Desmascarando os mitos sobre as entregas de armamento para a Ucrânia - Noticia Final

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sábado, 12 de agosto de 2017

Desmascarando os mitos sobre as entregas de armamento para a Ucrânia

Texto por The Saker – tradução de btpsilveira

A mais nova mania jornalística versa sobre a possibilidade de entrega à junta nazista em Kiev de armas antitanques dos Estados Unidos (o Javelin FMG-148 sempre é mencionado [sistema portátil de mísseis antitanques desenvolvido pelos EUA-NT]). 
Tipicamente, estas histórias sempre incluem uma discussão de armas “defensivas X ofensivas” e “letais X não letais” e revelam uma crença infantil na existência de algum tipo de tecnologia mágica que faria milagres no campo de batalha. Nada disso tem a ver com o mundo real e é por isso que esse pessoal escreve esse tipo de nonsense tentando esconder a própria ignorância, semeando pelos seus artigos números sem sentido tais como alcance, capacidade de penetração de blindagem, sistemas de orientação, expressões do tipo “dispare e esqueça”. 
A verdade é que todos esses autodenominados especialistas citam uns aos outros e todos papagueiam juntos a propaganda de linha chapa branca que sugere que a entrega dessas armas para a Ucrânia seria uma espécie de divisor de águas. Divisor de águas realmente é, mas não em termos militares. Pois bem. Vamos tentar colocar um pouco de razão nessa besteirada toda.

Em primeiro lugar, esqueça conceitos como “defensivos” e “ofensivos” e “letais” e “não letais” quando se trata de armamento. Todas as armas são letais e todas são ofensivas, em menos potencialmente. Mesmo as armas supostamente “defensivas” na realidade podem ser usadas para resguardar uma ofensiva composta de armamento/unidades/forças e por consequência desempenham um papel importante dessa ofensiva. Mesmo um sistema de combate à fadiga ou um frasco com água são ofensivos desde que usados para tornar uma ofensiva possível.
Segundo: a Guerra moderna é simplesmente muito complexa para ser possível que um determinado sistema de armamento possa mudar radicalmente a sorte do combate. Quando o Hezbollah usou o sistema russo RPG-29, o AT-14 Kornet e o Metis-M para destruir com sucesso o tanque Merkava-4, o mais avançado do exército israelense, isso por si só não foi capaz de determinar o resultado da guerra. Claro que os israelenses ficaram chocados com a derrota de seu melhor tanque, mas não mais que pelo ataque de mísseis feito pelo Hezbollah contra o INS Spear, um destroyer Saar-5 ou, por falar nisso, pelo sistema de fortificações muito bem preparadas que o Hezbollah tinha construído no passar dos anos através da fronteira entre Israel e o Líbano.
Francamente, a obsessão ocidental com alta tecnologia militar (junto com uma crença infantil de que armas mais caras são por alguma razão melhores que aquelas mais baratas) é o reflexo de uma cultura que há tempos deixou de confiar na coragem, no patriotismo e até mesmo em boas táticas de combate para vencer guerras. Todo esse nonsense Hollywoodiano caiu por terra em 2006, quando uma força de segundo escalão do Hezbollah (as melhores tinham sido colocadas de reserva ao norte do Rio Litani) derrotou o melhor do melhor das supostamente “invencíveis” forças israelenses, entre elas a famosa “Brigada do Golã”. Acontece que o Hezbollah venceu precisamente porque seus lutadores dispunham de qualidades morais e intelectuais que claramente inexistem atualmente em forças militares ocidentais. O Secretário Geral do Hezbollah Hassan Nasrallah explicou abertamente os acontecimentos de então durante seu “Discurso da Divina Vitória quando disse:
Como poderia esse grupo de mujahidins derrotar esse exército sem o apoio e assistência de Deus Todo Poderoso? Esta experiência de resistência, que deveria ser transmitida para o mundo inteiro, dependeu – nos níveis morais e intelectuais – da fé, certeza, confiança (em Deus) e disposição para fazer sacrifícios. Também dependeu da razão, planejamento, organização, armamento e como já dito, de tomar todas as medidas protetivas possíveis.
Nem é preciso dizer que os “especialistas” militares ocidentais escolheram ignorar estas palavras e ao invés disso fazer um esforço realmente admirável para esquecer tudo. É justo – de qualquer forma, o que poderiam dizer sobre moral e espiritualidade?  Como sempre acontece com o regime em Washington, eles simplesmente declararam que Israel venceu. Fim da discussão.
Essa incrível capacidade de acreditar na própria propaganda também é o que está fazendo os militares dos Estados Unidos acreditarem erradamente que a entrega de armas antitanques “defensivas” para a Junta em Kiev pode ser significativa para alterar o equilíbrio de poder entre, de um lado, o exército ucraniano com seus vários esquadrões da morte e do outro, os militantes da Malorossya (novorussos).
Não vai. Se não por outra razão, porque os Estados Unidos *já* entregaram armas antitanques para os ucranianos (via Romênia, Bulgária, Polônia e outros). Nós já temos conhecimento disso, graças a uma reportagem recente de SouthFront a qual disponibiliza fotos exclusivas do contrato entre a companhia estatal ucraniana Spetstechnoexport e a companhia (norte)americana AirTronic USA para a entrega de armas letais para a Ucrânia (veja aqui). E esse é apenas um exemplo. Deve haver muito mais.
Quem realmente acredita nas propagandas (norte)americanas deverá repetir que os “avançados” Javelins são muito melhores que qualquer coisa vista até agora na Ucrânia e que sua entrega realmente deverá fazer a diferença. Vamos examinar essa assertiva mais de perto.
É bem verdade que o Javelin é um sistema de alta tecnologia e bastante complexo. Diferente da maioria dos outros sistemas antitanques, o Javelin, uma vez disparado, não necessita de controle pois tem seu próprio sistema de direção o que faz possível para os operadores procurar cobertura logo após o disparo, não se preocupando quanto a atingir ou não o alvo (daí a caracterização como ‘dispare e esqueça’). O Javelin também pode atingir o inimigo por cima, onde as blindagens dos tanques são bem mais finas que na frente e nos lados. Essas características fazem do Javelin uma espécie de super arma? De forma alguma.
Por algumas coisinhas, devemos levar as afirmações sobre as características táticas/técnicas do Javelin com muito cuidado. Uma coisa é ter o sistema operado por profissionais em perfeitas condições e risco zero, e outra bem diferente é tentar usá-lo contra tanques russos reais protegidos por infantaria, atiradores de elite, artilharia e seus próprios sistemas de mísseis. Acrescente a isso um terreno complicado e também condições climáticas extremas (lama, neblina, chuva, calor, neve, ventos, vegetação, aldeias, cidades, etc.) e as características quase milagrosas de qualquer arma de luxo experimenta subitamente um rápido declínio. Além disso, o Javelin naturalmente tem todas as desvantagens inerentes a maioria dos sistemas de direção e foco baseados em infravermelho, como a dependência de um sistema de resfriamento lento e de curta duração, o fato de que o míssil não pode ser controlado em voo e que seu sistema de direção é suscetível de erro por várias fontes de calor.
Um dos principais problemas com a entrega dos Javelins à Ucrânia pelos Estados Unidos pode ser que isso vai deixar livres (politicamente falando) as mãos dos russos para entregar seus próprios sistemas de armamento aos novorussos, entre eles IR-Jammers (bloqueadores de infravermelho), sistemas de proteção ativa para tanques ou mesmo seus próprios mísseis antitanques. Ninguém sabe como o Javelin vai se comportar na realidade contra sistemas russos modernos, mas mesmo que seja capaz de um bom trabalho contra eles, o uso correto do Javelin pode depender totalmente de treinamento e motivação e não apenas de operadores de tiro, mas também de forças de apoio mútuo. Afinal de contas, uma posição antitanque raramente é usada “por si só”. Tipicamente, estas armas são usadas como parte de um esforço ofensivo ou defensivo. O resultado de um encontro belicoso é assim simplesmente o produto da efetividade de várias subunidades e sistemas em conjunto. Colocando de forma mais simples, se a sua infantaria é uma porcaria, seus operadores de armamento antitanque não vão salvar o dia.
Mas, claro, o problema verdadeiro não é técnico, mas político.
Mandar abertamente as armas para a Junta, significa que os (norte)Americanos estão basicamente desistindo do acordo Minsk-2 e que também estão menosprezando claramente o ponto de vista dos europeus ocidentais (os europeus orientais não tem “pontos de vista”, eles apenas competem pelo título de mais russófobo entre os “aliados” dos neocons; assim, eles não são importantes).
A realidade no terreno é que os russos tem o que às vezes é chamado de “domínio da escalação”: eles, e não os (norte)americanos controlam quanto pode o conflito escalar e em que velocidade. Por exemplo, a Rússia pode providenciar muito mais armamento antitanque de forma secreta em apenas alguns dias que os (norte)americanos em meses. Além disso, os russos podem escolher responder a qualquer entrega de Javelins não apenas mandando seus próprios sistemas antitanques, mas também respondendo de forma “assimétrica”, mesmo sorrateiramente. A Rússia tem uma gama enorme de opções que incluem até medidas não militares. Não seria irônico se, depois de anos de sanções contra a Rússia para supostamente desencorajá-la de apoiar os separatistas, a entrega de armas antitanques para a Ucrânia pode finalmente convencer o Kremlin a fazer o que não fez até agora, mas que poderia muito bem já ter feito: colocar toda a sua força em apoio aos novorussos e agir ativamente para desestabilizar a Ucrânia ocupada pelos nazistas, mas desta vez para valer? Se eles entenderem que nada mais tem a  perder, que nada que o ocidente faz e diz é sério sobre encontrar uma solução negociada, os russos podem reconhecer as duas repúblicas novorussas e mandar suas forças militares, mas desta vez totalmente à vista da mídia, com bandeiras tremulando nas fronteiras. Neste caso, o que os Estados Unidos podem fazer? Mandar mais armas? Mandar as forças da OTAN? Ninguém na Europa tem estômago para isso, nem os poloneses, e os Estados Unidos podem ser deixados em uma posição solitária, defendendo uma política que teria a oposição geral.
A verdade é que essa noção toda de mandar Javelins é pura propaganda política e se tudo correr bem, não fará a menor diferença, mas se tudo der errado, pode até resultar em uma escalada terrível no terreno. De qualquer maneira, a ideia toda não faz o menor sentido. É apenas uma maneira que os neocons acharam para humilhar Trump mais um pouquinho e de lambujem também prejudicar os seus planos ingênuos de trabalhar com a Rússia. Também é uma forma de deixar contentes os lobistas-imigrantes do nacionalismo ucraniano com um sonho fantástico de curta duração sobre derrotar totalmente os separatistas (claro que na Ucrânia ocupada pelos nazistas os Javelins são apresentados com super armas que deixam Putin totalmente aterrorizado). Não tenho a menor dúvida que o exército dos Estados Unidos, bem como seu setor de inteligência entendem perfeitamente a inútil e potencialmente perigosa natureza dessa ideia, mas simplesmente não podem dizer isso abertamente.
Os guerreiros da Guerra Fria nos Estados Unidos, enquanto fossilizam lentamente, têm sonhos sobre mandar Javelins para a Ucrânia da mesma forma que a CIA mandou mísseis para o Afeganistão, os quais, de acordo com a narrativa oficial dos EUA, foi uma contribuição chave para a derrota dos soviéticos de então. A narrativa está compreensivamente em oposição aos fatos em vários níveis de compreensão para discuti-los em detalhes neste artigo, mas poderíamos apenas mencionar algumas das falácias subjacentes nesse sonho absurdo, começando com a admissão de que a junta nazista na Ucrânia seja comparável com os mujahidins afegãos (ou, no mesmo sentido, que as forças novorussas são comparáveis às forças soviéticas da época).
Também esquecido é o fato de que enquanto os soviéticos sofreram inicialmente pesadas baixas a partir da introdução dos Stingers (míssil dos EUA fornecido aos afegãos que lutavam contra o exército soviético – NT) eles rapidamente se adaptaram e desenvolveram medidas e táticas efetivas contra eles. Finalmente, no Afeganistão, o exército soviético tinha uma esmagadora vantagem material e tecnológica contra os afegãos, o que dificilmente pode ser dito dos novorussos.  Mas tudo isso é bobagem. Nem os Stingers foram a causa da derrota dos soviéticos nem os Javelins podem derrotar os novorussos.
Enquanto isso, há muitas razões para temer pelo futuro das duas repúblicas novorussas. Por um lado, o fluxo enorme de armas e especialistas do ocidente dentro da Ucrânia ocupada pelos nazistas pode eventualmente resultar em um aumento significativo da capacidade dos ucronazis. Além disso, em áreas específicas, mas significativas, tais como reconhecimento e fixação de alvos, as forças da Junta fizeram progressos sensíveis. Ainda existe a questão simples dos números. Neste mesmo instante, a correlação de forças é de aproximadamente 3X1 em favor dos ucronazis. Por si mesmo, apenas isso já é ruim o suficiente. Assim a questão real está no nível de preparação dos novorussos e se eles finalmente tiveram sucesso em corrigir os vários problemas que encararam por anos. Pelo menos uma reportagem recente sugere que não. Honestamente não sei, mas tenho esperança de que nunca precisemos descobrir.
Conclusão:
A entrega dos Javelins para a Junta pode ser uma mudança de rumo, não em termos militares, mas políticos. Pode sinalizar que os EUA não estão interessados em uma solução negociada e que os europeus nunca conseguirão controlar os neocons dos Estados Unidos. As coisas como apresentadas até agora podem ser tão substanciais quanto más. Neste mesmo instante, os (norte)americanos estão sugerindo que estas armas podem ser enviadas para a Ucrânia como uma reserva contra uma hipotética ofensiva russa. Isso é risível. Se fosse verdade e os russos realmente atacassem (a partir da Rússia), 200 ou mais Javelins colocados próximos a Ivano-Frankvsk ou em Lviv,  não fariam a menor diferença e nem estariam na linha de frente para isso). Além disso, essa obsessão com hardware é inútil e infantil, do tipo que se pode perfeitamente esperar de políticos, mas que pessoas sérias não tomam em consideração. Finalmente, posso perfeitamente argumentar que os Javelins não são dirigidos na realidade contra os novorussos, e sim contra Trump. Tão logo esse fato seja levado em consideração, tudo deve se encaixar.

The Saker

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