A Agência Standard & Poor’s apenas rebaixou a avaliação da Argentina paraSD [orig. Selective Default, expressão que significa que o devedor continua a dever uma ou mais parcelas de dívida maior, mas o credor crê que a dívida será saldada. Sobre isso, ver Standard & Poor’s Definitions].
Comentário do Zeca Tinga, Analista de Economia na Vila Vudu: Ao contrário do que a imprensa-empresa tem noticiado na Argentina [e do Grupo GAFE (Globo-Abril-FSP-Estadão) no Brasil, então, nem se fala!] foi a Argentina, não os fundos-abutres, quem recusou o acordo para refinanciar a dívida total dos argentinos.
Standard & Poor’s só rebaixou a avaliação do crédito argentino para SD (Selective Default) para sinalizar que as negociações de ontem não chegaram a qualquer acordo entre o país e os fundos-abutres. O valor é pequeno: apenas 400 milhões de euros.
Na verdade, em 2010, 93% dos credores da Argentina aceitaram uma perda de 65% nos bônus emitidos pelo país no curso do primeiro evento de inadimplência em 2001, bônus que foram comprados a preço baixíssimo por investidores especuladores de riscos. Desde então, a Argentina tem honrado regularmente as prestações devidas.
O que está acontecendo é que 7% dos credores – os chamados, com muita justeza, “fundos-abutres” – recusaram qualquer perda (compraram o risco e, na sequência, não querem pagar por ele) e inventaram outra “negociação” com a Argentina, apoiados pela “justiça” norte-americana, para conseguir o reembolso do que perderam.
A Argentina recusou a nova “negociação”, preferindo ser declarada ainda inadimplente [na categoria Seletive Default, SD].
Uma das consequências da decisão da Argentina é que os 93% dos credores que aceitaram a negociação inicial não verão tão cedo a cor do dinheiro deles; nem a verá o fundo Elliott Management, principal fundo envolvido na ação processual. Como se pode obrigar um país a pagar o que ele entende que não deve a você? Guerra?
Em teoria, a declaração de inadimplente seria como bomba nuclear para qualquer país, que perde instantaneamente todo o poder para atrair investimentos; assim sendo, em todos os casos, todos têm de fugir dessa declaração. Foi o que pensou o fundo Elliott. Mas os tempos mudam.
Em maio, a Rússia convidou a Argentina para participar da cúpula dos países BRICS. Com o convite, aconteceu uma Cúpula conjunta UNASUR-BRICS, realizada na sequência da Cúpula dos BRICS.
Há duas semanas, China e Argentina assinaram acordo multibilionário de investimentos, mostrando a quem queira ver que, para a China, a Argentina não implica nem significa risco algum.
Hoje, a Agência de Avaliação de Risco Global Dagong, chinesa, decidiu rebaixar a avaliação do crédito soberano em moeda estrangeira [orig. foreign currencysovereign credit rating] da Argentina, de CC para D, mas manter a avaliação do crédito soberano de moeda local do país em CCC:
Uma vez que a inadimplência em moeda estrangeira foi causada por fatores de terceiros, que fundamentalmente não afetam a solvência argentina em moeda local, Dagong mantém a avaliação do crédito soberano em moeda local da Argentina em CCC”.
Vista investimentos. Vista dos BRICS, a Argentina é agora país livre, sem dívida, a 3ª maior potência econômica na América do Sul, uma terra de oportunidades.
São dois mundos: um sanciona e multa; o outro coopera e investe em conjunto
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