecnocrática pelo 0,00001%.

É. Tudo isso se resume à calma que antecede a tempestade. O Império do Caos começou o revide. Há muito sangue pelas trilhas à frente.

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