A França era suposta transferir o primeiro porta-helicópteros do tipo Mistral, o navio-doca Vladivostok, à Marinha Russa ainda em 14 de novembro, mas isso não aconteceu. Neste espaço de tempo, no porto francês de Saint-Nazaire foi lançado à água o segundo navio deste tipo, o Sevastopol. Peritos estavam aguardando o desfecho desta história. E eis que, finalmente, na terça-feira o Palácio do Eliseu emitiu uma declaração do chefe de Estado.
“O presidente da república acredita que a atual situação no leste da Ucrânia ainda não permite a transferência à Rússia do primeiro Mistral. Neste contexto, ele achou necessário adiar até novas ordens a consideração do pedido”, diz o documento.
Assim, a questão do contrato sobre os Mistrais ficou novamente suspensa. Peritos acreditam que com a sua decisão de adiar a transferência do navio Hollande demonstrou a dependência da política da França dos Estados Unidos, que se opõem ativamente a este negócio. No entanto, Moscou por enquanto prefere manter-se no âmbito dos acordos alcançados. Mas a espera não será indefinidamente longa: o contrato prevê um atraso de três meses na transferência do navio. E se a França não entregar o primeiro Mistral, a Russia iniciará um inquérito judicial.
Uma vez que existe uma manifesta violação das obrigações contratuais, a França terá de incorrer certas perdas financeiras. Especialistas divergem nas suas estimativas, mas em qualquer caso o montante da multa será bastante significativo.
Por exemplo, na opinião do jornal francês Le Parisien, o lado francês terá que devolver um pouco menos dos 1,5 bilhões de euros do valor do contrato, e mais 800 milhões de indenização por cada um dos dois navios. Contudo, a maioria dos especialistas concorda que em caso de tal desfecho a capacidade de defesa da Rússia não vai sofrer. Eis o que diz o editor do jornal Correio Militar-Industrial, Mikhail Khodarenok:
“Na minha opinião, os navios da classe Mistral iriam fortalecer as capacidades da Marinha russa, tanto em termos de realização de operações anfíbias, como em operações anfíbias conjuntas com aviação. Porque as nossas embarcações de desembarque estão ao nível dos anos 70. E neste sentido, as capacidades da Marinha seriam reforçadas pelos Mistrais. Mas um ou dois navios não fazem diferença.
Nos tempos soviéticos, tínhamos, na verdade, quase em todas as frotas uma divisão de navios anfíbios. A história com os Mistrais é para nós uma boa lição. É melhor encomendar navios desta classe em estaleiros nacionais. Espero que dessa história serão tiradas conclusões necessárias”.
O escândalo em torno dos Mistrais franceses (junto com a ruptura das cadeias de produção russo-ucranianas) forçou Moscou a repensar completamente alguns aspectos do desenvolvimento do complexo militar-industrial do país. Enquanto Paris oficial colocou-se num impasse, dividindo-se entre a adesão a uma posição comum do Ocidente sobre a situação na Ucrânia e o seu próprio lucro econômico. Como resultado, os franceses ganharam a si próprios. E agora eles enfrentam a perda de sua reputação de negócios, o que, finalmente, custará muito mais do que o conflito com o lobby antirrusso em Washington.
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