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quarta-feira, 15 de agosto de 2018

A impotência da UE face às sanções americanas contra o Irão

por John Laughland

O espectáculo oferecido pelo presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, na cimeira da NATO em Bruxelas no mês passado, cambaleando de tal forma que teve de ser apoiado, simboliza o status da UE na cena mundial. 
Jean-Claude Juncker.
A resposta da UE à decisão de Donald Trump de activar sanções contra empresas europeias que negociem com o Irão, mostra que o bloco de 28 nações não é mais do que um velho imbecil que já não se aguenta nas pernas em matéria de política internacional. 
Não há qualquer dúvida de que os líderes da UE estão furiosos porque Trump mandou para o ar o seu querido acordo com o Irão. O seu furor é ainda agravado pelo facto de que no fundo eles sabem que não podem fazer nada a esse respeito. Líderes franceses como Emmanuel Macron e seu ministro das Finanças, Bruno Le Maire, podem deplorar o facto de que a Europa não é "soberana", tentando fazer da impotência da UE face ao unilateralismo dos EUA um argumento para uma maior integração europeia. No entanto, é a mesma política que eles seguem há mais de um quarto de século e que os levou ao impasse onde estão hoje. 

Em resposta às sanções ao Irão, a UE anunciou que estava implementando uma lei de "bloqueio", uma lei que nunca foi usada antes porque não funciona. Mesmo os grandes figurões de Bruxelas admitem que é inútil. Um deles teria dito : "É um sinal político dado pela UE. Não é uma cura milagrosa". Por outras palavras, esse estatuto não protegerá as empresas europeias contra as sanções dos EUA. Centenas delas estão actualmente a preparar-se para deixar o Irão, se é que já não o fizeram. Entre elas estão alguns dos maiores grupos industriais do mundo, a gigante petrolífera francesa Total e a Airbus, cujos contratos no valor de vários milhares de milhões acabaram por se transformar em nada graças ao presidente dos Estados Unidos. 

As instituições da UE adoptaram a posição do Partido Democrata dos EUA de que a Rússia é a causa de todas as "dúvidas" "divisões" dentro do bloco, mas o facto é que Donald Trump fez explodir sozinho o sonho europeu. A UE nunca foi nada mais além de um sonho, uma fantasia desprovida de toda a realidade. A ilusão de que a União Europeia tornaria Estados diferentes colectivamente mais fortes. A realidade é que a integração europeia foi, desde o início, um projecto apoiado pelos Estados Unidos para ajudar o Ocidente a conduzir a Guerra-fria. 

A integração da UE foi e continua a ser ideológica e institucionalmente inseparável da NATO, que é dominada pelos Estados Unidos. Por outras palavras, a integração europeia é impossível sem o apoio dos Estados Unidos e, portanto, quando a UE é privada dela, como é o caso com Trump, os líderes da UE estão completamente perdidos. 

Nenhum dos benefícios de uma união monetária prometida em Maastricht em 1991 e antes foram concretizados. Foi dito que o euro promoveria o crescimento, mas, de facto, desde a introdução da moeda única em 1999, os Estados Unidos largamente suplantaram a zona euro. Foi prometido que a zona euro protegeria os países de choques externos, mas o colapso da produção em resultado da crise financeira de 2008 foi tão importante na Europa como em qualquer outra parte. Acima de tudo, havia sido dito que o euro começaria a substituir o dólar como um instrumento do comércio internacional. Vinte anos depois, o dólar continua a ser uma moeda quase incontornável do comércio, particularmente no sector de petrolífero. 

Foi precisamente porque o BNP Paribas, como todos os bancos, usou dólares para contratos com o Irão e outros estados da lista negra, que foi atingido por uma multa gigantesca de 9 mil milhões de dólares pelos Estados Unidos em 2015. A UE não fez nada contra este flagrante abuso da jurisdição dos EUA sob o gentil Sr. Obama, mesmo que tenha sido exactamente o mesmo tipo de medidas que Trump acaba de anunciar: A multa ao BNP Paribas foi imposta imediatamente após a crise da Ucrânia, quando a UE, como de costume, correu para a sua babá americana a fim de se esconder nas suas saias. A UE está agora a colher uma nova safra de reveses sob a liderança do malvado Sr. Trump. 

Desde 2015, todos os bancos europeus têm fugido dos que dizem fazer negócios com um Estado pária como a Rússia, ou mais ainda com o Irão. Assim, as empresas simplesmente não têm a oportunidade de negociar com esses países. É tão simples como isto. Como disse Volker Treier, vice-director da Câmara Alemã de Comércio e Indústria: "Mesmo as empresas que não são afectadas por sanções dos EUA, tais como empresas na área médica ou que não têm comércio com os Estados Unidos, não conseguem encontrar um banco para lidar com o Irão". 

Os Estados Unidos assumiram portanto o controlo da economia mundial ameaçando estrangular o sistema bancário. A existência do euro não pôs fim a esta situação. 

Enquanto persistir o elo entre o dólar e o petróleo, um elo apoiado pela maciça dominação militar norte-americana do mundo, nada mudará. Militarmente, os estados europeus subcontratam a sua defesa aos Estados Unidos – a chamada "defesa europeia" é de facto assegurada pela NATO dominada pelos Estados Unidos. Como resultado, as capacidades militares das antigas grandes potências da história mundial, como a Grã-Bretanha, a França e a Alemanha, estão encolhendo. Quando uma potência nuclear como a França começa a se gabar de conduzir com êxito uma operação militar nos desertos de um Estado falido como o Mali, compreendemos que a Europa já não conta para mais nada. 

A agressão de Trump contra o Irão ocorre num momento em que a Europa está, mais uma vez, totalmente ausente da política mundial no Médio Oriente. Em 2011, a França e a Grã-Bretanha decidiram provocar uma mudança de regime na Síria, o que os tornou os primeiros países a romper relações diplomáticas com Damasco. A UE impôs um dos maiores pacotes de sanções da história àquele país. Agora que Damasco recupera o controle do conjunto do território sírio, com o apoio da Rússia e do Irão, a UE não sabe o que fazer. É difícil imaginar um fracasso da política externa mais impressionante. Mesmo uma das figuras mais irredutíveis de Israel, o ministro das Relações Exteriores, Avigdor Liberman, reconhece que Bashar Assad venceu a guerra na Síria e que Israel pode ter relações com ele. O espectacular fracasso diplomático da Europa está associado a um espectacular êxito diplomático (e militar) russo, já que a Rússia é hoje a charneira da paz entre Israel e o Irão. 

O maior fracasso da UE pode estar no óbvio colapso da sua ideologia. Desde a sua concepção inicial, nos anos 50, a construção da Europa baseou-se na ideia de que era possível superar o domínio da força e elevar-se a uma forma superior de relações internacionais. Essa é quase a mesma ideia que transmitida pelos ideólogos soviéticos que afirmavam que o bloco socialista tinha-se movido em direcção a uma nova forma de relações internacionais. 

Os dirigentes europeus tiveram a impressão de que a Rússia de Putin representava o retorno sem disfarces do reino da força: eles desaprovavam esse modo de fazer política e aproveitaram a oportunidade para se unirem e criarem uma espécie de coesão da treta para lutar contra o novo espantalho. 

Em contrapartida, a decisão de Trump de abandonar o multilateralismo enfraquece drasticamente a própria base sobre a qual a UE tem funcionado durante décadas, porque de repente os Estados Unidos não são mais o grande protector, mas se tornaram um inimigo. Os políticos europeus estão intelectualmente lobotomizados pela sua ideologia infantil pós-moderna e há muito esqueceram como fazer política real. 

Embalados pela falsa sensação de segurança daqueles que pensam que não é preciso pensar, os líderes aborrecidos e medíocres da UE são apenas gestores (muito maus); eles estão agora totalmente perdidos no mar agitado de um mundo tornado de repente incerto. É muito bem feito para eles. 

[*] Doutorado em filosofia pela Universidade de Oxford. Ensinou em universidades em Paris e Roma. É historiador e especialista em assuntos internacionais.

O original encontra-se em www.rt.com/op-ed/435327-iran-eu-sanctions-response/
e a versão em francês em www.legrandsoir.info/... 


Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

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