Será que União Eurasiática ameaça Ocidente com ressureição da URSS? (EXCLUSIVO) - Noticia Final

Ultimas Notícias

Post Top Ad

Responsive Ads Here

Post Top Ad

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Será que União Eurasiática ameaça Ocidente com ressureição da URSS? (EXCLUSIVO)

Nos bastidores do anual Fórum de Investimentos 2018 em Sochi, a Sputnik Brasil em exclusiva falou com Konstantin Kolpakov, presidente do Conselho de Jovens Diplomatas da Rússia, sobre as atividades desta estrutura e o desenvolvimento de projetos de integração em que Moscou se envolve hoje em dia, inclusive os BRICS e a União Eurasiática.
Reunião do Conselho Econômico Supremo da União Euroasiática (foto de arquivo)


A entidade, criada em 2001 pela iniciativa de um grupo de recém-formados diplomatas russos que queriam apresentar suas propostas às camadas mais altas da chancelaria russa, está se tornando cada vez mais influente em formação da agenda do dia de diferentes cúpulas internacionais e regionais.
Desta vez, no âmbito do Fórum de Investimentos da Rússia na cidade olímpica de Sochi, os altos representantes da organização organizaram uma discussão plenária "Diplomacia econômica vista por empresários", com o fim de analisar e incentivar um diálogo de negócios com outros países, tanto com os vizinhos quanto com os parceiros mais distantes, apesar de tais dificuldades como sanções.
Um dos destaques do debate foi o provável desenvolvimento da chamada União Eurasiática, projeto que abrange a União Econômica Eurasiática (UEE) criada em 2014, bem como ulterior estreitamento dos laços políticos entre os países do espaço pós-soviético. Na sequência do evento, a Sputnik Brasil fez questão de falar com o presidente do Conselho de Jovens Diplomatas da Rússia, Konstantin Kolpakov, para descobrir mais sobre o assunto.
Vale assinalar que o diplomata destaca o fato dele ser o representante da sua entidade, ou seja, da comunidade de jovens funcionários do Ministério do Exterior russo, e sua analise não representa de fato a postura oficial da chancelaria do país, mas reflete uma visão comum dos especialistas deste grupo.
Sputnik Brasil: Em sua opinião, hoje em dia quais são as principais dificuldades e, por outro lado, fatores positivos para a realização deste amplo projeto de integração, isto é, a União Euroasiática?
Konstantin Kolpakov: O mais importante é que evidenciamos, de fato, como em quase 10 anos a União Aduaneira da Eurásia (UAE) evoluiu em uma união de integração em plena forma, em um espaço econômico eurasiático. De qualquer maneira, ela já é uma coisa real, representa um fator [… ] que proporciona preferências a seus participantes. E suas perspetivas, como achamos, são muito e muito boas. Claro que há certas discordâncias relacionadas com as peculiaridades da legislação econômica de certos países, que por enquanto impedem o desenvolvimento mais rápido deste tipo de interação, mas ao mesmo tempo vemos que há todo o mecanismo que funciona em base de rotação de presidência dos países-membros.
O diplomata fez lembrar que o rumo euroasiático, bem como a parceria no âmbito da Comunidade de Estados Independentes, criada na sequência do colapso da URSS para preservar os laços entre as ex-repúblicas soviéticas na época, representa uma prioridade para a política exterior russa, o que se sublinha inclusive em todos os documentos oficiais da chancelaria.
"É certo que, tendo as relações boas, reciprocamente vantajosas, abertas e construídas a pé de igualdade com os nossos vizinhos, poderemos crescer de modo muito mais sustentável e eficiente", observou o especialista.
Entretanto, muitas vezes os políticos ocidentais tentam apresentar, de modo deliberado ou não, esta união como uma tentativa de fazer ressurgir de fato a União Soviética. Por exemplo, em 2012 a então secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, apelou para prevenir as tentativas russas para dar a vida a tal projeto por o considerar como um ato de "resovietização".
"Sim, claro que já tivemos uma integração política neste espaço [euroasiático], e ela existiu no âmbito da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, que depois se transformou na Comunidade de Estados Independentes. Naturalmente para a Rússia é mais fácil desenvolver a integração econômica se baseando em aquilo que houve na URSS. Será que isso tem a ver com motivos políticos? Acredito que não. […] Alguém quer apresenta-lo como uma espécie de união política, mas aqui é preciso se dar de conta que quando as pessoas falam disso, eles também perseguem seus próprios interesses, Talvez, pela capacidade competitiva da UEE, pelas perspetivas do seu desenvolvimento. Repito que esta forma de integração não é dirigida contra alguém, é uma visão categoricamente errada", manifestou o diplomata.
Ademais, Kolpakov frisou que Moscou continua aberta para todo o tipo de diálogos e empreende esforços para promove-los, inclusive entre a União Econômica Eurasiática e a União Europeia.
"Infelizmente, os estereótipos e a simplificação existem nesta etapa, especialmente no espaço midiático. Mas uma pessoa que realmente se debruça sobre a economia e a política internacionais nunca iria afirmar que isto [projeto da União Euroasiática] é ressurgimento da URSS, pois é impossível em princípio, por muitas razões. A outra coisa é que toda essa retórica pode inclusive refletir algumas manobras dos concorrentes, quanto [para eles] é desvantajoso que todo o potencial do espaço pós-sovíetico se use em plena forma", adiantou.
O alto responsável revelou também a iniciativa importante lançada pela entidade que preside, isto é, o Fórum de Jovens Diplomatas dos BRICS, e destacou expressamente os contatos frutíferos com a parte brasileira.
"Com o Brasil, em particular, tivemos muito prazer em trabalhar desde a primeira cúpula, pois nossos colegas do Itamaraty são muito ativos, criativos, altamente qualificados. Tanto em Moscou quanto em Calcutá [na Índia] e na China a delegação brasileira demonstrou um patamar muito alto. Até acordamos que eles vão tentar criar uma organização semelhante lá, na chancelaria brasileira. Agora estamos em fase de negociação, e, talvez, logo tenhamos uma cooperação bilateral entre o Conselho de Jovens Diplomatas da Rússia e uma entidade parecida do lado brasileiro", contou.
S: No ano passado, durante a cúpula dos BRICS em Xiamen, na China, foi proposto um novo formato BRICS+ que gerou bastante polêmica. O que acha desta ideia? É uma espécie de ampliação de fronteiras ou, pelo contrário, uma erosão do plataforma?
KK: Já faz 4 anos que organizamos tal evento como o Fórum de Jovens Diplomatas dos BRICS. Esta iniciativa foi promovida pelo Conselho de Jovens Diplomatas da Rússia com o apoio do Ministério do Exterior do país, recebeu um feedback positivo de todos os países-participantes. […] Cunhamos até tal termo como a "diplomacia leve". Existe, por exemplo, a diplomacia "pública" ou "suave", esta é a diplomacia "leve" que é de fato a mesma que comum, mas difere pela idade dos envolvidos. Trata-se dos jovens especialistas que não ultrapassam o nível do primeiro secretário e não são maiores a 35 anos. […] Este formato nos permite, em patamar menos alto, conhecer nossos colegas, saber como eles veem as perspetivas da nossa cooperação. E se nós também recebermos uma proposta de amplia-lo em dito formato BRICS+, estaremos muito interessados, pois isto corresponde a nossas aspirações de criar uma Associação Internacional de Jovens Diplomatas, iniciativa lançada em outubro de 2017.
Konstantin Kolpakov, presidente do Conselho de Jovens Diplomatas da Rússia (à esquerda), e seu vice Areg Agasaryan (à direita) durante o Fórum de Investimentos 2018 em Sochi, em 15 de janeiro de 2018
Konstantin Kolpakov, presidente do Conselho de Jovens Diplomatas da Rússia (à esquerda), e seu vice Areg Agasaryan (à direita) durante o Fórum de Investimentos 2018 em Sochi, em 15 de janeiro de 2018
Ao resumir, Kolpakov ressaltou que tal configuração torna a parceria muito mais multifacetada, pois ajuda as partes a construírem os canais de comunicação mais informais e os usar nos momentos de crises.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Post Top Ad