AIPAC (lobby sionista nos EUA) perdeu a batalha do Irã, mas a guerra continua - Noticia Final

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sábado, 25 de janeiro de 2014

AIPAC (lobby sionista nos EUA) perdeu a batalha do Irã, mas a guerra continua

AIPAC-Sionista
O "lobby" sionista no Congresso dos EUA

Há oito anos, Jeffrey Goldberg, da revista New Yorker, perguntou a Stephen Rosen, então alto funcionário do Comitê para Assuntos Públicos EUA-Israel [orig. American Israel Public Affairs Committee (AIPAC)] e conhecido em Washington pela agressividade, pensamento conservador e violência política, se uma então recente publicidade negativa havia abalado o legendário controle que o lobby tinha sobre a política de Washington.

“Um semi-sorriso apareceu no rosto de Rosen” – escreveu Goldberg sobre aquela entrevista. – “Está vendo esse guardanapo?” – perguntou-me ele. – “Em menos de 24 horas podemos ter aqui a assinatura de 70 senadores, bem aqui, nesse guardanapo”.

Oito anos depois, o mesmo funcionário, Stephen Rosen, que foi forçado a demitir-se do AIPAC depois de ter sido acusado – adiante, foi absolvido – de espionar a favor de Israel, disse a Ron Kampeas da Agência Telegráfica Judaica [orig. Jewish Telegraphic Agency (JTA)] que o AIPAC teve de abandonar a posição de confrontação contra o presidente Obama, depois de só ter conseguido 59 assinaturas de senadores – e quase todos, exceto 16, Republicanos – de apoio a uma nova lei de sanções contra o Irã que visava a fazer gorar completamente as negociações nucleares entre o Irã e o chamado grupo P5+1 (EUA, Grã-Bretanha, França, Rússia, China, mais Alemanha).

Eles não querem ser vistos em posição derrotada, nem como desistentes... Mas acho que a postura confrontacional não é sustentável – disse Rosen.
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Chanceleres do Irã e P5 +1 após as negociações sobre as capacidades nucleares do Irã, celebrado em 24 de novembro de 2013, em Genebra. Crédito: EUA Depto de Estado, EUA

Se tivesse obtido as 70 assinaturas necessárias para aprovar novas sanções – as quais o governo argumentava que violariam um acordo provisório de 24/11 entre o Irã e o P5+1 (que congela o programa nuclear iraniano em troca do alívio em algumas sanções, por um período renovável de seis meses), o AIPAC teria três assinaturas a mais, além do número de votos necessários para derrubar o veto de Obama.

Mas, ao reunir os 59 co-patrocinadores da lei das novas sanções, depois do recesso de Natal, foi como se o AIPAC e os autores do projeto de lei, senadores Mark Kirk (Rep.) e Robert Menendez (Dem.), colidiram de frente contra uma muralha de resistência liderada por dez Democratas da Comissão e apoiada por uma Casa Branca surpreendentemente determinada, com discurso estranhamente muito firme.

Bernadette+Meehan
Bernadette Meehan

Se alguns membros do Congresso desejam que os EUA ajam militarmente, eles que apareçam e digam claramente à opinião pública dos EUA – disse Bernadette Meehan, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional. Se nada dizem, fica-se sem saber por que algum membro do Congresso apoiaria uma lei que praticamente fecha as portas a qualquer diplomacia e põe os EUA muito mais próximos de ter de escolher entre ou a opção militar ou deixar que prossiga o programa nuclear do Irã.

Assim aconteceu que a Casa Branca venceu o AIPAC naquela queda-de-braço. E surgiu a questão de saber quanto poder o AIPAC ainda tenha. (...)

A incapacidade do AIPAC para mobilizar mais apoiadores entre os Democratas, principalmente, foi efeito de dois revezes que o grupo sionista sofreu ao longo do ano passado.

Embora o AIPAC não se tenha manifestado publicamente, sabe-se que o lobby trabalhou em silêncio contra a nomeação do ex-senador Republicano, Chuck Hagel, para o posto de Secretário da Defesa, por causa da atitude em geral crítica de Hagel contra a influência de Israel na política dos EUA para o Oriente Médio.

Vários grupos e indivíduos alinharam-se firmemente com o AIPAC, especialmente o Comitê Judeu-Norte-americano [orig. American Jewish Committee] e a Liga Antidifamação [orig. Anti-Defamation League (ADL) – dois grupos que se uniram ao AIPAC no lobbying a favor da lei de novas sanções contra o Irã – na oposição à indicação de Hagel. Mas, afinal, a indicação foi confirmada no Congresso, com 58 votos a favor e 41 contra, com a grande maioria dos Democratas votando a favor de Hagel.
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Barack Obama (E) e "Chuck" Hagel (D) 

Na sequência, oito meses depois, o AIPAC e outros grupos judeus de direita fizeram lobby no Congresso a favor de uma resolução favorável ao uso de força militar contra a Síria – embora, dessa vez, o Congresso tenha sido acionado por Obama, mas com a aprovação do primeiro-ministro “Bibi” Netanyahu de Israel.

Mas o gigantesco protesto popular contra qualquer intervenção militar norte-americana em mais um conflito do Oriente Médio – além da aversão “automática” da extrema-direita Republicana a virtualmente qualquer iniciativa de Obama – fez gorar o movimento dos sionistas.

Nem Hagel, nem a Síria têm, sequer aproximadamente, a mesma importância que o AIPAC atribui ao Irã e ao programa nuclear iraniano, que dominam a agenda de política exterior do grupo há mais de uma década. Ao longo desse tempo, os sionistas norte-americanos habituaram-se a mandar e desmandar sobre amplas maiorias de senadores e deputados dos dois partidos, com a política de sanções e outras leis criadas para aumentar cada vez mais as tensões – e impedir qualquer movimento de reaproximação ou “aquecimento” nas relações entre Teerã e Washington.

Em julho do ano passado, por exemplo, a Câmara de Deputados aprovou, por 400 votos a favor e 20 contra, uma legislação de sanções para bloquear todas as exportações de petróleo do Irã. As medidas foram aprovadas apenas quatro dias antes da posse do presidente Hassan Rouhani em Teerã.
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Hassan Rouhani em seu discurso de posse na Presidência do Irã

Durante todo o outono, o AIPAC trabalhou duro – mas, afinal, sem qualquer sucesso – para fazer aprovar a mesma lei também no Senado.

Agora, dois meses adiante, e incapaz de arregimentar sequer 60 votos (o mínimo indispensável para impedir a obstrução regimental [orig. filibuster]) no Senado, o AIPAC parece já ter engavetado o projeto de lei “Kirk-Menendez”, que, dentre outras provisões, teria imposto novas sanções ao Irã se o país violasse o acordo de 24/11 ou não alcançasse, no prazo máximo de um ano, acordo satisfatório com o P5+1, sobre seu programa nuclear.

“É perfeitamente visível que as coisas mudaram, e o AIPAC e outros grupos que fizeram lobby muito ativo [a favor de novas sanções contra o Irã] sofreram dura derrota” – escreveu Lara Friedman, militante do grupo judeu Americans for Peace Now, em seu blog; e outros comentaristas, entre os quais Rosen, alertam que o apoio muito predominantemente Republicano à lei do AIPAC ameaça a imagem de bipartidarismo tão cuidadosamente cultivada pelo grupo sionista, e pode afugentar políticos e principais doadores Democratas.

“O AIPAC perdeu, sim, sem dúvida, esse round; e essa derrota custou-lhe imensa quantidade de capital político e de prestígio dentro do governo e no cálculo de muitos Democratas” – disse um veterano observador do Capitólio. O mesmo observador comentou que “o AIPAC enfrentou tempestade quase perfeita”: o governo lutando por uma política que também tinha amplo apoio entre os mais altos quadros da elite da política exterior e, também, de grupos de ativistas e movimentos de base, que pressionaram seus senadores e deputados. “Os gabinetes dos senadores recebiam um ou dois telefonemas a favor [daquele projeto de lei], e centenas contra! Não há dúvida de que isso pesou muito”.

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Stephen Walt

O AIPAC e outros grupos linha-dura continuam a ser poderosa força para assegurar generosa ajuda dos EUA a Israel, e para boicotar quaisquer esforços que os EUA façam na direção de uma solução de dois estados. Mas o poder do AIPAC diminui sempre que os sionistas põem-se a trabalhar na direção de mais guerras no Oriente Médio – escreveu-nos Stephen Walt, coautor de The Israel Lobby and U.S. Foreign Policy, em mensagem de e-mail.

Os neoliberais e neoconservadores conseguiram empurrar Bush & Co. para a invasão do Iraque em 2003, mas o sucesso, naquele caso, contou com um conjunto excepcional de circunstâncias. O público norte-americano aprendeu muito, daquela experiência desastrosa – continuou Stephen Walt.

Mas ninguém crê que o AIPAC e seus aliados tenham desistido. Se as negociações do P5+1 derem em nada, a lei “Kirk-Menendez” será rapidamente reapresentada; de fato um influente senador Republicano já disse que a lei deve ser incluída na agenda de julho, seis meses depois do dia 20 de janeiro, data em que o acordo provisório de 24/11 entrou formalmente em vigência.

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Lara Friedman

Tudo faz crer que [os defensores daquela lei] estão-se preparando para iniciar uma espécie de Plano B [o qual] (...), parece, será igual ao Plano A; mas, em vez de visar a fazer gorar as negociações usando mais sanções, o “novo” plano cuidará de impor condições sobre qualquer acordo final a que se chegue algum dia; condições que sejam impossível de satisfazer e, assim, sempre matarão qualquer possibilidade de acordo com o Irã – disse Friedman.

Entre essas condições impossíveis de satisfazer, há a exigência, como condição para levantar as sanções, de que o Irã ponha fim completo e total a qualquer tipo de enriquecimento de urânio em solo iraniano – condição a qual Netanyahu já se referiu várias vezes; que Teerã já rejeitou várias vezes; e que muitos especialistas entendem que poria fim a qualquer tipo ou possibilidade de acordo.

Redecastorphoto

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