Kiev luta em duas frentes. Enquanto leste do país é ameaçado por separatistas pró-russos, população sofre com inflação alta e cortes de programas sociais. Ajuda financeira do Ocidente é última esperança.
A Ucrânia parece um paciente na UTI: o coração segue batendo, mas ainda sai sangue das feridas abertas. Há mais de um ano, o país vem lutando simultaneamente em duas frentes: militarmente, contra os separatistas pró-russos; e economicamente, contra a falência estatal.
Especialmente na frente econômica, Kiev é dependente da ajuda ocidental. O governo espera receber nos próximos anos até 40 bilhões de dólares do exterior. Quase a metade dessa soma deve ser fornecida pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).
Quando o FMI decidiu, no início de março, ampliar seus empréstimos de emergência, a alegria em Kiev foi grande. Até 2018, a Ucrânia deve receber 17,5 bilhões de dólares. A maior parte deste montante, cerca de 10 bilhões, está prevista para ser paga neste ano.
Esperando a clemência dos credores
Uma grande parte desse dinheiro, a Ucrânia precisa para pagar empréstimos anteriores. Só a Rússia espera até o fim do ano receber 3 bilhões de dólares. Kiev quer negociar com Moscou um adiamento do pagamento da dívida até o fim do ano, mas as chances de sucesso não são grandes.
A ministra ucraniana das Finanças, Natalia Yaresko, esteve ainda neste mês nos Estados Unidos para conduzir as conversações iniciais com os credores. Também em Londres são previstas negociações. Kiev quer pagar suas dívidas mais tarde, preferindo usar os bilhões obtidos do Ocidente para investimentos em sua própria economia.
Mas o FMI cobra reformas radicais como condição para seu apoio financeiro, incluindo dolorosos aumentos dos preços da energia para domicílios. No inverno, Kiev não quis aumentar as tarifas, por respeito ao clima já negativo entre a população.
Explosão de preços da energia
A eletricidade já ficou cerca de 40% mais cara desde 1° de março. Agora, os custos de calefação estão prestes a subir em 60%. Especialmente o preço do gás deve sofrer forte elevação. A presidente do banco central da Ucrânia, Valeria Hontareva, anunciou que as tarifas de gás serão aumentadas em 280%.
O governo de Kiev projetava uma taxa anual de inflação de 13%. Agora, corrigiu seus prognósticos, e espera uma taxa duas vezes maior. O Parlamento já ajustou sua lei do orçamento para a nova previsão.
Desde o final de 2013, a Ucrânia está à beira da falência. Na época, o governo do presidente pró-russo, Viktor Yanukovych, admitiu para os cofres do Estado estavam vazios. Após a mudança de poder em Kiev e a eclosão do conflito armado no leste da Ucrânia, a situação se deteriorou drasticamente.
"Por causa da guerra, investidor nenhum vem para a Ucrânia", diz Robert Kirchner, do grupo consultivo alemão junto ao governo ucraniano, em entrevista à DW. A moeda ucraniana, grívnia, também desvaloriza rapidamente.
Crise afeta investimentos sociais
Enquanto, por um lado, os preços aumentam, o governo quer, do outro lado, cortar os gastos sociais. Com isso, a aposentadoria mínima só deverá sofrer aumento em dezembro de 2015.
"Após a votação parlamentar sobre o novo Orçamento, os ucranianos terão que apertar ainda mais o cinto", diz o economista ucraniano Andrei Novak. "Uma grande parte da população vai viver abaixo da linha da pobreza."
Não só aposentados e trabalhadores com baixo rendimento temem cair na pobreza. Mesmo pessoas com rendimentos elevados são afetadas – como o pequeno empresário Ihor Savchuk.
"Estamos pensando em instalar uma caldeira de biomassa, mas ela é muito cara", diz Ihor, que mora em casa própria com sua família. "Ou nós reduzimos nosso consumo de gás ao mínimo."
Guerra de risco incalculável
Um terço da população está disposto a suportar a situação por mais um ano – contanto que haja mudanças positivas, indicou pesquisa realizada pelo Centro Razumkov, umthink tank em Kiev. Mas quase tantos outros ucranianos, 29%, não aceitam novas notícias ruins, afirmando que a situação já está insuportável.
A guerra se tornou um risco incalculável. "Se o conflito se arrastar por muito mais tempo, o governo terá de recalcular seus gastos militares e os pagamentos aos credores estrangeiros", alerta Andrei Novak.
Até agora, no entanto, a perspectiva de uma paz duradoura no leste da Ucrânia parece improvável. Muitos observadores acreditam que devem ocorrer novos confrontos entre os separatistas pró-russos e o Exército ucraniano.
Defesa Net / DW
Nenhum comentário:
Postar um comentário