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quarta-feira, 25 de maio de 2016

China trabalha para construir relação “ganha-ganha” com o Islã


Traduzido por Vila Vudu

As Novas Rotas da Seda puxadas pela China – ou “Um Cinturão, Uma Estrada”, (ing. One Belt, One Road, OBOR) na denominação oficial do plano – abrem-se em espiral em todas as direções. A nova ponte de terra eurasiana – do porto de Lianyungang em Jiangsu até Rotterdam; o corredor Mongólia-Rússia; o corredor Ásia Central-Ásia Ocidental; o corredor da península da Indochina; o corredor do Paquistão; o corredor Bangladesh-China-Índia-Myanmar.

OBOR cobre toda a Eurásia – o que significa que cobre também todo o mundo árabe. Considerem a recente 7ª reunião ministerial do Fórum de Cooperação China-Árabe em Doha. O ministro de Relações Exteriores da China Wang Yi descreveu a cooperação como modelo para o mundo desenvolvido. Em mensagem ao Fórum, o presidente Xi Jinping destacou – para delícia dos delegados do Conselho de Cooperação do Golfo, CCG – que Pequim quer fazer avançar ainda muito mais os laços estratégicos. Significa, essencialmente, fazer funcionar efetivamente o projeto OBOR, das Novas Rotas da Seda chinesas.

Pequim tem enfrentado sua quota de problemas – para dizer o mínimo – nos negócios com terras do Islã. Já em 2104, Abu Bakr al-Baghdadi, líder do falso “califato” Daechproclamou que “direitos dos muçulmanos são violentamente cerceados” na China. Em 2015, o partido AKP que governa na Turquia enfureceu-se pelo modo como a China operou em Xinjiang; houve protestos violentos em Istanbul. Recentemente, um veículo da mídia-empresa ligado ao Daech começou a falar diretamente aos uigures, e aos hui – muçulmanos chineses – lançando um nasheed de quatro minutos, em mandarim fluente, conclamando os muçulmanos a “despertar” e pôr fim a “um século de escravidão”.

Golfo olha para o Oriente

Nas petromonarquias do CCG, enquanto isso, num clima de mistura tóxica de paranoia total em relação a qualquer coisa que tenha a ver com o Irã; frustração por a jihad na Síria não ter conseguido derrubar o governo de Bashar al-Assad (“mudar o regime”); a ascensão incontrolável do velho proverbial “antinorteamericanismo”; e a muito palpável ameaça de levante doméstico, o único sinal de algum alívio é o contato com a China;business como sempre.

Considerem, por exemplo, Dragon City, um mega shopping center chinês em Muharraq, a terceira maior cidade do Bahrain – onde a maioria xiita é mantida sob repressão total pela monarquia sunita. Dragon City é um dos nodos chaves no projeto OBOR, conectando uma imensa lista de empresas chinesas aos mercados do Golfo e, dali em diante, especialmente na África.
E vai muito além de um shopping centers. A China – na vanguarda da energia verde, especialmente mediante suas empresas gigantes de painéis solares – está trabalhando para instalar fábricas, empregando mão de obra local (barata), não só nos Emirados, no Golfo, mas também no Marrocos.

China já é terceiro maior parceiro comercial da Turquia. Ankara pode ser incluída na OTAN e talvez – considerados os mais recentes desvarios – pode ser até parte do guarda-chuva da segurança dos EUA. Mesmo assim, no que tenha a ver com interesses comerciais chineses, Turquia é também entroncamento chave do Projeto Novas Rotas da Seda, OBOR.

Entrementes, na China, o local imperdível é Yinchuan – e o centro de convenções que, a cada dois anos, abriga a China-Arab States Expo, verdadeira orgia de negócios, para incontáveis empresários da China e do Oriente Médio. Em Yongning, sul de Yinchuan, a ação acontece num suntuoso parque temático a ser concluído em 2020, a World Muslim City [lit., Cidade-Mundo Muçulmana], de $3,7 bilhões – que inclui uma Folk Culture Street, centro de convenção e, claro, hotéis de luxo.
O gabinete de cultura Ningxia promove entusiasticamente o China Hui Culture Park como “uma ponte cultural sino-árabe”, que pode “promover todos os aspectos das trocas e da cooperação sino-árabe”. Que o parque seja local definido como “destino turístico padrão AAAA para os chineses”, claro, não atrapalha em nada.

Yinchuan é a capital de uma região autônoma, governada pelos huis. Os huis são grupo étnico muito próximos da maioria han chinesa – em termos de idioma e etnia. Falam mandarim fluente – diferentes nisso de muitos uigures. Há cerca de 10,6 milhões de huis na China (apenas 0,8% da população); os uigures são 10,1 milhões. Os huis são de fato a maior das dez nacionalidades muçulmanas que há na China. Tenho belas lembranças das comunidades huis que visitei no final dos anos 1990s, à beira da antiga Rota da Seda. Comparados aos uigures, os huis são muito mais assimilados; afinal, diferentes também nisso dos uigures, não tiveram de lidar com um incansável influxo de hans colonizadores.

Hora de misturar e integrar

O primeiro-ministro Li Keqiang, falando a notáveis do Partido Comunista Chinês em Xinjiang há dois meses, reconhecer de facto, em discurso, o tema ultra sensível da cultura uigure pressionada pela falta de empregos em Xinjiang; “Deixemos que o povo, especialmente o mais jovens, encontrem que fazer e dinheiro a ganhar”. Acertou o olho do alvo, ao reafirmar que “o desenvolvimento e a estabilidade de Xinjiang (…) têm influência direta na unidade étnica da China e na segurança nacional”. Se Xinjiang não vive em paz,OBOR não avança.

É questão para debates sem fim, se os colonizadores hans terão alguma vontade de “misturar-se” mais com os uigures nativos; e para que empresas privadas turbinem seus investimentos em Xinjiang, é indispensável que se misturem, com vistas às muitas oportunidades futuras, relacionadas às Novas Rotas da Seda.

O xis da questão nem é tanto a política oficial – de acomodação – em Pequim: é mais a paranoia dos funcionários do PCC, refletida nas reações violentas. Os fatos em campo mostram mesquitas proibidas de chamar para as orações; jejum proibido no Ramadã; menores de 18 anos proibidos de frequentar as mesquitas; e, sobretudo, o desprezo pela cultura e pelo idioma dos uigures.
Funcionários das províncias tentam justificar essas medidas como necessárias para conter o avanço do terrorismo salafista-jihadista – que é, sim, pesadelo obsessivo de Pequim. Há muitos precedentes – a começar por um grupo de uigures que lutam no Afeganistão sob comando dos Talibã (vi e conversei com alguns deles em prisões no vale do Panjshir antes do 11/9).

Depois, o processo converteu-se no antigo Movimento Islâmico do Turquestão Oriental [ing. East Turkestan Islamic Movement (ETIM)] – coligado com Osama bin Laden e Mullah Omar – que se converteu em Partido Islâmico do Turquestão; uigures que lutam com os Talibã e o Movimento Islâmico do Uzbequistão [ing. Islamic Movement of Uzbekistan (IMU); uigures que atacaram, com facas, forças de segurança na própria região de Xinjiang; e uigures que constituem considerável contingente de jihadistas dentro da Frente al-Nusra, também conhecida como Al-Qaeda na Síria, ao lado de uzbeques e de vários outros cidadãos de países da Ásia Central.

Nada disso, é claro, justifica o que pode ser visto como castigo coletivo contra mais de 10 milhões de uigures.

Mesmo assim, a conexão uigure-salafista-jihadi vai bem além – até o sudeste asiático, com uigure-salafista-jihadis ativos na Malásia, Tailândia e quase toda a Indonésia, onde estão alinhados com um grupo afiliado do Daech com bases nas selvas de Sulawesi e comandados por Abu Wardah Santoso, o homem mais procurado na Indonésia.

Pequim absolutamente não cogita de qualquer tipo de ofensiva militar para deter o Daech, como explica Wang Zhen, da Academia de Ciências Sociais de Xangai. A China não tem base militar no Oriente Médio; e uma ofensiva militar contra apenas algumas centenas de uigures não faz sentido.

Aquela “influência religiosa estrangeira”

Pequim acompanha com muito cuidado o que os especialistas dizem sobre possíveis laços culturais sino-árabes. Há apenas quatro meses foi lançado novo e amplo estudosobre a política China-Árabes – conectado com as visitas oficiais que Xi fez ao Egito, Arábia Saudita e Irã. Pequim está diretamente engajada numa ofensiva múltipla de soft power, exibindo de tudo, desde cursos de língua chinesa no Oriente Médio, até mais postos de estudo para alunos árabes na China.
Em todos os casos, permanece, paralela, a ameaça da “influência religiosa estrangeira” – abreviatura de “salafismo-jihadismo”. Os chineses muçulmanos desconfiam muito de qualquer favor que lhes seja oferecido por sauditas – ainda que isso não implique problemas para as relações Pequim-Riad.

A questão é que, para Pequim, as Novas Rotas da Seda, OBOR – ou o futuro Grande Empório Eurasiano – dominam todos os demais problemas, porque são planejados para pôr a China no coração de um novo sistema de comércio global, e não faz diferença queTTP e TTIP, os projetos de negócios que EUA e OTAN tentam conduzir, sejam bem-sucedidos ou deem em nada.
Um show lateral, à margem das Novas Rotas da Seda é a implantação da primeira base militar chinesa fora das fronteiras nacionais, no Djibouti, ao lado das bases de EUA e França. Djibouti é crucial, porque está é nodo central da Rota Marítima da Seda que liga o Império do Meio a todos aqueles mercados vitais pelo canal de Suez, diretamente até o Mediterrâneo.

Pequim, de qualquer modo, nunca para de acumular capital político. A Liga Árabe pode não fazer alarde, mas o balanço do relacionamento, feito pelo secretário-geral Nabil Elarab, foi, para dizer o mínimo, de alguém completamente seduzido: “A China é o único dos grandes estados do mundo que sempre defendeu causas e direitos dos árabes, porque são causas e direitos justos. A China jamais se alia a uma das partes para impor-se a outra parte, e sempre busca o bem comum “.

Ora, ora, Pequim não tem como errar, sempre operando o mix, que é sua marca registrada, de apoio à soberania dos estados; não interferência em assuntos internos de outros países; e a já notória ênfase que dá “a um novo tipo de relações internacionais que modelem cooperação de tipo ganha-ganha” – e que implica jamais agredir ou demonizar ‘inimigos’. Para entender, é só comparar tudo isso à retórica belicista doentia do Excepcionalistão; e aos atos.

Desnecessário dizer, o sempre crescente soft power de Pequim, que se alastra pelas terras do Islã, cutuca incontáveis nervos expostos no governo dos EUA em Washington. E enquanto a China continuar a aprimorar sua posição no comércio mundial, já hoje sem concorrentes – e seus projetos massivos de infraestrutura e desenvolvimento ao longo de toda as Novas Rotas da Seda – aqueles nervos expostos continuarão a ser cutucados, sem alívio.

Pepe Escobar (1954) é jornalista, brasileiro, vive em São Paulo, Hong Kong e Paris, mas publica exclusivamente em inglês. Mantém coluna no Asia Times Online; é também analista de política de blogs e sites como:  Sputinik, Tom Dispatch, Information Clearing House, Red Voltaire e outros; é correspondente/ articulista das redes Russia Today e Al-Jazeera.


Entreouvido na Vila Vudu:
Esse é o mundo real que o ‘jornalismo’ das mídia-empresas, os cursos de ‘comunicações’ e diretamente as próprias empresas de mídia comercial existem para ESCONDER dos brasileiros.
Agora, em 2016, o golpe que PMDB, PSDB, Superior Tribunal Federal & CIA (representando a Big Grana de Wall Street) tentam aplicar ao governo da presidenta Dilma Rousseff visa, exclusivamente, a TENTAR IMPEDIR que prossiga a integração do Brasil a esse mundo que anda rapidamente para novos tempos.
É preciso derrubar o governo do golpe que tenta se instalar no Brasil.
Para o Brasil, a luta q temos de fazer hoje é a mais importante de toda a nossa história como país independente.
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orientemidia

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