Daí em diante, cada palavra dita por jornalistas será controlada pelo Ministério da Política Informativa. A decisão sobre a sua criação foi tomada no processo de formação do novo governo.
Uma avaria no enrolamento do transformador fez parar o terceiro bloco energético da usina atômica de Zaporozhie, considerada a maior da Europa com uma potência de 6.000 megavátios, contra os 4.000 megavátios da sua congénere de Chernobyl que sofreu um dramático acidente em 1986. Foi depois desse trágico acidente que se adotou uma Convenção Internacional, segundo a qual cada país deveria informar a AIEA sobre quaisquer incidentes nas instalações nucleares capazes de afetar outros países.
Todavia, Kiev decidiu silenciar o fato do acidente. O corte da produção de energia elétrica deixou sem calefação e luz milhões de habitantes do país. Mas a imprensa se mantinha silenciosa. Os meios de comunicação social tinham recebido uma ordem direta – não dizer nem sequer uma palavra sobre o acidente. Só depois de se convencer de não ter havido fuga de radiação ou poluição atmosférica, Kiev, perante breves informações divulgadas pela imprensa estrangeira, acabou por reconhecer a situação de emergência surgida na usina.
Entretanto, para evitar novas inquietações e imprevistos que possam ser motivados pela mídia, as autoridades de Kiev decidiram criar o Ministério da Política Informativa a fim de formar “uma boa imagem da Ucrânia e prevenir a influência externa sobre o espaço informativo do país”. Os jornalistas já batizaram o novo órgão de “Ministério da Verdade”, salienta a propósito o deputado russo Serguei Zheleznyak, membro da comissão parlamentar para a política informativa:
“O regime ucraniano tem levado a cabo uma política bárbara e o genocídio em relação aos habitantes das regiões de Donetsk e Lugansk. Mas para camuflar as consequências disso, irá precisar de medidas e iniciativas específicas que silenciem ou deturpem as informações verdadeiras. Kiev deve ter decidido que se trata de uma missão tão importante que até implica a instituição de um ministério”.
Importa notar que tal rumo não é novo. Após o golpe de Estado que se deu em fevereiro, a Ucrânia proibiu a transmissão de programas dos canais televisivos da Rússia, interditou a entrada no país de atores, intérpretes e músicos populares russos. Os jornais e revistas cujo título continha a palavra “russo” foram privadas de licenças. Os filmes russos não se exibem. Deste modo, o vácuo informativo tem de ser preenchido por frases e imagens meticulosamente selecionadas e preparadas. Para essa finalidade irá servir o novo ministério, sustenta o director-geral do Centro de Informação Política, Alexei Mukhin:
“Este novo organismo irá, com efeito, limitar a liberdade da expressão, formando uma nova ordem informativa, como uma particular incidência na distorção de fatos reais em benefício do atual governo. É pouco provável que o novo Gabinete de Ministros possa resolver, dentro em breve, os problemas econômicos e sociais vitais. Mas, ao mesmo tempo, poderá criar uma imagem de bem-estar. Ao que tudo indica, a Ucrânia, não obstante o presumível apego aos valores democráticos europeus e a aspiração à liberdade, está fazendo coisas absolutamente contrárias”.
A par disso, os deputados da Suprema Rada submeteram ao exame um anteprojeto que proíbe a actividade do Partido Comunista, a ideologia comunista e seus respetivos símbolos. No país em que militares ostentam a cruz gamada em seus uniformes, deverão ser proibidos os livros sobre Lenin e as bandeiras vermelhas. A mídia irá encarar e descrever essas “inovações” como novos sinais da verdadeira democracia.
Caso contrário, será censurada pelo “Ministério da Verdade”.
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