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quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Líbia: A OTAN efetivamente destruiu uma nação inteira

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Na Líbia, a OTAN efetivamente desorganizou e destruiu uma nação inteira. A ação da OTAN na Líbia reduziu o país a pilhas de ruínas fumegantes, para que empresas ocidentais possam, não só pilhar os recursos nacionais, mas, também, usar o ‘modelo líbio’ com o padrão para futura ação extraterritorial na Síria, Egito, Ucrânia e agora novamente no Iraque.


“A Líbia está considerando um deslocamento de força internacional para restabelecer a segurança, agora que a violência recomeçou em Trípoli, e dúzias de foguetes destruíram quase toda a frota de aviação civil naquele aeroporto internacional.
‘O governo analisa a possibilidade de solicitar que forças internacionais sejam enviadas para atuar em solo, restabelecer a segurança, e ajudar o governo a impor sua autoridade’ – disse porta-voz do governo na Líbia, Ahmed Lamine, em declaração.”
O “amanhã democrático” prometido pela OTAN em 2011 aconteceu, vale lembrar -, na forma de eleições previsivelmente fraudulentas, rejeitadas pelo país inteiro, que produziram um vácuo de poder, que foi preenchido, como se viu, por conflito armado crescentemente violento.
O mais irônico disso tudo talvez seja que esses conflitos são já verdadeiras guerras travadas entre vários grupos que a própria OTAN estimulou, armou e usou para fazer a guerra de solo na Líbia, enquanto a própria OTAN só agia de longe, do céu, bombardeando o país durante praticamente todo o ano de 2011.

Os fantoches da OTAN canibalizam-se entre eles

Em maio de 2014, a luta na cidade de Benghazi no leste da Líbia já deixara incontáveis mortos, muitos e muitos feridos e legiões de moradores obrigados a abandonar as próprias casas para não morrer, quando um “general renegado” fazia guerra contra “militantes islamistas” dentro da cidade. Em artigo intitulado “Famílias evacuam Benghazi, e general renegado ameaça com novos ataques“, a agência Reuters escreveu, dia 18/5/2014:
O autodeclarado Exército Nacional Líbio, liderado por um general renegado, disse a civis no sábado que abandonassem bairros de Benghazi antes de ele iniciar ali mais um ataque contra militantes islamistas, um dia depois de ter havido ali dúzias de mortos, nos mais violentos confrontos na cidade em meses.

O general renegado é Khalifa Haftar (às vezes também escrito “Hifter”), que morou durante anos nos EUA, nos arredores de Langley Virginia, ao que se crê sendo treinado pela CIA, até que retornou à Líbia em 2011 para comandar as forças da OTAN em solo no ataque do ocidente contra aquele país.

Em artigo de 2011, o Business Insider perguntava: “O general Khalifa Hifter é o homem da CIA na Líbia?“:
“Desde que chegou aos EUA, no início dos anos 1990s, Hifter morou no subúrbio de Virginia, próximo de Washington, DC. Badr disse que nunca entendeu exatamente o que Hifter fazia para viver, e que a principal preocupação de Hifter sempre fora ajudar sua grande família.
Quer dizer: trata-se de ex-general de Gaddafi, que muda de lado e passa a trabalhar assumidamente para os EUA, instala-se em Virginia nos arredores de Washington, D.C. e consegue apoiar a própria grande família na Líbia, de modo que alguém que o conheceu ao longo de toda a vida diz que ‘nunca entendeu exatamente’? Hmm.

É altíssima a probabilidade de que Hifter tenha sido comprado para trabalhar a favor dos EUA. Assim como figuras como Ahmed Chalabi foram ‘cultivadas’ para um Iraque pós-Saddam, Hifter pode perfeitamente ter desempenhado papel semelhante como ativo da inteligência dos EUA, à espera de um momento para agir na Líbia.”

A ironia desse ‘arranjo’ é que muitos dos militantes sectários contra os quais Hafter está em luta em Benghazi são os mesmos militantes contra os quais Muammar Qaddafi se opôs ao longo de décadas como líder da Líbia; e são os mesmos militantes que a OTAN armou e organizou, com Hafter, para induzir a queda de Gaddafi em 2011.

Sobre sua própria guerra em Benghazi,  Hafter disse que ela continuará “até que não reste nenhum terrorista em Benghazi”; e que “começamos essa batalha, que prosseguirá até alcançarmos nossos objetivos. A rua e o povo líbio estão do nosso lado.”
Os sentimentos de Hafter fazem perfeito eco ao que dizia Muammar Qaddafi em 2011. De diferente, só, que a imprensa-empresa ocidental negou, ao longo de décadas, que houvesse qualquer terrorista em Benghazi; e sempre apresentou as operações de Gaddafi em Trípoli como “massacre” de “pacíficos manifestantes pró-democracia.”

A OTAN destruiu a Líbia

As mesmas atrocidades que a OTAN listou, de início, como ‘causa’ para sua “intervenção humanitária” na Líbia, imediatamente passaram a aparecer como práticas da própria OTAN e das forças que a OTAN ou mantém ou acoberta. Cidades inteiras foram cercadas, deixadas sem comida e água, e bombardeadas por ar, até capitularem. Em outras cidades, populações inteiras foram, ou executadas, ou expulsas ou, em alguns casos, ‘empurradas’ para fora das fronteiras líbias. A cidade de Tawarga, onde viviam cerca de 10 mil líbios, foi totalmente destruída, a ponto de o London Telegraph referir-se a ela hoje como “cidade fantasma”.

Desde a queda de Trípoli, Sirte e de outras cidades líbias que resistiram contra a invasão pelos terroristas da OTAN, praticamente nada se viu de qualquer estabilidade básica, muito menos da “revolução democrática” que a OTAN e seus terroristas-colaboradores prometiam para a Líbia. O governo em Trípoli continua em caos eterno; as forças de segurança divididas combatem entre elas mesmas; e agora há também um “general renegado” que a CIA introduziu na Síria, e que comanda operação militar em grande escala contra Benghazi, usando também força aérea e, aparentemente, sem a aprovação do governo em Trípoli.

Anos depois da conclusão da dita ‘revolução’, a Líbia continua sua trajetória forçada na direção do mais completo atraso. As grandes realizações do governo de Muammar Qaddafi já foram desmontadas há muito tempo e é pouco provável que venham a ser restauradas – e de serem ampliadas, então, disso, nem se cogita! – em futuro previsível.
Na Líbia, a OTAN efetivamente desorganizou e destruiu uma nação inteira. A ação da OTAN na Líbia reduziu o país a pilhas de ruínas fumegantes, para que empresas ocidentais possam, não só pilhar os recursos nacionais, mas, também, usar o ‘modelo líbio’ com o padrão para futura ação extraterritorial na Síria, Egito, Ucrânia e agora novamente no Iraque.

Egito, Síria, Ucrânia: atenção ao ‘modelo líbio’

Assim como foi feito na Líbia, também se tentou fazer ‘revoluções’ assemelhadas no Egito, na Síria e na Ucrânia. As mesmas narrativas, palavra a palavra, inventadas nos think-tankspolíticos; nas redações da imprensa-empresa; e nas ‘análises’ dos especialistas acadêmicos ocidentais, para a Líbia, estão sendo agora requentadas para o Egito, Síria e Ucrânia.

As mesmas ONGs estão sendo usadas como meio para fazer chegar dinheiro, equipamento e outras modalidades de apoio aos grupos de oposição, em cada um desses países. Termos como “democracia”, “progresso”, “liberdade” e “luta contra a ditadura” são frequentes. Não houve protesto que não tenha sido inflado por militantes armados e, sempre, apoiados pelo Ocidente.
Na Síria, os protestos foram instrumentalizados e vendidos no ocidente como ação de “combatentes da liberdade”. De fato, a imprensa-empresa ocidental consome grande parte de seu tempo e de seus recursos tentando ‘explicar’ ‘por que’ a OTAN e seus parceiros regionais entregam armas e dinheiro a militantes sectários, inclusive à Al Qaeda, para que tentem derrubar o governo sírio.

No Egito, ainda há alguma ambiguidade, como houve também em 2011 no caso da Síria, sobre quem realmente são os manifestantes, o que realmente dizem e de que lado estão ‘as simpatias’ do ocidente. Mas análise atenta mostra que, assim como a Fraternidade Muçulmana foi usada na Síria para montar o cenário para a guerra devastadadora que se seguiu, a Fraternidade Muçulmana no Egito também está sendo usada, praticamente do mesmo modo, contra o Cairo.
Finalmente, na Ucrânia, os manifestantes apresentados no ocidente como “pró-democracia”, “pró-União Europeia”, “pró-Euromaidan” já foram revelados como neonazistas, de ultra direita, nacionalistas conhecidos por recorrer regularmente à violência e à intimidação política. Exatamente como se viu na Síria em 2011 e no Egito agora, confrontos armados de baixa intensidade são cada dia mais frequentes, e a intensidade cresce regularmente, já configurando o que pode vir a ser mais uma guerra norte-americana guerreada por terceiros ‘nomeados’: dessa vez, é a OTAN contra a Rússia, na Europa Oriental.

Esses três países e os envolvidos dos dois lados dessa guerra devem, isso sim, examinar detidamente o estado a que a Líbia foi reduzida. As tais “revoluções” só podem ter uma conclusão lógica e previsível: a destruição, a demolição, a divisão de cada uma das nações-alvo, antes de serem incorporadas, já em estado de cadáver, à sempre crescente ‘ordem supranacional’ de Wall Street e Londres, para serem infinitamente saqueadas até serem reduzidas à miséria. E boa parte dos EUA, do Reino Unido e da União Europeia também já estão reduzidos a miséria, hoje.
Quem se preocupe com o que será feito de Egito, Síria ou Ucrânia no caso de a OTAN conseguir fincar as garras nesses países, que examine o caso da Líbia. E os que apoiaram a tal “revolução” na Líbia, que se perguntem a eles mesmos se estão satisfeitos com o resultado final. Querem ver o mesmo resultado também no Egito, na Síria e na Ucrânia? Ou, talvez, imaginam que os planos da OTAN para cada um desses países levarão a resultados muito diferentes do que os que se veem hoje na Líbia? Por quê? *****

oriente mídia

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