Militares na entrada do recinto da Sabesp, em Pinheiros. / MARTHA LU
O Exército brasileiro ocupou na manhã desta quarta-feira as dependências da Sabesp, no bairro de Pinheiros, na zona Oeste de São Paulo. Cerca de 70 militares armados estudam o perímetro e o interior do recinto "para uma eventual necessidade de ocupação, em caso de crise", segundo o comunicado interno enviado pela companhia aos seus funcionários. O conceito de "crise" não foi esclarecido pela Sabesp, mas funcionários explicaram a este jornal que é conhecido e comentado o temor por possíveis revoltas populares ou tentativas de invasão no local, se a crise hídrica que enfrenta São Paulo se agravar ainda neste ano. O Exército considera esta operação no contexto de segurança nacional e qualifica a sede da Sabesp como "área estratégica".
A Sabesp informa que, a exceção do ano passado, esse tipo de manobra tem sido feita em outras dependências da companhia e em estações de tratamento de água há 15 anos. Consultados por EL PAÍS, três ex-funcionários da companhia com mais de 25 anos de crachá da empresa disseram nunca terem visto nada parecido. O Comando Militar do Sudeste afirma que enviou um efetivo de 100 militares para o Adestramento em Operações de Garantia da Lei e da Ordem "de acordo com o planejamento normal do ano de instrução" dos soldados. "Não há correlação com a crise hídrica, hoje foi aí, como amanhã pode ser em torres de telecomunicações ou de energia elétrica", afirmou a assessoria do Comando.
Na porta da companhia, dois funcionários comentavam a ostensiva presença dos militares no local. Um deles, embora tenha sido avisado nesta terça-feira, levou um susto bem de manhã ao guardar sua marmita no refeitório, onde encontrou mais de 30 homens armados com metralhadoras. O Exército chegou por volta das 6h e prevê continuar as manobras até as 19h. O trabalho de reconhecimento dos militares está sendo realizado, mais discretamente, desde o dia 25.
O Exército já tinha demonstrado sua preocupação pelo agravamento da crise hídrica e o caos social que poderia se desatar diante cortes prolongados no fornecimento de água. No dia 28 de abril, o Comando Militar do Sudeste, que coordena esta operação, celebrou na sua sede a primeira palestra com a crise hídrica como assunto. No evento, o diretor metropolitano da Sabesp, Paulo Massato, abriu a porta para a possibilidade da água acabar em julho, mas afirmou que a conclusão das obras planejadas pela Sabesp pode garantir o abastecimento até o próximo período de chuvas, em outubro.
A principal dessas obras é a interligação da Represa Billings com o Sistema Alto Tietê e despejará, segundo o governador Geraldo Alckmin e o presidente da companhia Jerson Kelman, um rodízio drástico – de cinco dias sem água por dois com – nos bairros abastecidos pelo Sistema Cantareira. A Sabesp e Governo asseguram que, depois de um atraso de três meses, os trabalhos devem finalizar em setembro e não haverá rodízio.
Leia o comunicado enviado aos funcionários da Sabesp
Exército Brasileiro realiza operação desegurança no Complexo Costa Carvalho
Área da Sabesp é considerada estratégica e ação faz parte das atividades militares preventivas que visam a preservação da ordem pública e a proteção das pessoas e do patrimônio
Nesta quarta-feira, 27 de maio, o Comando Militar do Sudeste do Exército Brasileiro estará nas dependências da Sabesp, no Complexo Costa Carvalho, para uma operação inserida no contexto de segurança nacional. Trata-se de simulação para uma eventual necessidade de ocupação em um momento de crise, uma vez que a área da Sabesp é considerada estratégica.
Militares e veículos deverão chegar logo nas primeiras horas do dia e desenvolverão as atividades de segurança no decorrer da quarta-feira sem qualquer interferência na rotina de trabalho da companhia. Para garantir o sucesso da operação, o trabalho de reconhecimento do terreno pelos oficiais do Exército Brasileiro está sendo realizado desde o dia 25.
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