Thierry Meyssan: A «Entente cordial» Franco-britânica - Noticia Final

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terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Thierry Meyssan: A «Entente cordial» Franco-britânica

Tendo passado despercebido no Ocidente, o relançamento do Tratado de Lancaster House por Londres e Paris instaura uma super «Entente cordial», bem mais profunda que a de 1904. Ela situa-se dentro do restabelecimento de um mundo bipolar e provocará inevitavelmente a saída da França da União Europeia, e o retorno das tensões entre Paris e Berlim.
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Em 2010, David Cameron e Nicolas Sarkozy decidiram juntar as forças de projecção do Reino Unido e da França [1]. Por «força de projecção», deve entender-se as antigas tropas coloniais. O Tratado de Lancaster House era composto por vários anexos, dos quais um previa um gigantesco exercício conjunto, Southern Mistral. Constatou-se, alguns meses mais tarde, que o exercício se transformou numa verdadeira mobilização das mesmas unidades, e na mesma data, para uma guerra real contra a Líbia, com o nome de código de Operação Harmattan (tradução literal de Southern Mistral) [2].
À época, a iniciativa franco-britânica foi orientada por Washington sob o princípio de aplicação da estratégia de «liderança nos bastidores». As tropas dos dois países apareciam no palco principal, enquanto nos bastidores Washington lhes indicava missões precisas.
O Tratado de Lancaster House visava criar um quadro legal para intervenções como aquela (a acontecer) contra a Líbia, e para fundir as forças por uma preocupação de economia e de eficiência. Tal escolha implica uma verdadeira revolução: uma política externa comum.
No entanto, o impulso insuflado pelo Tratado e pela expedição contra a Líbia dissipa-se progressivamente com a inquietação da opinião pública, e de diplomatas britânicos, que se seguiu à Resistência iraquiana à ocupação anglo-saxónica [3]. Assim, a partir de 2004, o Reino Unido começou a preparar uma nova «revolta árabe», tal como em 1915, com o nome de «primavera árabe» [4], mas depois recusou bombardear Damasco.
Actualmente, Londres está em vias de reorganizar a sua Defesa no seguimento do Brexit, devido à recusa de Donald Trump em continuar a manipular o terrorismo islâmico, e à implantação russa na Síria.
Primeiro, Londres assinou acordos bilaterais com a Dinamarca, os Países Baixos, a Noruega e os Estados bálticos, estabelecendo o quadro para eventuais acções comuns posteriores. Depois, começou a reorganizar as redes jiadistas do Médio-Oriente em torno da Turquia e do Catar. Ela promoveu a reaproximação militar da Turquia, da Somália, do Sudão e do Chade. Por fim, apoiando-se no Tratado de Lancaster House, coloca em marcha hoje em dia uma grande «Entente cordial» com a França.
Se o Tratado negociado por David Cameron e Nicolas Sarkozy podia parecer não ser mais que uma oportunidade para fazer a guerra à Líbia, o relançamento deste Tratado por Theresa May e Emmanuel Macron é o fruto de uma escolha pensada a longo prazo [5]. Esta nova etapa foi negociada pelo mentor do Presidente Macron, Jean-Pierre Jouyet, o novo embaixador da França em Londres.
Londres e Paris têm ambos assento, como membros efectivos, no Conselho de Segurança da ONU. Dispõem da arma nuclear. Em conjunto, têm um orçamento militar 30% superior ao da Rússia (mas inferior ao dos Estados Unidos e da China).
Paris, ao escolher privilegiar a sua aliança militar com Londres, afasta-se de Berlim, a qual prepara o seu rearmamento e deseja tomar a liderança dos outros exércitos europeus [6]. Se este processo continuar, Paris, por seu lado, deverá sair da União Europeia da qual Berlim assume, de facto, já a liderança.
As declarações de Emmanuel Macron, e a criação por Theresa May de uma unidade militar contra as «mentiras» russas [7], anunciam o retorno de um mundo bipolar e a censura das informações provenientes de Moscovo. O abandono do casamento franco-alemão, por uma Entente franco-britânica, anuncia, quanto a si, o retorno das tão temidas tensões entre Paris e Berlim.
Tradução
Alva

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