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terça-feira, 4 de julho de 2017

Rússia entrou na alcova da OTAN

MK Bhadrakumar, Indian Punchline

Traduzido pelo coletivo da vila vudu

Será que se pode dizer que nasceu uma "beleza terrível" no baixo ventre da OTAN — tomando emprestadas as palavras do poeta anglo-irlandês Y. B. Yeats?[1] Moscou revelou na 5ª-feira que foi concluído o contrato entre Rússia e Turquia para venda de sistemas de mísseis de defesa de longo alcance S-400. 
O conselheiro do presidente Putin para cooperação militar e técnica VladimirKozhin disse que "o contrato está feito e tudo está resolvido exceto a questão de um empréstimo, de fundos, ainda não está acertada" (TASS). A imprensa russa noticiou que a Turquia pediu um empréstimo para financiar a compra, e Moscou está considerando ativamente a ideia.


Poucas horas depois da "notícia extraordinária", o presidente Donald Trump dos EUA já estava no telefone com o presidente da Turquia Recep Erdogan. O press-release da Casa Branca disse que Trump discutiu "vários assuntos" com Erdogan, inclusive modos de superar o conflito entre Qatar e Arábia Saudita, e que "garantiu que todos os países trabalham para pôr fim ao financiamento de terroristas e para combater a ideologia extremista". Isso posto, Trump enfatizou "a importância de todos nossos aliados e parceiros aumentarem seus esforços para combater o terrorismo e o extremismo em todas as suas formas."

O Enviado Especial do presidente dos EUA à Coalizão Global contra o ISIS, Brett McGurk, também aterrissou em Ancara. A Turquia ameaçou atacar os curdos sírios que se aliaram aos EUA no norte da Síria. Muito interessante: nem bem a conversa com Trump terminara, Erdogan telefonou ao presidente Vladimir Putin da Rússia. O press-release do Kremlin disse que "A discussão focou aspectos chaves do acordo sírio à luz da próxima 5ª Rodada do Encontro Internacional sobre a Síria em Astana, marcada sob a égide de Rússia, Turquia e Irã para o início de julho."

Fonte 'presidencial' turca não identificada repercutiu mais tarde que Erdogan e Putin decidiram encontrar-se "cara a cara" à margem da reunião do G-20 em Hamburgo, semana que vem. Por falar nisso, é a segunda vez em uma semana que os presidentes da Rússia e da Turquia conversam. Putin telefonou a Erdogan dia 23 de junho, para marcar data para o lançamento oficial dos trabalhos de construção do trecho submarino do gasoduto "Ramo Turco". O gasoduto submarino de 900 quilômetros, com custo estimado em cerca de $13 bilhões, levará gás russo até a Turquia e sul da Europa. O primeiro trecho do gasoduto já estará pronto ano que vem, o segundo, no final de 2019.

A transcrição da conversa, dia 23 de junho, é amostra da transformação fenomenal que houve nas relações russo-turcas. Putin e Erdogan são acionistas também em nível pessoal dessa operação, navegando águas agitadas depois que a Turquia derrubou um Sukhoi Su-24 russo, em novembro de 2015. Para a Rússia, a Turquia sempre foi historicamente rival indomável. Para a Turquia, claro, seu 'Olhar para o Oriente' cria espaço para negociar efetivamente com parceiros ocidentais simulados, grosseiros, nunca confiáveis.

Há de fato muitas camadas nas relações russo-turcas – em que se sobrepõem interesses na Síria e no Mediterrâneo Oriental, no Mar Negro e nos Bálcãs, no Cáucaso etc., cooperação econômica mutuamente proveitosa, o crescimento do Irã como potência regional, o islamismo no Oriente Médio, segurança no campo da energia e por aí vai –, mas o xis da questão é que o esfriamento cada vez mais rápido nas relações Rússia-EUA coincidiu com o agravamento das contradições nas relações Turquia-EUA. Tudo isso considerado, a decisão da Turquia, de comprar o Sistema de Defesa Aérea S-400 Triumf russo, é ao mesmo tempo simbólica e estratégica.

Erdogan está afirmando sua política externa independente e expondo um importante desafio estratégico contra os EUA. A decisão de comprar o sistema russo de mísseis antibalísticos vem carregada de consequências monstros; primeiro, porque, ao instalar armamento russo em solo turco, a Turquia perderá acesso aos sinais da OTAN; e para a OTAN, no caso de conflito regional, seu equipamento aéreo não conseguirá operar em áreas vizinhas do sistema S-400 russo instalado na Turquia.

Na verdade, Turquia e OTAN estão entrando em águas nunca dantes navegadas. A arquitetura de defesa aérea não é sistema 'solitário', como um tanque de combate. Para interceptar realmente um míssil balístico inimigo que se aproxime, é indispensável que haja dados precoces, vindos de satélites militares com altas capacidades de detecção. O plano da Turquia é vir a desenvolver essas capacidades por conta própria, o que significa que Erdogan está optando por programa de larga escala relacionado com a Rússia e que não será "interoperável" com o sistema da OTAN. Feitas as contas, o negócio dos S-400 é o começo de um laço estratégico entre Rússia e Turquia no campo da defesa, que levará à venda de outros sistemas e tecnologias militares russas, à Turquia.

Mas... o S-400 Triumf (apelidado 'Grumpy' [aprox. "dado a chiliques"] pela OTAN) será assim tão assustador? Quanto a isso, que ninguém se engane: é muito assustador, mesmo. Nos termos da avaliação feita por um ex-piloto-instrutor da Escola de Armamentos da Força Aérea dos EUA, é "o míssil terra-ar de longo alcance moderno mais operacionalmente perigoso, hoje, no mundo." (Leia aqui.) Assim sendo, também para a Rússia é ato de comprometimento e fé, dado que está pondo armamento mortal em mãos de amigo recente. Parcerias que envolvam transferência de tecnologia militar tão avançada são quase sempre forjadas entre parceiros ligados por profunda confiança estratégica, do tipo que só se forja em anos, ou décadas, de cooperação estreita – como a Rússia tem com a Índia ou com a China, os dois outros países que podem vir a receber esse avançado sistema russo de mísseis.

Mas fato é que a Turquia é grande potência da OTAN, atrás só dos EUA em forças convencionais – e não é pouca coisa conseguir arrancá-la da barraca da OTAN, para uma parceria com o principal adversário da Aliança. No processo, a Rússia também desafiou a eficácia da estratégia dos EUA para criar um arco em torno da Rússia com o sistema de mísseis balísticos da OTAN. E também enfraqueceu o plano de jogo dos EUA, que contavam com estabelecer presença permanente no Mar Vermelho. 


Comentário publicado em Xinhua serve-se de excelente metáfora para dizer tudo isso: diz que a Rússia entrou na alcova da OTAN.

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