Reunião realizada há 25 anos entre os presidentes soviético Mikhail Gorbatchov e americano George Bush-pai entrou para a história como a data oficial do fim da Guerra Fria. Mais de duas décadas de paz depois, políticos e especialistas russos sugerem o retorno do conflito.
“Ainda não sei dizer, se estamos presenciando um recomeço da Guerra Fria, e, caso sim, qual seria a sua duração”, disse Serguêi Riabkov, vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, em uma reunião recente entre os membros do Parlamento para analisar as relações russo-americanas. “Mas, independentemente disso, precisaremos de muitos anos para compensar os efeitos provocados pelas sanções.”
A resolução 758 divulgada pela Câmara dos Representantes dos Estados Unidos na semana passada gerou mais preocupação entre os dirigentes da pasta. No documento, a Rússia é claramente apresentada como uma ameaça aos Estados Unidos e à segurança internacional, clamando pela condenação das ações do presidente Vladimir Putin, “que implementou uma política de agressão contra países vizinhos a fim de alcançar dominação política e econômica”.
Segundo o diplomata russo, as relações entre a Rússia e os Estados Unidos começaram a entrar em declínio antes mesmo do início da crise ucraniana, “devido à intenção das autoridades americanas de afastar os países CEI do seu grande vizinho”. “Atualmente, os EUA já não tentam mais esconder o seu principal objetivo: a criação de condições socioeconômicas que favoreçam a troca do governo na Rússia”, acrescentou Riabkov.
“Estamos fazendo de tudo para estabilizar as relações com as autoridades americanas e encontrar um meio-termo razoável. Infelizmente, a resolução aprovada demonstra as intenções contrárias”, ressaltou Riabkov em seu discurso.
Em meio à escalada da tensão, os membros do Parlamento russo são unânimes em relação às perspectivas da atual situação política. “Não é fácil de acreditar, mas já estamos vivendo uma Guerra Fria”, afirma Leonid Kalachnikov, primeiro vice-presidente do Comitê de Relações Exteriores da Duma de Estado (câmara baixa do Parlamento russo).
Enquanto a Guerra Fria do século 20 foi provocada por diferenças ideológicas dos Estados Unidos e União Soviética, os motivos do conflito atual incluem a oposição geopolítica, visões distintas sobre a missão internacional do Estado americano, assim como as diferenças econômicas, sociais e religiosas devido ao liberalismo e conservadorismo seguidos pelos EUA e Rússia, respectivamente. “Hoje a comunidade internacional encontra-se menos estável.”
Sem começo nem fim
Para Iúri Baluev, ex-chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas da Rússia e general do Exército, fato é que a “Guerra Fria entre a Rússia e os países ocidentais nunca terminou”. “A única diferença são os métodos usados”, diz o general, não descartando a possibilidade de um futuro conflito armado.
Serguêi Rogov, diretor do Instituto dos Estados Unidos e Canadá da Academia de Ciências da Rússia, acredita que as relações bilaterais entre a Rússia e o mundo ocidental chegaram ao fundo do poço. “Estamos vivendo uma situação de ‘Paz Fria’ capaz de provocar uma nova guerra econômica, que terá outras características devido à ausência da oposição de dois regimes políticos contrários”, sugere.
Gazeta Russa
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