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quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Rebatizar ruas: raivosa 'diplomacia' dos EUA

MK Bhadrakumar, Indian Punchline

Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu

A embaixada dos Emirados Árabes Unidos ficava numa esquina, na capital turca, Ankara, onde se encontram a Rua 613 e a Avenida 609. Dia 9 de janeiro, o governo turco mudou os nomes, respectivamente para Rua Fahreddin e Avenida Defensor de Medina. 
A Turquia tomou aquela medida depois de uma discussão entre o ministro do Exterior dos EAU Abdullah bin Zayed al-Nahyan e o presidente turco Recep Tayyip Erdogan, sintoma das relações difíceis entre os dois países desde o golpe militar no Egito, financiado por Arábia Saudita e EAU, que derrubou o governo eleito da Fraternidade Muçulmana chefiado pelo presidente Mohammed Morsi.
A coisa começou há uma quinzena, quando o ministro dos EAU retuitou um postado que ofendia Fahreddin Pasa, comandante otomano responsável pela defesa de Medina, cidade santa dos muçulmanos, durante a 1ª Guerra Mundial. No postado lia-se que Fahreddin Pasa, que foi governador de Medina de 1916 a 1918, roubara tesouros da cidade e cometera crimes contra árabes locais, antes de retirar-se da região na "Revolta Árabe" na qual Lawrence da Arábia trabalhou como diretor de cenografia.

O tal tuíto também dizia que "São ancestrais de Erdogan e do passado dele com os árabes". O principal diplomata dos Emirados pensou que estivesse comprometendo o prestígio de Erdogan, visto na Rua Árabe como principal líder muçulmano. Aconteceu que Erdogan ficou furioso e respondeu ao tiro: "Onde estavam seus ancestrais, patéticos, que hoje nos massacram, quando Fahreddin Pasa defendia Medina?"

Erdogan fez lembrar, implícito nessa resposta, que os senhores dos Emirados Unidos de hoje eram nômades praticamente até anteontem, quando descobriram petróleo e ganharam na loteria. Para que não restassem dúvidas quanto ao insulto, Erdogan acrescentou que o ministro dos Emirados perdera a vergonha, por causa de "petróleo e dinheiro". E pagou para ver: mudou os nomes das ruas em Ankara.

A Turquia fez coisa semelhante também com a Índia. Nossa chancelaria e residência da Embaixada em Ankara ficavam na rua Jinnah Caddesi, homenagem ao fundador do Paquistão.

Atos desse tipo soam a 'orientalismo', mas não são. Países ocidentais também fazem dessas, que consideram "diplomacia". Em 1984, os norte-americanos rebatizaram a parte da Rua 16 em Washington, DC, onde ficava a Embaixada dos soviéticos: passou a chamar-se Praça Andrei Sakharov, homenagem ao dissidente antissoviético. Infelizmente, a grosseria perdeu 'a graça' quando a URSS se autodissolveu e Sakharov acabou esquecido como outras relíquias da história da Guerra Fria.

Agora porém os norte-americanos voltaram à liça. Dia 10 de janeiro, decidiram "renomear" a parte da Avenida Wisconsin em frente à atual embaixada da Rússia, para homenagear "Boris Nemtsov, ativista democrático massacrado" (político da oposição russa, assassinado no centro de Moscou em 2015.) A intenção parece ser humilhar os russos. Talvez os norte-americanos acreditem que Moscou não teria como retaliar.

Caso é que a embaixada dos EUA em Moscou está na rua Ulitsa Chaikovskaya (homenagem ao grande compositor russo), o consulado dos EUA em Yekaterinburg, na rua Gogol (homenagem ao grande romancista russo), o consulado em Vladivostok, na rua Pushkin (homenagem ao grande poeta russo). Talvez os russos possam mudar o nome da rua Furshtatskaya, onde está o consulado dos EUA em São Petersburgo. Mas é também pouco provável, porque os russos orgulham-se da própria história, cultura e tradição, e nessa rua Furshtatskaya há vários prédios da rica tradição arquitetônica czarista.

Essas provocações não serão sinais de impotência? Nas relações EUA-Rússia, sim, são, dado o fato de que nenhum dos lados tem qualquer poder sobre o outro, exceto talvez no plano simbólico. Mas os EUA entendem a linguagem da "reciprocidade". 

Em 2014, o Congresso dos EUA aprovou a mudança de nome da Rua Washington, onde está a embaixada da China, que passaria a chamar-se Praça Liu Xiaobo (homenagem ao dissidente chinês.) Porém, quando transpirou a notícia de que os chineses poderiam simplesmente mudar o nome da rua onde está a embaixada dos EUA em Pequim, para Rua Snowden (homenagem ao famoso 'vazador' ex-CIA, que detonou todo o sistema de espionagem dos EUA quando desembarcou em Hong Kong em 2013), os norte-americanos retrocederam.

Às vezes, há risco real de o país alvo conseguir rir por último.

Depois da Revolução Islâmica de 1979 no Irã, os vitoriosos em Teerã mudaram o nome da Rua Churchill, onde estava a embaixada britânica, para Rua Bobby Sands (homenagem ao militante do IRA que morreu em greve de fome na prisão). Mas subestimaram os britânicos, que imediatamente abriram nova entrada para o conjunto de prédios (localizado numa esquina), com o que o endereço da embaixada passou a ser Rua Ferdowsi (grande poeta persa e figura reverenciada até pelos revolucionários iranianos).


Fato é que Moscou pode responder à altura. Por que não mudam o nome da Praça Spasopeskovskaya, endereço da residência do embaixador dos EUA em Moscou, para "Praça Edward Snowden"? O heroico sentinela tocador de apito para alertar o povo, afinal de contas, vive hoje lá, em Moscou, naquela bela cidade.

blogdoalok

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