10/12/2015, Manlio Dinucci, Il Manifesto
Tradução Vila Vudu
A “histórica” decisão do Conselho do Atlântico Norte de convidar Montenegro a iniciar os procedimentos para se tornar o 29° membro da Aliança é mais uma jogada da estratégia dos Estados Unidos e da OTAN com vistas a cercar a Rússia.
Que importância tem Montenegro para a OTAN, o último dos Estados (2006) surgidos da desagregação da Federação Iugoslava, demolida pela OTAN, por infiltração e guerra? Fácil compreender, se se examina o mapa geográfico.
Com superfície pouco menor que a da Puglia italiana (distante apenas 200 quilômetros, no outro lado do Mar Adriático) e população de apenas 630 mil habitantes (1/6 dos habitantes da Puglia), Montenegro vale muito pela importante localização geoestratégica. Tem fronteiras com a Albânia e a Croácia (membros da OTAN), Kosovo (já membro de fato da OTAN), Sérvia e Bósnia-Herzegovina (parceiro da OTAN). Tem dois portos no Mar Mediterrâneo, Bar e Porto Montenegro, utilizáveis para finalidades militares. No segundo, fez escala o porta-aviões “Cavour”, em novembro de 2014.
Montenegro é estrategicamente importante também como depósito de munições e outros materiais bélicos. Há naquele território dezenas de grandes bunkers subterrâneos construídos quando ainda havia a Federação Iugoslava, e lá estão mais de 10 mil toneladas de munições antigas, para vender ou exportar, e hangares fortificados (que a OTAN bombardeou em 1999).
A reestruturação do país já começou há tempos, com milhões oferecidos pela União Europeia (principalmente para as regiões de Taras eBrezovic). A OTAN já encontrará prontos seus bunkers em Montenegro, onde poderá, depois de eles serem modernizados, estocar enormes quantidades de munições, inclusive armas nucleares, e hangares para seus jatos bombardeiros.
Montenegro, cuja entrada na OTAN é considerada certa, é também candidato à União Europeia, ao lado dos 22 dos 28 membros que já foram incluídos na OTAN sob o comando dos EUA. Importante papel teve nesse processo Federica Mogherini (Alta Representante da UE para Política Externa e Segurança), que visitou Montenegro como ministra das Relações Exteriores em julho de 2014 e não se cansou de repetir que “a política de ampliação é pedra angular do sucesso da União Europeia – e da OTAN –, para promover a paz, a democracia e a segurança” na Europa, e de elogiar a “história de sucesso” do governo de Montenegro. Falava do governo de Milo Djukanovic, contra o qual em 2013 pesavam suspeitas até da Europol (Polícia da UE).
Montenegro já se tornara então importante centro de lavagem de dinheiro e um dos nodos de distribuição do tráfico de drogas vindas do Afeganistão (onde a OTAN opera). Seria “história de sucesso” semelhante à do Kosovo, o que mostra as mil e uma utilidades estratégicas do crime organizado.
Continua pois a OTAN a crescer em direção ao oriente. Em 1999, incorpora os três países do antigo Pacto de Varsóvia: Polônia, República Tcheca e Hungria. Em 2004, mais sete países da União Soviética Estônia, Letônia, Lituânia; e Bulgária, Romênia, Eslováquia (do antigo Pacto de Varsóvia); Eslovênia (que foi território da Iugoslávia). Em 2009, a OTAN incorporou a Albânia (que fizera parte do Pacto de Varsóvia por algum tempo) e a Croácia (antes, parte da Iugoslávia).
Agora, apesar de forte oposição interna, tratada com repressão violenta, começa o trabalho para incorporar à OTAN também Montenegro; depois virão outros “países aspirantes” – Macedônia, Bósnia-Herzegovina, Geórgia, Ucrânia – e outros, para os quais a OTAN mantém suas “portas abertas”.
Assim vai a OTAN, crescendo na direção do oriente, sempre para mais perto da Rússia. Com bases e forças militares, também nucleares, a OTAN está abrindo caminho para cenários os mais catastróficos, para a Europa e para o mundo.
Manlio Dinucci Geógrafo e geopolítico. Últimas publicações : Laboratorio di geografia, Zanichelli 2014 ; Geocommunity Ed. Zanichelli 2013 ; Escalation. Anatomia della guerra infinita, Ed. DeriveApprodi 2005
Oriente Mídia
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