Geopolítica da saída de Trump do acordo com o Irão - Noticia Final

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quarta-feira, 16 de maio de 2018

Geopolítica da saída de Trump do acordo com o Irão

por Melkulangara Bhadrakumar

A decisão do presidente Donald Trump de sair do pacto nuclear de 2015 com o Irão impacta significativamente as placas tectónicas da política mundial. Ao nível mais profundo, o enfraquecimento da liderança trans-Atlântica dos EUA que tem estado em andamento pode tornar-se irreversível. 

Sem dúvida, as capitais europeias estão raivosas e desapontadas. O apoio ao pacto de 2015 era profundo na Europa e a desilusão com a presidência Trump está generalizada na opinião pública europeia. 


Em princípio, uma "mudança de regime" em Washington na eleição de 2020 pode melhorar alguma coisa, mas dois anos é um longo tempo em política, nesse período a divisão entre os EUA e Europa pode aprofundar-se ainda mais e uma nova alquimia pode transformar radicalmente o Euro-Atlantismo enquanto tal, com a percepção crescente de que os EUA não são confiáveis e que é um parceiro cada vez mais malévolo. 

As corporações europeias estão a ser forçadas nos próximos seis meses a decidirem se desejam continuar a fazer negócios com os EUA ou se preferirão continuar a buscar oportunidades comerciais no Irão. A Europa resistirá a qualquer tentativa dos EUA de punirem companhias europeias. Ainda mais importante, a busca da Europa por mecanismos de pagamentos que contornem bancos americanos ganhará impulso. 

Mas estes são os primeiros dias e quaisquer previsões de um crack apocalíptico na aliança ocidental como tal será demasiado prematuro. Naturalmente, a administração Trump iniciou o controle de danos. Trump telefonou à primeira-ministra britânica Theresa May para coordenar esforços a fim de incentivar na opinião pública ocidental [a ideia] acerca do "comportamento desestabilizador do Irão", atrelando a campanha aos "ataques provocadores com roquetes do regime iraniano a partir da Síria contra cidadãos israelenses". 

A Grã-Bretanha está a desempenhar seu papel tradicional como porteiro de Washington na Europa ao ajudar a moderar a condenação francesa e alemã ao abandono de Trump do acordo do Irão. A recém nomeada sub-secretária de Estado para Controle de Armas e Segurança Internacional, Andrea L. Thompson, vai a Paris e Londres em 14-18 de Maio onde espera manter discussões bilaterais "sobre um conjunto de questões acerca de controle de armas e não proliferação". Thompson era a conselheira de segurança nacional do vice-presidente Mike Pence e havia anteriormente actuado como conselheiro especial no Gabinete de Planeamento Político do Departamento de Estado. Na sua nova pasta, Thompson, coronel na reserva, fica responsável pelo controle de armas e segurança internacional. 

Trump não parece pensar que a retirada do acordo de 2015 significa o fim de todas as opções diplomáticas – para os EUA ou para outros intervenientes (incluindo, talvez, também Teerão). Um período amortecedor de seis meses está pela frente antes de Trump ter de tomar algumas decisões importantes. É concebível que este período amortecedor possa mesmo ser um período de negociação. A Art of the Deal de Trump ainda pode resultar num "processo de negociação" com Teerão. O período amortecedor de seis meses que se seguirá seria um tempo de manobra crítica para todos os protagonistas. 

Portanto, por agora não há razão para antecipar uma inevitável expansão do conflito no Golfo Pérsico. O movimento de Trump dá aos estados do GCC [Conselho de Cooperação do Golfo] e a Israel algum tempo para reagruparem-se. Israel e a Arábia Saudita saudaram a decisão de Trump. Mas em termos significativos, é discutível que benefícios resultariam para eles. Dito de modo diferente, Israel e Arábia Saudita continuarão a pressionar os EUA a recorrerem à utilização da força contra o Irão antes mais cedo do que mais tarde – especialmente o acordo nuclear entrar em colapso completo e Teerão avançar o programa de enriquecimento [do urânio]. 

A Arábia Saudita e Israel provavelmente esperam reconstruir credibilidade estratégica na esperança de que o Irão será constrangido pelas sanções a reduzir suas missões militares regionais e guerras proxy. Mas pelo contrário, a alta probabilidade é de que o Irão, o qual agora se sente "libertado" do isco sedutor da abertura aos EUA e ao ocidente, possa mesmo expandir sua projecção de poder, uma vez que agora tem menos razão para constrangimento. 

A plena verdade é que novas sanções dos EUA não prejudicariam seriamente a economia iraniana. Muito depende da capacidade do Irão para vender petróleo no mercado mundial. Mas por um lado, um terço das exportações de petróleo do Irão vão para a China e é inconcebível que Beijing cooperasse com sanções dos EUA contra o Irão. De modo geral, as vendas ao Irão da China e da Rússia não seriam afectadas pelas sanções dos EUA. As sanções quase certamente acelerariam as transacções iranianas com fornecedores estrangeiros em divisas não-dólar, especialmente em yuan/renmbini e rublos russos. 

Considerando que a Arábia Saudita também está a mover-se rumo algumas vendas de petróleo em renminbi, a era da dominação total do mercado de energia em dólares – petrodólares – está a aproximar-se do fim após quase meio século de dominação total da economia global pelo US dólar como divisa universal de reserva. Washington pode mostrar uma cara valente a esta mudança tectónica no sistema financeiro internacional, mas há uma erosão grave da influência dos EUA nos mercados globais que está a caminho. 

Ironicamente, no futuro próximo do Médio Oriente, é possível que a decisão de Trump permita ao Irão maior latitude no desenvolvimento das suas capacidades estratégicas. O Irão provavelmente permaneceria no pacto de 2015 com as demais parte do acordo mas, paradoxalmente, o acordo já não possui o mesmo encanto para Teerão conto anteriormente, sem que Washington dele faça parte. De certa maneira, Teerão sentir-se-ia "liberta". A não esquecer: a elite do Irão havia concordado em primeira instância em reduzir o que fora uma capacidade rapidamente crescente para criar grandes quantidades de materiais físseis, ao invés de um compromisso construtivo com os EUA. 

Na verdade, o pacto de 2015 proporcionou uma janela de oportunidade também aos EUA para recuperar influência no Irão pelo princípio de um processo de normalização. Mas Washington desinteressou-se e, pode-se argumentar, Teerão também falhou em aproveitar-se plenamente da mesma. Agora, é a viragem histórica para a Rússia, a China e Turquia a moverem-se rapidamente para preencher o vácuo criado pelo novo regime de sanções dos EUA. Apesar de ser demasiado cedo para falar de um alinhamento político, os eventos por um lado pressionam para juntar o Irão, a Rússia e a Turquia, enquanto por outro lado colocam a União Europeia e a Rússia do mesmo lado. Na verdade, se escalarem as tensões estado-unidenses-iranianas, a Rússia pode encontrar-se numa posição não invejável para mediar a desescalada. Actualmente, contudo, os eventos estão a pressionar a junção do Irão, da Rússia e da Turquia, a qual tiveram relações mútuas problemáticas. 

O original encontra-se em www.strategic-culture.org/... 

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

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