Governos decretaram a 'verdade' sobre Skripal. Não se admitem vozes dissidentes - Noticia Final

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domingo, 18 de março de 2018

Governos decretaram a 'verdade' sobre Skripal. Não se admitem vozes dissidentes


Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu

O incidente "Skripal" é hoje, por deliberação ou por acaso, parte de campanha muito maior sobre a dominação 'ocidental' sobre 'o leste'. A Rússia, que pôs fim ao momento unilateral  da primazia unilateral dos EUA, é hoje o principal alvo. A situação é extremamente perigosa, porque qualquer escalada, no Oriente Médio, na Ucrânia ou onde for, pode levar a uma guerra entre potências nucleares.
A 'verdade' que o governo decretou sobre o caso Skripal tem muitas discrepâncias. A conexão do caso com os russos é muito mais fraca do que as 'notícias' fazem crer. Mas não se admitem dúvidas nem qualquer dissidência.
A resposta política em torno do incidente que envolveu o agente duplo britânico-russo Sergej Skripal e sua filha começou devagar. No domingo, 4 de março, Skripal e a filha foram encontrados inconscientes num banco de rua em Salisbury, Inglaterra. A polícia e os serviços locais de emergência assumiram o atendimento.

Só dia 8 de março o caso começou a gerar ondas maiores. A BBC noticiou:

Falando à Câmara dos Comuns, a ministra do Interior do Reino Unido [Amber Rudd] disse que o ataque foi "tentativa de assassinato, no modo mais cruel e público".
...
Recusou-se a especular sobre se o Estado russo estaria envolvido no ataque, dizendo que a investigação policial deve basear-se em "fatos, não rumores".


Além de Skripal e da filha, um oficial de polícia também foi afetado:

"Um policial, que estava sendo atendido em UTI, está agora "estável e consciente" – disse o chefe de Polícia de Wiltshire.

Não se sabe onde o policial teria tido contato com o que se diz que teria sido um veneno. Alguns relatos dizem que foi na casa de Skripal, outros dizem que teria sido no banco onde Skripal tombou.


Mas um médico e outros que fizeram o primeiro atendimento não foram afetados:

Uma médica, que foi das primeiras a chegar ao local contou que encontrou Miss Skripal caída inconsciente num banco, vomitando e com convulsões. Também perdera o controle das funções corporais.
A mulher, que pediu para não ser identificada, disse a BBC que pôs Miss Skripal na posição padrão para recuperação e abriu-lhe as vias aéreas, enquanto outros atendiam o pai dela.
Disse que tratou da moça por quase 30 minutos, e que não viu sinal de qualquer agente químico nem no rosto nem no corpo de Miss Skripal.
A médica disse que pensou que seria afetada pelo gás de veneno de ação neurológica, mas que não, que "sente-se ótima".

Essa informação parece excluir veneno altamente tóxico ou substância absorvida pela pele. Nesse caso, como o policial hospitalizado teria sido afetado?

Consta que os Skripals estão vivos. Não se publicaram novos detalhes sobre o suposto veneno, nem qualquer boletim médico foi emitido sobre o estado de saúde deles.

Depois de um início lento, o governo britânico está agora animando um imenso show em torno do caso, envolvendo o exército e enviando para as ruas legiões de pessoas cobertos pelos mais coloridos e obviamente desnecessários trajes de alta proteção.


Na imagem, vê-se um policial sem qualquer proteção contra qualquer tipo de gás ou outro agente tóxico, ao lado de outros, super protegidos

Também tem plantado incontáveis rumores. Dia 9 de março foi dito que o veneno teria provavelmente vindo de dentro da casa de Skripal-pai. Há três dias, se disse que teria sido posto na maçaneta da porta do carro de Skripal, hoje, que teria saído da mala da filha de Skripal. Tudo isso se baseia em vazamentos saídos de fontes oficiais anônimas. O mais provável é que nada disso seja verdade.


Hoje, doze dias depois do incidente, ainda não se conhece a substância química que teria envenenado pai e filha, e onde e como foi administrada.

O ex-embaixador britânico Craig Murray informou que o laboratório britânico de armas químicas em Porton Down, a apenas 12 quilômetros do local do incidente, não tem certeza quanto à substância (se houve alguma) realmente envolvida:

Acabo de receber confirmação, de fonte bem posicionada no Foreign and Commonwealth Office (FCO), de que os cientistas de Porton Down não conseguiram confirmar que o gás de efeito neurológico seja de fabricação russa, e ressentem-se da pressão aplicada sobre eles para que confirmem. Porton Down só teria assinado a declaração de que "o gás é de um tipo desenvolvido pela Rússia" depois de reunião muito difícil na qual essa teria sido a fórmula afinal aceita por todos.
Culpar a Rússia de usar um veneno "de um tipo desenvolvido pela Rússia" (i.e. a União Soviética) equivale a culpar a Alemanha por todos os hoje dependentes de heroína, porque a empresa Bayer, do Reich alemão, desenvolveu o processo para produção em massa de heroína então usada como sedativo contra a tosse.

Em sua fala em "45 minutes" dia 12 de março, Theresa May usou exatamente as mesmas palavras:

Hoje já está claro que Mr Skripal e a filha foram envenenados com um agente de ação neurológica de grau militar de um tipo desenvolvido pela Rússia. É parte de um grupo de agentes de ação neurológica conhecido como Novichok.

"De um tipo desenvolvido pela Rússia" já virou formulação padrão, que todo o governo britânico e aliados estão usando. Parece aplicar-se a um universo de substâncias químicas, as Novichoks, que nos anos 1980s um laboratório soviético onde hoje é o Uzbequistão talvez tenha pesquisado como arma química potencial. Há sérias dúvidas, inclusive de um destacado cientista de Porton Down, de que essas Novichoks tenham algum dia existido.


Alguém no aparelho de propaganda do governo britânico provavelmente assistiu às temporadas recentes da série britânica-norte-americana de espionagem Strike Back. Nina Byzantina chama a atenção para as sinopses de episódios recentes:

Episódio 50, exibido no Reino Unido dia 21/11/2017 e nos EUA dia 23/2/2018:

Enquanto isso, o general Lázsló fecha a Sessão 20, obrigando Donovan a trabalhar em segredo. Ela descobre que Zaryn é de fato Karim Markov, cientista russo que teria assassinado colegas com Novichok, substância de ação neurológica que eles inventaram.

Episódio 51, exibido no Reino Unido dia 28/11/2017 e nos EUA dia 2/3/2018:

Seção 20 rastreia o laboratório de metanfetamina em Turov onde Markov está produzindo mais Novichok e o destrói, mas Berisovich escapa com Markov.

Episódio 52 exibido no Reino Unido dia 31/1/2018 e nos EUA dia 9/3/2018:

Sessão 20 rastreia Maya, uma mulher muçulmana local, radicalizada por Lowry, até um aeroporto local. Quando ela tenta liberar o Novichok, Reynolds atira nela. Mas o Novichok é falso, porque Berisovich não quer que se cometa um ataque em seu país. (...) Quando Sessão 20 chega, Berisovich já chamou as FSB [Forças Especiais de Segurança da Rússia] para extrair Markov e confiscar o Novichok. Yuri ressurge para matar McAllister e Wyatt. Mas eles viram as mesas e o matam por estrangulamento.  Eles então conseguem convencer as FSB e conter o gás. Mas no processo, a identidade de Reynolds é revelada. Markov trabalha num antídoto, mas é morto pelos russos antes de completar o trabalho. McAllister improvisa e salva Reynolds, antes de Novin explodir o laboratório. Lowry usa o resto do gás para matar Berisovich por ter tentado traí-la.

Não é mesmo inacreditável o quanto a vida segue o roteiro do novelão da TV semana passada?! Ou o novelão seguiu roteiro maior, escrito antes? (Lembram-se do episódio-piloto de X-Files (vídeo) exibido em março de 2001 [no orig. "2011", claro erro de digitação (NTs)], que previu o 11/9?) Quem realmente deu a ideia, ao governo britânico, de pôr a culpa na Rússia e nas drogas Novichoks pelo incidente que envolveu os Skripals? Os especialistas em Porton Down, algum novelão que está passando na TV ou uma agência de propaganda?


O químico soviético Vil Mirzanyanov, que hoje vive nos EUA é a única pessoa que diz que as Novichocks foram armas químicas reais. Porton Down e a Organização para a Proibição de Armas Químicas [ing. OPCWnão aceitaram essa alegação. Em 2007, Mirzanyanov escreveu livro ainda encontrávelsobre seu trabalho no laboratório soviético no Uzbequistão e publicou as fórmulas químicas de supostas substâncias Novichok. Mas, como Mirzanyanovconcede, essas substâncias Novichok, se estiverem envolvidas, absolutamente não significam questão exclusivamente russa. O livro muito divulgado, de Vil Mirzanyanov, confirma isso. Como hoje o Wall Street Journal explica:
Essa publicidade levou ao vazamento da estrutura química, tornando a droga prontamente acessível para reproduzir em qualquer lugar, disse Ralf Trapp, consultor com base na França sobre o controle armas químicas e biológicas.
"A fórmula química foi divulgada, como se sabe, de publicações da então Checoslováquia, que haviam trabalhado em agentes semelhantes a esses, para defesa, nos anos 1980s," disse ele. "Tenho certeza de que outros países, com programas desenvolvidos, também teriam."
...
"A compreensão no momento foi que, embora a Rússia estivesse trabalhando nisso e desenvolvendo o produto, os russos não estocaram agentes ou drogas precursoras do Novichok," disse Trapp.

As fórmulas são conhecidas e vários outros países trabalharam em materiais semelhantes. Qualquer um com acesso a laboratório minimamente decente e algum conhecimento especializado pode produzir esses venenos. Assim se explica por que os especialistas em Porton Down não culpam a Rússia; e também se explica por que o governo britânico, ansioso para culpar a Rússia, só pode dizer, no máximo, que se trata de "um tipo [de veneno] desenvolvido pela Rússia".

A matéria do WSJ também explica por que será difícil descobrir de onde, quando e como os supostos venenos vieram para Salisbury:
Os componentes usados para produzir Novichok são facilmente acessíveis, mas têm vida curta e os riscos envolvidos no manuseio deles exigem experiência profissional, disseram especialistas em química e em armas.
...


Encontrar um rastro de Novichok seria ainda mais difícil, porque é transportado em duas partes que são combinadas para criar um líquido viscoso, apenas pouco tempo antes de o produto ser usado – disse Trapp.

Trapp é respeitado especialista nesse campo. Diz que os agentes que produzem Novichok são agentes binários, feitos de substâncias facilmente acessíveis, de vida curta. Essas características tornarão praticamente impossível encontrar um verdadeiro culpado.


A Rússia – que o governo britânico e agora também aliados dele acusam  sem apresentar qualquer prova – não tinha qualquer motivo para atacar os Skripals. Skripal pai, o britânico, agente duplo, foi libertado de uma prisão russa em 2010, numa troca de espiões presos. Viveu abertamente na Grã-Bretanha por oito anos. Se foi ato de vingança pró-Rússia, por que os russos esperaram tanto? Matar Skripal poria em risco os espiões russos devolvidos à Rússia em troca da liberdade de Skripal. Impedirá qualquer troca futura. Não há razão plausível para a Rússia ter feito tal coisa; e especialmente não há razão, na atmosfera atual.

Tem de haver outras razões que expliquem por que Skripal foi atacado, se é que foi, que incluam motivos mais recentes que o que foi atribuído hoje à Rússia.

Elijah Magnier, que tem décadas de experiência como corresponde de guerra, tenta enquadrar o incidente no quadro mais amplo da guerra por procuração EUA x Rússia hoje em curso no Oriente Médio:
Os EUA e a comunidade internacional tentaram pôr fim às batalhas de al-Ghouta, sem resultado. Com isso, Washington pôde exercitar seu passatempo preferido, de impor sanções à Rússia, mas nem assim conseguir impedir que o Exército Árabe Sírio (que luta sem seus aliados, exceto a Rússia) recuperasse o controle sobre Ghouta. A imediata resposta de Moscou, com ataque massivo a Daraa e bombardeio contra as áreas de influência da al-Qaeda, parece indicar o teatro onde se deve esperar que haja futura operação militar.
Mais uma vez, os eventos caminham muito depressa: a resposta dos EUA veio com a colaboração do aliado britânico, quando os britânicos aproveitaram-se do envenenamento de um ex-espião russo Sergey Skripal, em Londres, para acusar Moscou de estar por trás do atentado [no orig, "do assassinato". Pelo que se lê acima, "os Skripals estão vivos". Parece que o sujeito ñ morreu (a confirmar)]. A mensagem aqui é clara: todos os meios são legítimos para controlar o Oriente Médio, especificamente da Síria.

Não tenho certeza de que essa linha de raciocínio acompanhe a cronologia real. Os britânicos já falavam de 'culpa dos russos' dia 8 de março. A agência Reuters noticiou o bombardeio de Deraa dia 12 de março às 13h16. A primeira-ministra britânica May subiu o tom das acusações contra a Rússia apenas umas poucas horas depois disso. Negociar aquela declaração com a agência em Porton Down tomou, com certeza, mais tempo.


O incidente Skripal teve origem em algo diferente, em coisa como seu suposto envolvimento no sujíssimo dossiê Steele cujo alvo era Donald Trump. (Contexto interessante no qual analisar a conexão Skripal-Steele encontra-se em UKColumn.) A declaração de May não foi motivada pelo bombardeio sírio-russo em Deraa: é parte de campanha geral anti-Rússia.

Magnier acerta porém ao apontar que é bastante possível uma escalada ainda maior:
A guerra na Síria está longe de ser guerra 'normal'. Lá se trata de "A" guerra entre duas superpotências armadas com bombas atômicas, e respectivos aliados, na qual soldados dos EUA e da Rússia estão diretamente envolvidos em campo, numa guerra por dominação e poder. A ausência de vitória aos olhos dos EUA é ainda pior que perder uma batalha. E, ainda pior: nessas circunstâncias, a vitória dos russos e seus aliados, em solo sírio, em qualquer batalha, é golpe que atinge diretamente o coração de Washington e aliados.
...
As superpotências estão à beira de um abismo. O perigo de tombarem numa guerra de proporções cósmicas deixou de ser coisa da imaginação, ou simplesmente uma parte sensacionalista de cálculos não realistas.

O espalhafato e a publicidade imensos que a mídia gera em torno do caso Skripal têm, ao que tudo indica, coordenação centralizada. Alguém também está pressionando os países da OTAN e também políticos sérios para que se ponham do lado mais agressivo da campanha anti-Rússia. O porta-voz do governo francês primeiro rejeitou as acusações que Theresa May fez contra a Rússia. E exigiu provas:

"A França não faz política fantasiosa. Quando aparecerem as provas, então será hora de tomar decisões," – disse Griveaux em conferência de imprensa pouco depois de May anunciar que estava expulsando diplomatas russos e suspendendo conversações bilaterais.

Um dia depois, e sem que qualquer prova tivesse aparecido, a França mudou de posição e se uniu a outros que já acusavam a Rússia porque alguém teria usado veneno "de um tipo desenvolvido pela Rússia".


O líder da oposição britânica Jeremy Corbyn alertou contra se tomarem medidas contra a Rússia antes que se apresentem as indispensáveis provas. Imediatamente se tornou alvo de violentíssima campanha de difamação.

Até o chapéu de Corbyn, líder da oposição britânica, foi modificado com recursos de Photoshop pela produção do programa BBC Newsnight, para lhe dar ares 'de russo' 
(Se RT fizesse coisa semelhante, perderia imediatamente a licença para operar no Reino Unido.)

Corbyn cedeu e agora já diz até muito mais do que May:

"Theresa May acertou, 2ª-feira, ao identificar duas possibilidades para a fonte do ataque em Salisbury, uma vez que o agente de efeito neurológico usado foi identificado como fabricação original dos russos.


O palavreado cuidadosamente arquitetado de Theresa May, que disse que o agente seria "de um tipo desenvolvido na Rússia" não implica qualquer agente neurológico específico, nem que tivesse sido fabricado por russos. Corbyn caiu na armadilha.

O que estamos vendo aqui, com o incidente Skripal e a repetição do mote "Novichok" é gigantesca campanha de propaganda, comparável à que promoveu o pânico nos EUA em 2001 em torno do Anthrax e à campanha contra as "armas de destruição em massa" que empurrou os EUA e a Grã-Bretanha para a guerra contra o Iraque.

Provocar a Rússia mais e mais não terminará bem. Cascavéis são seres tímidos, mas em algumas situações são empurradas para situações em que não lhes resta qualquer escapatória que seja atacar e morder.

Se queremos impedir um confronto entre potências nucleares cujo final é imprevisível, que matará milhões logo nos primeiros momentos, temos todos de fazer ouvir nossas dúvidas e denunciar como falsas as acusações que hoje se fazem contra a Rússia e outros países.

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