A conversa foi organizada em 20 de outubro à noite por jornalistas do canal 17 da TV ucraniana. Os interlocutores de Mozgovoi, classificado pela propaganda de Kiev como “separatista”, “terrorista” e “bandido”, foram comandantes de destacamentos do Exército ucraniano, Kamil Valetov, Alexei Tsypko e Vladimir Shilov. Em tempos soviéticos, os dois primeiros deles eram oficiais profissionais e participavam em operações militares no Afeganistão e o terceiro era treinador-chefe da Ucrânia em rugby. Ao mesmo tempo, os três são naturais do Sudeste da Ucrânia.
O fato de essas pessoas enfrentarem uns a outros através do Skype e não através de alças óticas é um grande avanço. Ao mesmo tempo, conversavam com interesse e em russo. Entretanto, as ordens no Exército ucraniano que combate em Donbass contra “separatistas pró-russos” também dão-se em russo.
A conversa revelou várias coisas muito interessantes. Demostrou, por exemplo, que todos estão cansados da guerra, em primeiro lugar, os militares ucranianos que em setembro sofreram grandes perdas. Em palavras de Vladimir Shilov, é necessário acabar com essa guerra, porque são ucranianos que morrem dos dois lados em seu resultado.
Por isso, sua primeira e principal pergunta feita a Mozgovoi foi essa: se for possível alcançar a paz e em que condições? Em resposta, Mozgovoi desenvolveu a ideia de Shilov: as tropas dos dois lados estão sendo formadas de simples pessoas que se utilizam por oligarcas num “Coliseu doméstico”. Shilov adiantou que as tropas são utilizadas por um “grupo de canalhas” responsável pela divisão de pessoas que viviam juntas e celebravam as mesmas festas”.
Pelo visto, essas declarações estão perto da conclusão de que ninguém na Ucrânia não precisa dessa guerra civil que deve ser acabada. Mas, como se esclareceu a seguir, oficiais ucranianos acreditam que por trás dos militantes do sudeste esteja a Rússia com grande vontade de ocupar o território da Ucrânia e que os ucranianos não tenham outro objetivo a não ser consolidar suas fileiras para defender a independência. Eles acreditam que Mozgovoi e outros comandantes do movimento de milícias sejam orientados por assessores russos e que o referendo em que o povo votou a favor da independência e da união com a Rússia não seja livre ou seja falsificado.
Possivelmente, um politólogo profissional poderia destruir com graça esses clichês ideológicos metidos na cabeça de ucranianos pela propaganda de Kiev. Mas esses comandantes ucranianos não jovens não confiariam em suas palavras. Os argumentos de Mozgovoi não foram tão nítidos, mas suas palavras foram atendidas, porque militares ucranianos viram nele sua reflexão de espelho. Essa é uma expressão do próprio Mozgovoi.
A ideia principal que Alexei Mozgovoi conseguiu levar aos interlocutores, com quem havia combatido ainda há umas semanas, é a seguinte. Os principais inimigos dos militares ucranianos e do povo ucraniano não são os militantes do sudeste que, contrariamente à propaganda de Kiev, não aspiram de modo algum a dividir a Ucrânia. As atuais autoridades de Kiev são verdadeiros inimigos do povo ucraniano, devendo por isso os milícias e o Exército ucraniano conjugar seus esforços e estabelecer no país um novo poder, mais limpo e mais justo.
É interessante que o apelo de Mozgovoi não provocou objeções por parte de militares ucranianos. Eles prometeram pensar nas suas palavras, dizendo que estavam dispostos a contatá-lo novamente. Se militares ucranianos entenderam que vale a pena começar a pensar, este já é um bom resultado.
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