sabem, percebem, mas infelizmente se acostumam a respirar do rádio e
da televisão o ar sujo, que não faz bem. Para mim os maiores pecados são
aqueles que vão na estrada da mentira, e são três: a desinformação, a
calúnia e a difamação”. (Papa Francisco, em 22 de março de 2014)
O grande comediante Chico Anísio colocava a frase que intitula este artigo na fala de uma de suas inúmeras criações. Pura e simples verdade.
A ignorância, em todos os tempos, foi a grande aliada da perpetuação dos poderes. Nas trevas medievais, dominou o poder extraterreno da divindade, representado aqui pelos homens de Deus, enclausurando o conhecimento nos mosteiros. O poder colonial impunha o idioma, que não sendo o materno, obrigava o colonizado a se expressar de modo no mínimo dificultoso e, assim, receber o conhecimento pelo modelo da cultura estrangeira.
Não cabe fazer história. Hoje a colonização tem na imprensa sua importante aliada. Transcrevo parte do trabalho da Professora Celia de Andrade Lessa Kerstenetzky, publicado na revista Sinais Sociais, do SESC, nº 13, 2010:
- “Em uma pesquisa recente em comunidades pobres no Rio de Janeiro, observei que a melhoria de indicadores quantitativos de renda e serviços públicos não se fez acompanhar por uma melhoria da qualidade e da regularidade dos serviços oferecidos pelo governo. Além de se queixarem com intensidade da precariedade desses serviços, os entrevistados mostraram um grau preocupante de desalento político. De um modo geral, tendiam a favorecer opções informais/ilícitas de serviço e a identificar o bom político como o que ajuda a comunidade. Os serviços acabam sendo vistos como liberalidades, não como direito; a política, confinada na prática ao relacionamento com os políticos locais, é percebida como um mercado onde favores são trocados por votos.”
A pesquisa referida foi realizada em 2009, na Cidade Alta, favela da zona norte do Rio de janeiro, pela Doutora em Ciência Política, Celia Kerstenetzky.
Há 15 anos tive o diagnóstico do diabetes. Passei, desde então, a me tratar pelos recursos oferecidos pelo plano de saúde.
Neste ano, por vários motivos, dentre os quais a aferição dos serviços públicos, me inscrevi no SUS/Clínica da Família, da área de minha residência. Compareci, pela primeira vez, no dia 3 de maio. Feita a inscrição, me informaram que um agente de saúde iria confirmar a residência dentro de 30 dias. Em menos de 20 dias corridos tive a visita e a 27 de maio marquei a consulta para o dia 31 de maio, o segundo dia útil, às 15:20 horas. Fui atendido pontualmente e por cerca de uma hora a médica me entrevistou e organizou meu prontuário no sistema informatizado. Pediu exames e receitou medicamentos que, no mesmo dia, retirei na farmácia existente no prédio do atendimento. Marcou, também a data da próxima consulta e o exame que deveria realizar antes daquela consulta. Voltei à recepção para marcar o exame e soube que um deles seria realizado naquele momento e o outro, por exigir jejum de 12 horas, após 24 horas.
Já tive os exames realizados e disponíveis na internet. Tomo os remédios, faço, com material fornecido pelo SUS, o controle diário da taxa glicêmica e aguardo o exame, já determinado para agosto, antes de comparecer à consulta das 16:40h, de 17 de agosto. Salvo se o provisório governo decretar antes a extinção do SUS.
São dois casos que de algum modo se entrelaçam na desinformação propositada da comunicação de massa no Brasil. Na pesquisa, uma constante desconstrução dos programas e ações que objetivam dar a condição básica da cidadania. As responsabilidades se diluem na burocracia para que o sistema de favores prevaleça sobre o dos direitos.
É a mais velha e torpe sujeição aos prepostos do poder, desde os capitães do mato no período da escravidão legal.
No meu caso particular, a falsa ideia de que um serviço de atendimento popular não pode ser eficaz. Narrando este fato a amigos, um me perguntou: e as reclamações que vemos no noticiário? Não sei responder, mas suponho tratar da exceção, sempre presente em todo e qualquer ambiente, ou, considerando a venalidade imperante, apenas um elemento da permanente campanha contra o público em favor do privado ou contra um governante popular em favor de um neoliberal qualquer.
Estes fatos episódicos reforçam nossa convicção da necessidade de reforma do Estado brasileiro, dotando-o de instituições em permanente avaliação popular, seja pelo controle externo seja pela própria gestão participativa.
Igualmente relevante é ter o contraditório na comunicação de massa, pois a permanente deturpação dos fatos e a ocultação dos êxitos administrativos fazem que se estabeleçam ideias preconceituosas, mesmo por que nunca utilizou de algum modo os sistemas públicos.
Agradecimento de Dinamica Global pela contribuição do autor.
Agradecimento de Dinamica Global pela contribuição do autor.
Autor: Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado
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