11/2/2018, Elijah J. Magnier (de Damasco), Blog
Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu
Autoridades que tomam decisões em Damasco disseram que “Síria e aliados decidiram agir com mais firmeza contra Israel, reproduzindo a bem-sucedida estratégia do Hezbollah em outros tempos (anos 90s), antes de os israelenses se retirarem do Líbano. A cada violação do espaço aéreo libanês sobre a capital Beirute, o Hezbollah atacava, com artilharia pesada, cidades israelenses ao longo da fronteira Líbano-Síria”.
“O comando sírio e seus aliados decidiram impor nova regra de engajamento a Israel: a cada violação do espaço aéreo sírio, Damasco responderá com mísseis contra áreas habitadas de Israel ao longo das colinas do Golan. Não temos intenção de atingir qualquer alvo em especial. Apenas que, se nos atacarem, nenhum israelense terá paz nas fronteiras e na área de tiro dos nossos mísseis. Que se abriguem. Acontecerá todas as vezes que a força aérea de Israel violar a soberania síria” – dizem fontes bem informadas.
De fato, há dois dias, ao derrubar o F-16 de Israel que invadiu espaço aéreo da Síria, Damasco já iniciou essa nova regra de engajamento e disparou 25 mísseis na direção das colinas do Golan e sobre território de Israel, o que obrigou Israel a fechar o aeroporto Ben Gurion por várias horas. A sirene tocou alta e clara em toda a área, ordenando que todos os civis buscassem o abrigo mais próximo.
Se o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu insiste nessa sua política, e a Síria implementa o novo “estilo” de resposta, necessária contra a política temerária do primeiro-ministro, a popularidade de Netanyahu sofrerá considerável dano.
Israel já viu que a derrota é dura de engolir, desde que seu F-16 foi derrubado e não há dúvida que tentará vingar-se. Mas durante os sete anos da guerra na Síria, Israel só fez “provocar batalhas rápidas entre guerras”, que prolongaram a guerra síria. Agora Israel está entendendo que quanto mais tempo durar a guerra, mais fortes serão os ataques do Exército Árabe Sírio, do Irã e do Hezbollah: agora o “Eixo da Resistência” representado por essas três forças está vencendo a guerra. As relações mudaram.
Mas o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu de Israel não aprendeu aquelas lições, e traiu também as decisões dos dirigentes políticos de seu próprio país. Netanyahu apareceu sete vezes ao lado do presidente russo Vladimir Putin, tentando convencer os israelenses de que seria capaz de impressionar o presidente russo sobre a importância de defender a qualquer custo a segurança de Israel. Como se se fazer fotografar ao lado do presidente Putin bastasse para garantir a Israel autoridade para fazer o que bem entendesse na Síria.
Mas Netanyahu não transmitiu aos seus parceiros e chefes em Israel o que Putin lhe disse claramente: “Não queremos nos intrometer na guerra de Israel contra o Hezbollah e o Irã. Mas de modo algum admitiremos qualquer ataque que ponha em risco o Exército Russo e aliados que combatem ao nosso lado em território sírio. Se você quiser atacar o depósito gigante de munição ou comboios do Hezbollah, problema seu”.
Moscou não quer Israel jogando em seu campo na Síria, e por várias razões: o Levante abriu completamente a porta para a Rússia, que já entrou no Oriente Médio, ganhou acesso robusto ao Mediterrâneo, pode agora sacudir a OTAN (graças a sua forte aliança com a Turquia) e restaurar o prestígio dos russos que os EUA feriram gravemente no Afeganistão. Claramente Moscou deseja desmantelar os planos dos EUA para enfraquecer a Rússia no plano econômico e político.
Os EUA, supondo que poderiam atacar a Rússia sem disparar qualquer reação, começaram por atacar economicamente a economia russa usando a Ucrânia, tentando interromper o fornecimento de gás russo que alimenta a Europa e é a pedra basilar da economia russa. E, por fim, os EUA tentaram afastar a Rússia completamente para longe do Oriente Médio, primeiro ao destruírem a Líbia; depois ao tentarem mudar o regime na Síria, Estado que abrigava a Marinha russa.
Moscou parece confiar nos próprios amigos e está protegendo seus interesses; isso é o que a Síria pode oferecer aos russos, e a Rússia tem muito a ganhar com preservar a Síria como Estado íntegro e forte. Vários analistas apostaram, ao longo da guerra, que a Rússia abandonaria o presidente Bashar al-Assad em troca de permanecer na Síria. Mas o mundo parece não compreender que a Rússia – bem como o Irã – viram em Bashar al-Assad (e em nenhum outro possível candidato à presidência) a única pessoa com força para cumprir o que promete **E** enfrentar os EUA.
Contudo, como os EUA, Israel recusa-se a aceitar o fato de que foi derrotado na Síria; tampouco aceitam o fracasso do 'projeto' de derrubar Assad e mudar o regime. Israel várias vezes atacou o Exército Árabe Sírio, sem conseguir mudar substancialmente a relação estratégica de poder na Síria. Mas esses ataques incomodaram a Rússia, o que explica por que Putin deu luz verde ao governo de Assad para apontar seus mísseis antiaéreos na direção de Israel.
A Força Aérea de Israel várias vezes no passado atacou em profundidade no deserto sírio, o que sempre causou desconforto aos russos. Netanyahu supôs que tudo continuaria como antes, porque ele, Bibi, apareceria como afilhado mimado do presidente Trump; e Vladimir Putin respeitaria essa 'relação'. Mas o primeiro-ministro de Israel nunca entendeu que a única razão pela qual o presidente russo parece feliz por Trump ter chegado ao poder em Washington é que Trump não sabe fazer política (para dizer o mínimo). Nessas condições, Moscou sabe que conseguirá prever com perfeição cada 'movimento' que assessores e militares em torno de Trump o mandarão dar. E o 'movimento' de Israel pôr-se a violar a soberania da Síria jamais será acobertado pela Rússia.
Quando Israel repetiu o 'movimento' de mandar aviões na direção do deserto sírio, mergulhando de cabeça na arapuca, foi surpreendido pela defesa aérea dos sírios a postos para derrubar o jato invasor. Assim, Putin fez saber ao suposto afilhado 'privilegiado' de Trump – o primeiro-ministro Netanyahu – que Israel não tinha licença para avançar além da linha vermelha. Sobretudo porque havia russos e forças aliadas dos russos (Hezbollah, o Corpo de Guardas Revolucionários do Irã e os demais aliados) em solo. Claro que ninguém poderia supor que Putin admitiria que Israel matasse russos em território sírio.
Resta saber se Putin aceitará o pedido (atrasado) de desculpas de Israel, com Netanyahu pedindo perdão (o que ferirá o prestígio de Putin na Rússia). Aposto que isso JAMAIS acontecerá.
Israel jogou muito mal, ao insistir na sua sempre mesma política fútil na Síria.
Pela primeira vez, em 36 anos, um jato israelense foi abatido – o que ofereceu ao presidente al-Assad e aliados uma importante vitória e ainda mais prestígio nas ruas do Oriente Médio.
Israel ainda não compreendeu que seus objetivos na Síria tornaram-se inalcançáveis, que o leque de opções fechou-se, e que a política de intimidação – que parece ser a única que Israel conhece – em vez de ajudar, só fortalece os inimigos de Israel, Assad, Hezbollah e o Irã.
Quando o Hezbollah atacou a corveta INS Hanit classe Sa’ar-5 da Marinha Israelense durante a guerra de 2006, conseguiu efetivamente tirar de combate toda a Marinha Israelense. Serviu para mostrar a Israel (i) o quanto o Hezbollah está determinado a vencer essa guerra; e (ii) a alta capacidade estratégica que tem o Hezbollah, capaz de inovar e surpreender também em termos militares. O movimento dos sírios, de derrubar o F-16 israelense, agora, com certeza mostrou a Telavive que a Síria já se recuperou, que está pronta para fazer o que desde 1973 não podia fazer: responder militarmente aos ataques de Israel. Não há dúvidas de que a Síria está pronta para a guerra.
Os EUA estão no nordeste da Síria e o melhor que podem fazer é sair logo de lá, porque a situação dos norte-americanos ali é muito grave. Netanyahu, que subiu no telhado para aparecer ao lado de Donald Trump no mesmo telhado sírio, apoiou até os jihadistas takfiris da al-Qaeda e incontáveis vezes atacou o exército sírio. Hoje, Trump e Netanyahu recusam-se a reconhecer que escalaram errado: nem o telhado é deles! O maior risco agora é que só resolvam descer do telhado alheio quando os dois já estiverem feridos. É muito provável que a dupla precise ainda de mais alguns anos de palmadas, para aprenderem a lição e caírem fora da Síria.
blogdoalok
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