Trump, o Gorbatchev norte-americano. - Noticia Final

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terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Trump, o Gorbatchev norte-americano.

Para Thierry Meyssan, a política dos Estados Unidos desde a queda da União Soviética é um embate entre duas escolas. De um lado os partidários da prosperidade, do outro os do imperialismo. O Dinheiro ou o Poder. Esta clivagem passa pelo seio de cada partido, Republicano e Democrata. Entretanto o tempo passa e os Estados Unidos chegaram à beira do colapso interno. Desde já, Donald Trump colocou-se na desconfortável posição de Mikhaïl Gorbatchev.
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Todas as questões internacionais em suspenso são perturbadas pela recusa dos Estados Unidos —e por vezes dos seus aliados europeus— em admitir o crescimento de outros países. Washington não hesita em recorrer a métodos inconfessáveis para retardar a queda do seu império.
Lembremos o fim da União Soviética, em 1991. Esse colosso afundou-se, deixando a economia das suas populações andar para trás várias décadas, a esperança de vida dos seus habitantes cair brutalmente mais de vinte anos, e provocando a queda em cascata de vários dos seus aliados. À época, a questão de saber quais seriam as consequências desse cataclismo sobre o outro grande império do XXº século —os Estados Unidos e seus aliados— já se colocava.
Um eminente politólogo russo, Igor Panarin, predizia a desagregação dos Estados Unidos em cinco países distintos, de acordo com as origens étnicas dos seus habitantes. Alguns estimaram que ele projectava sobre o rival EUA o raciocínio que a politóloga francesa, Hélène Carrère d’Encausse, havia imaginado para a URSS; um cenário que não se verificara, mas que acabou no entanto influenciando o futuro do antigo espaço soviético.
Buscando evitar a implosão do seu país, o Presidente George H. Bush decidiu acabar, o mais rápido possível, com o aparelho militar da Guerra Fria. Ele fez com que a liderança dos EUA fosse reconhecida mundialmente com a Operação Tempestade no Deserto, depois desmobilizou mais de um milhão de soldados, quer dizer metade dos efectivos. Ele reorientou, então, a sua política pensando entrar numa era de paz e prosperidade. Ele dotou, no entanto, o seu país de uma doutrina visando prevenir a emergência de um novo concorrente. Como há época ninguém concebia um ressurgimento da Rússia, a curto ou médio prazo, o seu conselheiro de extrema-esquerda, Paul Wolfowitz, convenceu-o a travar a União Europeia.
Temendo o espectro do colapso, o Partido Republicano apoderou-se da Câmara dos Representantes para aí promover o seu Contrato com os Estados Unidos (Contract with America). Impôs ao Presidente Democrata Bill Clinton, em 1995, o rearmar do país e a integração dos antigos membros do Pacto de Varsóvia no seio da Aliança Atlântica. Ora, não havia mais nenhum inimigo no momento, portanto não havia razão para se armar, nem para perpetuar a OTAN. O Congresso rejeitou o sonho dos Presidentes Bush pai e Clinton, de um mundo onde, privado de um rival a sério, os Estados Unidos se tornariam o motor da economia mundial. Mas, ao contrário, ele considerava que o Pentágono devia aproveitar o desaparecimento da URSS para estender a seu domínio a todo o planeta.
Quando o rearmamento foi aprovado, verificou-se que, com o aval mas sem a vontade do Presidente Clinton, o Pentágono estava implicado nas guerras da Jugoslávia. Rapidamente esse envolvimento se tornou público e levou à guerra da OTAN contra a futura Sérvia
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Em Setembro de 2000, o Projecto para um Novo Século Americano (PNAC) publica o seu programa: «Reconstruir as defesas da América».
Simultaneamente, membros do “governo de continuidade” [1] (Dick Cheney, Donald Rumsfeld, James Woolsey, etc.) lançaram o Projecto para um Novo Século Americano (Project for the New American Century). O seus objectivos eram [2] : 
- a defesa da pátria ; 
- a luta e a vitória nas várias guerras principais, simultâneas, (o importante, é a vitória, iremos vê-los, por outro lado, justificar estes conflitos. NdA) ; 
- a concretização das missões habituais das forças armadas (principalmente a defesa das multinacionais explorando o petróleo. (NdA) ; 
- e a transformação das forças armadas afim de explorar a revolução nos assuntos militares.

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“Powerpoint” extraído de uma conferência do Almirante Cebrowki no Pentágono, a 23 de Julho de 2003. À esquerda, a roxo, a zona na qual convirá destruir os Estados e as sociedades.
Apenas os iniciados sabiam, há época, que o quarto ponto remetia para estratégia elaborada por um dos protegidos de Rumsfeld, o futuro responsável no Pentágono do Gabinete de Operacionalização de Força (Office of Force Transformation), o Almirante Arthur Cebrowski [3]. Esta estratégia foi ensinada nas diferentes academias militares desde o fim 2001, depois vulgarizada, em 2004, pelo assistente de Cebrowski, Thomas Barnett [4]. Nós vê-mo-la em acção desde os atentados do 11-de-Setembro com a destruição progressiva de Estados e de sociedades no conjunto do Médio-Oriente Alargado (Greater Middle East), sob pretextos diversos que mascaram o esquema.
Actualmente, o rearmamento operado em 1995 e a estratégia da Novo Mapa do Pentágono (Pentagon’s new map), implementada no Médio-Oriente Alargado desde 2001, estão à beira do colapso. Enquanto os Estados Unidos concentravam o essencial dos seus rendimentos a destruir o mundo muçulmano, outros países desenvolveram-se, entre os quais a Rússia e a China. Hoje em dia, as Forças Armadas dos EUA já não são o primeiro exército do mundo.
Foi, aliás, o que reconheceu o Presidente Donald Trump na sua Estratégia de Segurança Nacional, e o General James Mattis, seu Secretário da Defesa, aquando da sua alocução de 17 de Janeiro, na Universidade John Hopkins [5]. Mesmo que não tenham dito explicitamente que estavam ultrapassadas, eles colocaram como prioridade absoluta «restabelecer [a sua] vantagem militar comparativa», o que nos leva ao mesmo.
EstadoDespesa militar em 2015 (fonte SIPRI)
Estados Unidos611 mil milhões (bilhões-br) de dólares
China215 mil milhões de dólares
Rússia69 mil milhões de dólares
Arábia Saudita63 mil milhões de dólares
Índia65 mil milhões de dólares
Claro, as Forças Armadas dos EUA têm um orçamento sem equivalente, nove vezes superior ao da Rússia. Mas os seus exércitos têm resultados deploráveis [6]. Na Síria e no Iraque, o Pentágono colocou contra o Daesh (E.I.) cerca de 10. 000 homens dos quais somente um terço são soldados e dois terços «contratados» (mercenários) de companhias privadas. O orçamento desta operação é sete vezes superior ao da Rússia para um balanço militar sofrível. Não somente Donald Rumsfeld, que havia reorganizado com brilho a multinacional Gilead Science que ele dirigira, não conseguiu reformar o secretariado da Defesa, como, pelo contrário, quanto mais dinheiro lá se mete menos eficaz ele se mostra.
É certo que o armamento americano é produzido em grandes quantidades, mas está obsoleto face aos da Rússia e da China. Os engenheiros dos EUA já não têm a capacidade para criar novas armas, tal como atesta o fiasco do programa do F-35. Quando muito, conseguem retocar antigas carcaças e apresentá-las como novas aeronaves. Tal como observou o Presidente Trump na sua Estratégia Nacional de Segurança, o problema vem, ao mesmo tempo, tanto do colapso da Pesquisa e Desenvolvimento como da corrupção omnipresente nas aquisições do Pentágono. Os industriais de armamento têm os seus produtos automaticamente vendidos, enquanto a Secretaria da Defesa ignora aquilo de que ela realmente precisa [7].
Qualquer que seja a maneira como se aborde o problema, o Exército norte-americano é um «tigre de papel» e não há nenhuma esperança de o reformar a curto ou médio prazo, e ainda menos que ele ultrapasse de novo os seus concorrentes russo e chinês.
A eleição de Donald Trump para a Casa Branca é, sobretudo, a consequência deste colapso indiscutível. A única solução para manter o nível de vida dos Norte-americanos é, com efeito, a de abandonar imediatamente o seu sonho de império global e regressar aos princípios da República norte-americana de 1789, os do Bill of Rights (Declaração de Direitos- ndT).
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Segundo o «Prémio Nobel» de economia, Angus Deaton, a esperança de vida dos Brancos norte-americanos caiu enormemente desde 2001, enquanto para todas as outras categorias da população dos EUA ela aumenta.
No decurso dos últimos dezasseis anos, os velhíssimos problemas da sociedade norte-americana aumentaram de maneira exponencial. Por exemplo, o consumo de drogas, até aqui apanágio de minorias, transformou-se numa epidemia entre a população de homens brancos [8]. Ao ponto de que a luta contra os opiáceos foi elevada a grande causa nacional. Ou, ainda, a posse de armas se ter tornado uma obsessão. Já não se trata mais do direito constitucional de se preparar para lutar contra eventuais abusos de Estado, nem do comportamento de cowboys face a eventuais bandoleiros, mas, antes do medo quanto a possíveis motins generalizados. Durante as três últimas Black Friday (sexta-feira negra- ndT), as armas tornaram-se o produto mais comprado, em vez dos telefones portáteis (celulares-br). Cerca de 185 mil foram vendidas num único dia em 2015 e 2016, e mais de 200 mil em 2017 [9]. Por fim, os Norte-americanos, desde que tenham as posses financeiras necessárias, agrupam-se agora em compounds (condomínios-ndT) com pessoas saídas do mesmo grupo cultural [10] e da mesma classe social.
Desde logo, as relações internacionais são actualmente dominadas por esta interrogação : os Estados Unidos aceitam, ou não, o seu nível actual [11]. Donald Trump encontra-se hoje na desconfortável posição em que Mikhaïl Gorbatchev estava colocado.

Tradução
Alva

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