Presidente Bashar al-Assad da Síria: “Israel apoia organizações terroristas na Síria” (1,2/3) - Noticia Final

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domingo, 1 de fevereiro de 2015

Presidente Bashar al-Assad da Síria: “Israel apoia organizações terroristas na Síria” (1,2/3)


Bashar al-Assad em 20/1/2015
Pergunta 1: Gostaria de começar por perguntar-lhe sobre a guerra. Já são quase quatro anos, e o senhor conhece as estatísticas: mais de 200 mil mortos, um milhão de feridos e mais de 3 milhões de sírios que deixaram o país, segundo a ONU. Suas forças também sofreram muitas baixas. A guerra não pode continuar para sempre. Como o senhor vê o fim da guerra?

Presidente Assad: Todas as guerras, em todos os pontos do mundo, no passado, sempre terminaram com uma solução política, porque a guerra em si não é solução; a guerra é instrumento da política, como há outros. Implica dizer que só uma solução política porá fim à guerra. É como vemos. É o ponto principal.

Pergunta 2: O senhor não vê fim militar para a guerra?

Presidente Assad: Não. Não há fim ‘'militar'’ para guerra alguma. Todas as guerras só terminam na solução política.

Pergunta 3: [Pergunta fortemente enviesada, que tenta pôr palavras na boca do entrevistado. Revista muuuuuuuuuuuito é da vagabunda, essa Foreign Affairs, foi, é e sempre será (NTs)] Pode-se dizer que a Síria está cada vez mais dividida em três miniestados: um é controlado pelo governo, outro é controlado pelo ISIS-Frente Jabhat al-Nusra, o terceiro é controlado pelos sunitas mais seculares e pela oposição curda. Como o senhor algum dia conseguirá reunificar a Síria?

Presidente Assad: Primeiro, essa sua imagem não é acurada, porque, diferente do que você pressupõe, não se pode falar de miniestados sem falar do povo que vive no estado. O povo sírio luta pela unidade da Síria e está com o governo. As facções de que você fala controlam algumas áreas, mas elas mudam-se de um ponto a outro, não são estáveis nem há linha de demarcação entre as diferentes forças. Às vezes elas se misturam umas com outras e movimentam-se. Mas a questão principal é a população síria, que continua apoiando o governo da Síria, como representante legítimo da unidade da Síria. Assim, enquanto o povo sírio acreditar na unidade, qualquer governo consegue facilmente manter unida a Síria. Se o povo estivesse dividido em dois, três, quatro grupos, nesse caso ninguém conseguiria manter unido o país, como ele está. É como nós vemos as coisas.

Pergunta 4: O senhor acha que sunitas e curdos ainda acreditam numa Síria unida? [Quando a revista é vagabunda, e o jornalista é fascista sincero que realmente crê na imbecilidade que é adestrado para repetir e repete... o entrevistador tem de corrigir a pergunta, antes de responder (NTs)]

Presidente Assad: Se você vai a Damasco agora, você vê que tudo é bem diferente do que você pressupõe: todas as diferentes, digamos, cores, de nossa sociedade vivem juntas. As divisões na Síria não são baseadas em campos sectários ou étnicos, nem, sequer, na área curda de que você está falando. Temos mais árabes que curdos, mas essa não é questão de etnia: é questão das facções que controlam militarmente algumas áreas.

Pergunta 5: Há um ano, os dois campos, oposição e governos estrangeiros insistiam em que o senhor deixasse o governo, como precondição para conversações. Isso já não existe. Os diplomatas procuram agora um acordo intermediário, que permita que o senhor permaneça no governo. Hoje mesmo o New York Times publicou artigo que fala de crescente apoio dos EUA às iniciativas de paz de russos e ONU. O artigo faz referência à “silenciosa desistência, do ocidente, das demandas de que o presidente sírio deixe o governo imediatamente”. Dada essa mudança na atitude do ocidente, o senhor está mais disposto a buscar uma solução negociada para o conflito que leve a uma transição política?

Presidente Assad: Nós sempre estivemos abertos a solução negociada, desde o começo. Dialogamos com todos os partidos na Síria. “Partidos”, aqui, não significa exclusivamente partido político; podia ser partido, corrente, alguma personalidade, qualquer entidade política. Modificamos a Constituição e estamos abertos a tudo. Mas quando você quer fazer alguma coisa, não se cogita da posição ou do governo: essa é questão de todos os sírios; às vezes você pode ter uma maioria de todos os lados, não de um único lado. Assim, se você quer fazer uma mudança, se se fala de problema nacional, todos os sírios têm de poder manifestar-se. Diálogo não se dá só entre governo e oposição: dá-se entre todos os diferentes partidos e entidades sírios. É como entendemos o que seja diálogo. Isso, em primeiro lugar. Em segundo, seja qual for a solução que queiram, no final é imprescindível ouvir o povo em referendo, porque estamos falando da Constituição; de mudar o sistema político. É indispensável voltar ao povo sírio para ouvi-lo. Comprometer-se num diálogo é muito diferente de tomar e impor decisões.

Pergunta 6: O senhor está dizendo que não aceita nenhum tipo de transição política, a menos que haja um referendo que a apoie?

Presidente Assad: Exatamente. Essa é decisão que só o povo pode tomar, ninguém mais.

Pergunta 7: Significa que não há lugar para negociações?

Edifício do Ministério de Relações Exteriores da Rússia
Presidente Assad: Não, não significa isso. Iremos à Rússia, para essas negociações, mas a pergunta aqui é outra: com quem negociar? Como governo, temos instituições, temos exército, temos influência, positiva ou negativa, em todas as direções a qualquer momento. Com que pessoas negociaremos? Quem representam? Essa é a pergunta. Quando se fala de oposição, a palavra tem de ter algum conteúdo. Oposição em geral teria de ter representantes nas nossas instituições, no Parlamento, nas instituições sírias, teria de haver bases que a oposição representaria. Na crise atual, é preciso perguntar que influência tem essa ‘oposição’ em campo. É preciso voltar ao que os rebeldes anunciaram publicamente, quando disseram muitas vezes que a oposição não os representa. Se querem falar de diálogo que dê frutos, terá de ser entre o governo da Síria e os rebeldes.

E há outro ponto. Oposição tem de ser nacional, significa grupo que, embora com posições diferentes da situação, também trabalha pelos interesses do povo sírio. Não se pode falar de legítima “oposição”, se o que se vê são fantoches do Qatar ou da Arábia Saudita ou de países ocidentais, inclusive dos EUA, pagos por gente de fora. “Oposição” tem de ser síria. Temos oposição nacional, e não estou excluindo essa oposição. Não estou dizendo que nenhuma oposição seria jamais legítima. Mas você tem de separá-la daqueles fantoches. Não é verdade que qualquer diálogo seria automaticamente frutífero.

Pergunta 8: Isso significa que o senhor não quer encontrar-se com forças de oposição apoiadas por outros países?

Presidente Assad: Nos reuniremos com qualquer um. Sem condições.

Jornalista: Sem condições?

Presidente Assad: Sem condições.

Jornalista: O senhor aceita reunir-se com qualquer um?

Presidente Assad: Sim. Nos reuniremos com qualquer um. Mas é preciso saber exatamente: quem cada um representa. Isso foi o que eu quis dizer.

Pergunta 9: Se não me engano, o vice-representante Staffan de Mistura está agora na Síria. Estão propondo, como medida temporária, um cessar-fogo e congelamento dos confrontos em Aleppo. O senhor concordaria com isso?

Presidente Assad: Claro que sim. Já implementamos precisamente essa medida antes de de Mistura ser nomeado para essa missão. Implementamos em outra cidade, Homs, outra grande cidade. Implementamos em escala menor também em, pode-se dizer, subúrbios, vilas, com sucesso. A ideia portanto é ótima, mas depende dos detalhes. De Mistura chegou à Síria com orientações gerais. Concordamos com algumas delas e, agora, estamos esperando que nos traga um plano, uma agenda, um plano de A a Z. Estamos discutindo tudo isso com esse senhor.

Pergunta 10: No passado, o senhor insistiu, como precondição para o cessar-fogo, que os rebeldes depusessem armas primeiro – condição inaceitável, obviamente, [é preciso ser jornalista muuuuuuuito do arrogante e metido a besta, para “declarar” o que seria “obviamente inaceitável” para seja quem for, né-não?!] do ponto de vista deles. O senhor mantém sua precondição?

Presidente Assad: Não é como o senhor diz. Nós escolhemos diferentes cenários, ou diferentes reconciliações. Em algumas áreas, permitimos que eles deixassem áreas não habitadas, para evitar mortes de civis. Eles deixaram aquelas determinadas áreas com as armas deles. Em outras áreas, entregaram as armas e partiram. Tudo dependia, caso a caso, do que eles ofereçam e do que você ofereça.

Pergunta 11: Não entendi bem sua resposta. O senhor insiste que eles entregaram as armas?

Presidente Assad: Não, não foi o que eu disse. Acabo de dizer que, em algumas áreas, os rebeldes deixaram a área com as respectivas armas.

Pergunta 12: O senhor está otimista quanto às conversações de Moscou?

Presidente Assad: Ainda não há negociações em Moscou sobre alguma solução. Trata-se só de preparativos para a conferência.

Jornalista: Quer dizer, conversas sobre conversas?

Bashar al-Assad em 20/1/2015
Presidente Assad: Exatamente, como preparar-se para as conversações. Quando se começa a falar sobre conferência, é preciso que todos saibam quais são os princípios da conferência. Tenho de voltar ao mesmo ponto. Permita-me ser bem franco: alguns dos grupos não passam de fantoches, como já disse, de outros países. Têm de implementar determinada agenda e sei que vários países – a França, por exemplo – não tem interesse algum em que a conferência seja bem-sucedida. Esses países ordenarão aos respectivos fantoches que façam fracassar a conferência. Há lá também personalidades que só se autorrepresentam, não representam ninguém na Síria. Vários deles nunca sequer viveram na Síria e nada sabem sobre o país. Claro que há outras personalidades que trabalham a favor do interesse nacional. Por isso, não se pode falar de ‘'oposição'’ como entidade monolítica: quem influenciará quem? Eis a pergunta. Nada está ainda claro sobre isso. Nessas circunstâncias, falar de qualquer otimismo seria exagero, seria irrealista. Não digo que esteja pessimista. Digo que há esperanças, de fato, em qualquer tipo de ação.

Pergunta 13: Parece que nos últimos dias, os EUA têm-se mostrado mais favoráveis, manifestado mais claro apoio às conversações de Moscou. Inicialmente foi bem diferente. Ontem, o secretário de Estado Kerry disse algo que sugere que os EUA esperam que as conversações progridam e cheguem a bom termo.

Presidente Assad: Eles falam, falam, mas o que se deve observar é o que eles farão. O senhor sabe que sírios não confiam nos EUA. Assim sendo... Vamos esperar e ver o que acontece na conferência.


Bashar al-Assad
Pergunta 14: O que parece ao senhor que seja o melhor meio para um acordo entre todos os diferentes partidos na Síria?

Presidente Assad: É indispensável negociar diretamente com os rebeldes, mas há dois tipos de rebeldes. A maioria deles é da al-Qaeda, que é ISIS e al-Nusra, com outras facções também da al-Qaeda, mas menores. E o que Obama chamou de “oposição moderada”, uma fantasia. Não é “oposição”: são rebeldes. A maior parte deles uniu-se à al-Qaeda, e alguns deles recentemente uniram-se ao exército. Ao longo da última semana, muitos deles deixaram seus grupos e uniram-se ao exército.

Pergunta 15: Serão antigos desertores que voltaram?

Presidente Assad: Sim. Agora, voltaram para o exército. Dizem que não querem mais guerra. Assim sendo, resta muito pouco daqueles grupos. Afinal, se pode negociar com al-Qaeda e outros? Não estão prontos para negociar, eles têm o plano deles. A reconciliação que nós começamos e o Sr. de Mistura continuará é a solução prática em campo. Esse é o primeiro ponto. Em segundo lugar, é preciso implementar a Resolução n. 2.170 do Conselho de Segurança sobre al-Nusra e ISIS, aprovada há alguns meses, e essa Resolução é muito clara: ela proíbe qualquer apoio militar, financeiro ou logístico àquelas facções. OK, mas Turquia, Arábia Saudita e Qatar continuam a apoiá-las. Se a Resolução não é implementada, não se pode falar de solução real, porque há obstáculos. É indispensável começar por aí.

Em terceiro lugar, os países ocidentais devem retirar o “guarda-chuva”, que é como dizem vários dos que apoiam a tal “oposição moderada”. Eles sabem que protegem principalmente a al-Qaeda, ISIS e a Frente al-Nusra.

Pergunta 16: O senhor estaria preparado para algumas medidas antes das conversações, para construir confiança? Por exemplo, troca de prisioneiros ou o fim das barreiras de artilharia, ou a libertação de prisioneiros políticos, para construir confiança no outro lado, de que o senhor está disposto a negociar de boa fé?

Presidente Assad: Essa não é uma relação pessoal. Aqui se trata de mecanismos, de instituições. Na política só se cogita de mecanismos e de instituições. Ninguém precisa confiar pessoalmente em alguém para fazer alguma coisa no mundo político. Se há um mecanismo claro, que todos conheçam, é possível chegar a um resultado. O povo quer resultados. Portanto, a pergunta correta é: qual o mecanismo que poderá ser acionado? Com isso, voltamos necessariamente àquela pergunta anterior: quem são os grupos com quem negociar? O que representam? Que influência têm? De que adiantaria a alguém “construir confiança” com gente que nada representa e não tem influência alguma?

Bashar al-Assad
Jornalista: As medidas de que falei teriam o efeito de baixar a temperatura, alguma coisa concreta.

Presidente Assad: Já temos o processo de reconciliação, muito concreto. Gente depôs armas, nós demos anistia a quem depôs armas, vivem hoje vida normal. Esse é exemplo muito concreto. Essa também é medida de confiança mútua. Por outro lado, que relação haveria entre aquela “oposição” e os prisioneiros? Nenhuma relação. Não são prisioneiros daqueles grupos. A questão aí é completamente diferente.

Pergunta 17: O senhor está dizendo que ofereceu anistia aos combatentes?

Presidente Assad: Claro que sim, e várias vezes.

Pergunta 18: Quantos aceitaram? O senhor tem números?

Presidente Assad: Não tenho aqui os números precisos, mas são milhares, milhares, não centenas, de militantes.

Pergunta 19: E o senhor está disposto a dizer a toda a oposição que se depuserem armas estarão seguros?

Presidente Assad: Claro que sim. Já disse exatamente isso, publicamente, num de meus discursos.

Pergunta 20: E como o senhor garantiria a segurança deles? Porque eles têm razões para desconfiar do seu governo.

Presidente Assad: Não há garantia absoluta para nada, mas, no fim, se, digamos, mais de 50% dos casos forem bem-sucedidos, já será um sucesso. Nada é absoluto. O caminho é esse e todos temos de contar com algumas dificuldades, mas as dificuldades não são predominantes.

Pergunta 21: Gostaria de mudar um pouco de assunto. O Hezbollah, a força Quds do Irã e as milícias xiitas treinadas no Irã têm, todos esses, papel significativo na luta contra os rebeldes aqui na Síria. Dado esse envolvimento, o senhor se preocupa com a influência do Irã sobre a Síria? Afinal, o Iraque, e mesmo o Líbano, mostram que quando uma potência militar estrangeira estabelece-se dentro de um país, é muito difícil conseguir que saiam.

Presidente Assad: O Irã é país importante na região, e já era influente antes da crise. A influência do Irã nada tem a ver com a crise, tem a ver com o papel do país, com sua posição política em geral. Quando se fala de influência, há vários fatores que tornam influente um determinado país. No Oriente Médio, nossa região, há uma mesma sociedade, uma mesma ideologia, tantas coisas semelhantes, as mesmas tribos, que cruzam fronteiras. Todos os fatores de influência cruzam fronteiras, por aqui. Se alguém influencia num fator, a influência cruzará fronteiras. Isso é parte de nossa natureza. Não está relacionado ao conflito. Claro, quando há conflito e anarquia, outro país poderá ser mais influente sobre um ou outro país. Se você não tem vontade de ter um país soberano, essa influência prevalecerá. Mas, respondendo sua pergunta: o Irã não tem qualquer ambição na Síria e, como país, a Síria jamais admitirá que qualquer país “influencie” nossa soberania. Nós não admitiremos em nenhum caso, nem os iranianos desejam tal coisa. Admitimos a cooperação.

Mas se se admite que qualquer país influencie, por que não deixar que os norte-americanos mandem aqui? Porque esse é o problema com os norte-americanos: eles só querem influenciar, sem cooperar.

[Continua]

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