Via BBC
Morte de ministro palestino tem relatos conflitantes
Crédito: Reuters
Ziad Abu Ein participava de protesto contra confisco de terras por Israel
A morte de um ministro palestino nesta quarta-feira por forças de Israel permanece cercada de relatos conflitantes.
Ziad Abu Ein morreu após um confronto com soldados israelenses em um protesto na Cisjordânia.
Médicos palestinos afirmaram à BBC que ele morreu de complicações relacionadas à inalação de gás lacrimogêneo.
Mas dezenas de testemunhas disseram que o ministro foi empurrado e atingido por soldados israelenses. Uma delas relatou que Abu Ein foi atingido no tórax por estilhaços da bomba de gás disparada por eles.
Em nota, o ministro de Defesa de Israel, Moshe Yaalon, expressou pesar pela morte do ministro.
Um comunicado divulgado pelas Forças de Defesa de Israel (IDF) afirmou que as forças "frearam o avanço dos manifestantes sobre a comunidade civil de Adei-Ad usando meios de dispersão de protestos".
"A IDF está reavaliando as circunstâncias da participação de Ziad Abu Ein, e sua posterior morte", acrescentou a nota.
Especialistas da Jordânia e de Israel participariam da autópsia do corpo, informou a IDF, que também propôs a criação de uma equipe conjunta formada por palestinos e israelenses para investigar a morte de Abu Ein.
O Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, pediu uma investigação sobre a morte do ministro, e pediu a "todos os lados para exercitar máxima contenção e evitar escalada".
Após o incidente, dezenas de palestinos se reuniram no local onde Abu Ein foi morto, próximo ao vilarejo de Turmusaya, colocando fogos em pneus e atirando pedras em forças de segurança, informou a rádio Voz de Israel.
Nas últimas semanas, dez israelenses e um equatoriano foram mortos por palestinos em uma série de ataques. Do outro lado, 13 palestinos foram mortos, entre eles vários dos responsáveis pelos ataques em território israelense.
Mudas de oliveiras
Abu Ein, um ministro sem pasta, foi um das dezenas de ativistas palestinos e estrangeiros que participaram de um protesto contra o confisco de terras.
Os manifestantes planejavam plantar mudas de oliveiras em um pedaço de terra próximo ao assentamento judeu de Shiloh, que palestinos acreditam ter sido destinada à anexação por Israel.
Durante o protesto, eles entraram em confronto com um grupo de cerca de 15 soldados israelenses.
O ativista palestino Mahmoud Aloul, que também participou da manifestação, afirmou à agência de notícias AP que os soldados lançaram bombas de gás lacrimogêneo e agrediram alguns dos ativistas com os canos das armas.
Em um dado momento, segundo contou Aloul, Abu Ein foi atingido por estilhaços de uma das granadas.
O fotógrafo da agência de notícias Reuters afirmou ter visto o ministro palestino sendo enforcado por dois soldados.
Já outro fotógrafo, da agência de notícias AFP, disse que viu Abu Ein sendo atingido no peito.
Fotos do incidente mostraram o ministro deitado inconsciente antes de ser levado em uma ambulância. Ele morreu antes de chegar ao hospital na cidade de Ramallah.
Relatos não confirmados indicaram que a condição de saúde de Abu Ein pode ter contribuído para a sua morte.
'Morte cruel'
Crédito: AFP
Fotógrafo afirmou que viu Abu Ein ser enforcado por soldados de Israel; causa da morte ainda é mistério
O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, condenou a "agressão brutal" contra Abu Ein, que classificou como "um ato bárbaro". Ele prometeu tomar medidas, mas sem especificá-las, e declarou três dias de luto.
Um funcionário do alto escalão do governo palestino afirmou que a Autoridade Palestina interromperia a coordenação de segurança com Israel.
Hanan Ashwari, funcionária de alto escalão da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), disse se sentir "ultrajada" pela morte de Abu Ein.
"É extremamente triste que um colega e um velho amigo tenha sido morto de maneira tão cruel", disse ela. "Ziad foi considerado culpado apenas por plantar oliveiras em um território que Israel tomou de nós", acrescentou.
Em 1979, um tribunal de Israel condenou Abu Ein à pena de morte, posteriormente transformada em prisão perpétua, por um bombardeio que matou dois adolescentes israelenses.
Ele foi libertado em 1985 como parte de uma troca de prisioneiros por três soldados israelenses capturados no Líbano.
Gílson Sampaio
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