Milhares de milhões de dólares de armas contra a Síria - Noticia Final

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sábado, 22 de julho de 2017

Milhares de milhões de dólares de armas contra a Síria

Thierry Meyssan

Desde há sete anos, vários milhares de milhões de dólares de armamento entraram ilegalmente na Síria ; um facto que, só por si, basta para desmentir a narrativa segundo a qual esta guerra seria uma revolução interna democrática. Inúmeros documentos atestam que este tráfico foi organizado pelo General David Petraeus, primeiro a título público a partir da CIA da qual ele era o director, depois a título privado a partir da sociedade financeira KKR, com a ajuda de altos funcionários. Assim, o conflito, que era inicialmente uma operação imperialista dos Estados Unidos e do Reino Unido, transformou-se numa operação capitalista privada, enquanto em Washington a autoridade da Casa Branca era contestada pelo “Estado Profundo”. Novos elementos lançam luz sobre o papel secreto do Azerbaijão na evolução desta guerra.



Como é que os jiadistas de Alepo eram abastecidos com armas búlgaras ?
Aquando da libertação de Alepo e da captura do estado-maior saudita que lá se encontrava, a jornalista búlgara Dilyana Gaytandzhieva constatou a presença de armas do seu país em novos armazéns abandonados pelos jiadistas. Ela anotou cuidadosamente as indicações inscritas nas caixas e, de regresso ao seu país, investigou o modo como elas haviam chegado à Síria.
Desde 2009 —com a breve excepção do período entre Março de 2013 a Novembro de 2014— a Bulgária é governada por Boiko Borissov, um personagem colorido, saído de uma das principais organizações criminosas europeias, a SIC. Lembremos que a Bulgária é, ao mesmo tempo, membro da OTAN e da União Europeia e que nenhuma destas organizações emitiu a mínima crítica contra a chegada ao poder de um chefe mafioso, desde há longo tempo claramente identificado pelos serviços internacionais de polícia.
Foi, pois, arriscando a sua vida de forma clara que Dilyana Gaytandzhieva rastreou a rede e que a redacção do quotidiano de Sofia, Trud, publicou o seu dossiê [1]. Se a Bulgária se colocou como um dos principais exportadores de armas para a Síria, ela contou para tal com a ajuda do Azerbaijão.

Pondo a nu o gigantesco tráfico de armas da CIA contra o Afeganistão, o Iraque, a Líbia, a Síria e a Índia

Desde o início das Primaveras Árabes, um gigantesco tráfico de armas foi organizado pela CIA e pelo Pentágono em violação de inúmeras resoluções do Conselho de Segurança da ONU. Todas as operações que aqui vamos recapitular são ilegais à luz do Direito Internacional, nelas incluídas, bem entendido, as organizadas publicamente pelo Pentágono.
Em matéria de tráfico de armas, mesmo quando certos indivíduos ou empresas privadas servem como disfarce, é impossível exportar materiais sensíveis sem o assentimento dos governos envolvidos.
Todas as armas de que vamos falar, salvo os sistemas de espionagem electrónica, são de tipo soviético. Por definição, mesmo quando se finge que exércitos equipados com armas de tipo OTAN são os destinatários finais destes fornecimentos isso é impossível de se verificar. A referência a tais exércitos serve apenas para encobrir o tráfico.
Sabia-se já que a CIA tinha recorrido à SIC e a Boiko Borissov para fabricar, com urgência, Captagon com destino aos jiadistas na Líbia, depois na Síria. Desde a investigação de Maria Petkova, publicada na Balkan Investigative Reporting Network (BIRN), sabia-se que a CIA e o SOCOM (Special Operations Command do Pentágono) tinham comprado, para os jiadistas, armas à Bulgária por 500 milhões de dólares, entre 2011 e 2014. Depois, que outras armas foram pagas pela Arábia Saudita e pelos Emirados Árabes Unidos e transportadas pela Saudi Arabian Cargo e Etihad Cargo [2].
Segundo Krešimir Žabec do quotidiano de Zagreb Jutarnji List, no fim de 2012, a Croácia fornecia aos jiadistas sírios 230 toneladas de armas por um valor de 6,5 milhões de dólares. O envio para a Turquia foi feito por três Ilyushin da companhia Jordan International Air Cargo, sendo depois as armas lançadas de pára-quedas pelo Exército Catariano [3]. De acordo com Eric Schmitt, do The New York Times, o conjunto do dispositivo tinha sido imaginado pelo General David Petraeus, director da CIA [4].
Quando, em 2012, o Hezbolla tentou descobrir o tráfico da CIA e do SOCOM foi perpetrado um atentado contra turistas israelitas no aeroporto de Burgas, o centro nevrálgico do tráfico. Em contradição com a investigação da polícia búlgara e as conclusões do médico legista, o governo de Borisov atribuiu este crime ao Hezbolla e a União Europeia classificou a Resistência libanesa como «organização terrorista» (sic). Foi preciso esperar até à queda temporária de Borisov para que o Ministro das Relações Exteriores, Kristian Vigenine, sublinhasse que tal acusação não tinha qualquer fundamento.
Segundo uma fonte próxima do PKK, em Maio e Junho de 2014, os Serviços secretos turcos fretaram comboios (trens-br) especiais para entregar em Rakka, isto é, naquilo que era então chamado o Emirado Islâmico no Iraque e na Síria, e que é conhecido hoje como Daesh, armas ucranianas pagas pela Arábia Saudita e mais de um milhar de Toyota Hilux (pickups de cabine dupla) especialmente arranjadas para resistir às areias do deserto. De acordo com uma fonte belga, a compra dos veículos tinha sido negociada com a japonesa Toyota pela empresa saudita Abdul Latif Jameel.
Segundo Andrey Fomin da Oriental Review, o Catar, que não queria ser deixado à parte, comprou para os jiadistas à sociedade Estatal ucraniana UkrOboronProm a versão mais recente do Air Missile Defense Complex "Pechora-2D". Tendo a entrega sido concluída pela sociedade cipriota Blessway Ltd [5].
Segundo Jeremy Binnie e Neil Gibson, da revista profissional de armamento Jane’s, o US Navy Military Sealift Command (o Comando de Aprovisionamento da Marinha de Guerra dos EUA- ndT) lançou em 2015 dois concursos públicos para transportar armas do porto romeno de Constanta para o porto jordano de Aqaba. O contrato foi ganho pela Transatlantic Lines [6]. Ele foi executado logo após a assinatura do cessar-fogo por Washington, a 12 de Fevereiro, 2016, em total violação do seu compromisso.
De acordo com Pierre Balanian da Asia News, este dispositivo prosseguiu em Março 2017 com a abertura de uma linha marítima regular da companhia norte-americana Liberty Global Logistics ligando Livorno (Itália) / Aqaba (Jordânia) / Jeddah (Arábia Saudita) [7]. Segundo o geógrafo Manlio Dinucci, ela destinava-se principalmente ao fornecimento de blindados para a Síria e para o Iémene [8].
Segundo os jornalistas turcos Yörük Işık e Alper Beler, os últimos contratos da era Obama foram feitos pela Orbital ATK que organizou, via Chemring e a dinamarquesa H. Folmer & Co, uma linha regular entre Burgas (Bulgária) e Jeddah (Arábia Saudita). Pela primeira vez, fala-se aqui não apenas de armas produzidas pela Vazovski Machine Factory Building (VMZ) (Bulgária), mas também pela Tatra Defesa Industrial Ltd. (República Checa) [9].
Muitas outras operações tiveram lugar secretamente como o atestam, por exemplo, os negócios do cargueiro Lutfallah II, apresado pela marinha libanesa a 27 Abril de 2012, ou do cargueiro togolês, o Trader, apresado pela Grécia, a 1 de Março de 2016.
O total destas operações perfaz centenas de toneladas de armas e de munições, talvez milhares, sobretudo pagas pelas monarquias absolutas do Golfo, pretensamente para apoiar uma «revolução democrática». Na realidade, as petro-ditaduras só intervieram para dispensar a administração Obama de prestar contas ao Congresso dos EUA (Opération Timber Sycamore) e lhe fazer aceitar gato por lebre [10]. O decorrer de todo este tráfico foi pessoalmente controlado pelo General David Petraeus, primeiro a partir da CIA da qual ele era o director, depois desde a sociedade de aplicações financeiras KKR onde ingressou. Ele beneficiou-se da ajuda de altos funcionários, algumas vezes sob a presidência de Barack Obama, depois massivamente sob a de Donald Trump.
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O papel até agora secreto do Azerbaijão

Segundo a antiga funcionária do FBI e fundadora da National Security Whistleblowers Coalition, Sibel Edmonds, de 1997 a 2001, o Azerbaijão do Presidente Heydar Aliyev, acolheu em Baku, a pedido da CIA, o número dois da Alcaida, Ayman al-Zawahiri. Muito embora oficialmente procurado pelo FBI, aquele que era então o número 2 da rede jiadista mundial deslocava-se regularmente por avião da OTAN para o Afeganistão, para a Albânia, para o Egipto e para a Turquia. Ele era, igualmente, frequentemente visitado pelo Príncipe Bandar ben Sultan da Arábia Saudita [11].
Às suas relações de segurança com Washington e Riade, o Azerbaijão —cuja população é, portanto, sobretudo xiita— junta Ancara, a sunita, que o apoia no seu conflito contra a Arménia a propósito da secessão da República de Artsakh (Alto-Karabaque ).
À morte de Heydar Aliyev, nos Estados Unidos, em 2003, sucede-lhe o seu filho Ilham Aliyev. A Câmara de Comércio EUA-Azerbaijão torna-se a sala de manobras de Washington tendo ao lado do Presidente Aliyev, Richard Armitage, James Baker III, Zbigniew Brzeziński, Dick Cheney, Henry Kissinger, Richard Perle, Brent Scowcroft e John Sununu.
De acordo com Dilyana Gaytandzhieva, o Ministro dos Transportes, Ziya Mammadov, coloca em 2015 à disposição da CIA a companhia estatal Silk Way Airlines paga pela Arábia Saudita e pelos Emirados Árabes Unidos. O Ministro dos Negócios Estrangeiros, o muito pouco escrupuloso Elmar Mammadyarov, envia a várias das suas embaixadas pedidos de homologação de «vôos diplomáticos», o que interdita as inspecções dos mesmos segundo a Convenção de Viena. Em menos de três anos, mais de 350 vôos disporão deste privilégio extraordinário.
Muito embora segundo os tratados internacionais, nem aviões civis, nem aviões com imunidade diplomática estejam autorizados a transportar material militar, os pedidos de reconhecimento como «voos diplomáticos» fazem menção explícita das cargas transportadas. No entanto, a pedido do Departamento de Estado dos EUA, pelo menos o Afeganistão, a Alemanha, a Arábia Saudita, a Bulgária, o Congo, os Emirados Árabes Unidos, a Hungria, Israel, o Paquistão, a Polónia, a Roménia, a Sérvia, a Eslováquia, a República Checa, a Turquia e o Reino Unido irão fechar os olhos a esta violação do Direito Internacional, tal como já haviam ignorado os vôos da CIA entre as suas prisões secretas.
Em menos de três anos, a Silk Way Airlines transportou assim pelo menos US $ mil milhões (1 bilhão-br) de armas.
De forma exaustiva, a jornalista Dilyana Gaytandzhieva pôs à luz do dia um vasto sistema que aprovisiona os jiadistas não só no Iraque e na Síria, mas também no Afeganistão, no Paquistão e no Congo, sempre às custa dos Sauditas e dos Emiratis. Algumas armas entregues na Arábia foram reexpedidas para a África do Sul.
As armas transportadas para o Afeganistão teriam chegado aos talibãs, sob o controle dos Estados Unidos, os quais afirmam combatê-los. As fornecidas ao Paquistão eram provavelmente destinadas a cometer atentados islamitas na Índia. Ignora-se quem são os destinatários finais das armas entregues à Guarda Republicana do Presidente Sassou Nguesso, no Congo, e à África do Sul do Presidente Jacob Zuma.
Sendo os principais negociantes as firmas norte-americanas Chemring (já citada), Culmen International, Orbital ATK (também já citada) e Purpel Shove.
Para além das armas de tipo soviético produzidos pela Bulgária, o Azerbaijão comprou, sob a responsabilidade do Ministro da Indústria de Defesa, Yavar Jamalov, stocks (estoques-br) na Sérvia, na República Checa e incidentalmente em outros Estados, sempre declarando ser o destinatário final dessas compras. Em relação aos equipamentos de espionagem electrónica, Israel colocou à disposição a firma Elbit Systems, que simulava ser o destinatário final, não possuindo o Azerbaijão o direito de comprar este tipo de material. Estas excepções atestam que o programa do Azerbaijão, mesmo tendo sido requisitado pelos Estados Unidos e pela Arábia Saudita, era controlado, de uma ponta a outra, a partir de Telavive.
O Estado hebreu, que afirma ter permanecido neutral durante todo o conflito sírio, tem, no entanto, bombardeado repetidamente o Exército Árabe Sírio. Todas as vezes que Telavive reconheceu os factos, pretendeu ter atacado para destruir armas destinadas ao Hezbolla libanês. Na realidade, todas essas operações, salvo talvez uma, foram coordenadas com os jiadistas. Sabe-se, pois, hoje em dia que Telavive estava supervisionando a entrega de armas a esses mesmos jiadistas de tal modo que, se Israel parecia contentar-se em utilizar a sua Força Aérea para os apoiar, de facto jogava um papel central no desenrolar da guerra.
Segundo as convenções internacionais a falsificação de certificados de fornecimento final e o envio de armas para grupos mercenários afim de que eles derrubem governos legítimos, ou destruam Estados reconhecidos, constituem crimes internacionais.


Tradução
Alva

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