O número de mortes no horrendo mais recente atentado a bombas no Iraque já ultrapassou 250.
Se Blair não estivesse obcecadamente determinado a atacar o Iraque apoiado numa sabida e conhecida mentira sobre Armas de Destruição em Massa (ADMs), aquelas pessoas ainda estariam vivas, bem como vários milhões de outros mortos. O ISIS jamais teria conseguido controlar territórios no Iraque e na Síria. Al-Qaeda jamais teria crescido, de organização de poucas centenas, para organização de dezenas de milhares de membros. O Oriente Médio não estaria completamente desestabilizado; e não haveria massiva crise de refugiados.
Mas que ninguém espere hoje verdade completa e transparência total do painel Chilcot de fiadores do establishment. Não esqueçamos quem são aquelas pessoas.
Sir John Chilcot
Membro do Inquérito Butler 'lavou' o crime da fabricação de provas de que haveria ADMs no Iraque. Fato é que, além de qualquer dúvida, o Foreign Office (FO) e o Serviço Secreto de Inteligência (ing. SIS, também conhecido como MI6), sabiam que não havia ADMs no Iraque.
No início dos anos 1990s, dirigi a sessão do Foreign Office do Centro de Supervisão dos Embargos, encarregada de monitorar e impedir tentativas dos iraquianos para obterem armas. Em 2002, eu fazia um curso para Embaixadores recém nomeados, com Bill Patey, que dirigia o Departamento do Foreign Office que lidava com o Iraque. Bill é formado pela Dundee University e testemunhou hoje cedo no Tribunal para o Iraque. Sugeri a ele que as histórias que estamos divulgando sobre ADMs no Iraque podiam ser falsas. Ele riu e disse "Claro que são falsas, Craig, só conversa fiada". Conversei com muitas outras pessoas, gente demais para listar aqui, ao longo de uns poucos meses, com colegas do Foreign Office que, todos eles, sabiam que a conversa sobre ADMs jamais passara de amontoado de mentiras.
Pois Chilcot defendeu uma conclusão, no Inquérito Butler, segundo a qual as ADMs no Iraque teriam sido um "erro honesto". É indiscutível engodo, que homem já envolvido em operação notória de lavagem e ocultação de indícios reapareça para 'garantir' que o novo inquérito não teria incluído as mesmas práticas.
Sir Roderick Lyne
Bom amigo e parceiro de caminhadas de Alastair Campbell.
Quando falei pessoalmente com ele pela última vez, éramos ambos embaixadores e navegávamos numa fragata britânica pelo Rio Beva em S.Petersburgo. Colegas dele se servem de muitos termos para descrever Rod Lyne, alguns elogiosos, mas "homem de cabeça aberta" certamente não está entre eles.
Se houvesse qualquer possibilidade de a Comissão querer provar que a Guerra do Iraque configurou crime de guerra, Rod Lyne seria obrigado a se autoacusar. Como embaixador em Moscou, ele trabalhou muito ativamente tentando mitigar a oposição dos russos, absolutamente contrários à Guerra do Iraque. Foi ele quem, pessoalmente, levou aos ouvidos do ministro de Relações Exteriores da Rússia as mentiras sobre ADMs no Iraque. Jamais houve nem a mais leve indicação privada de que Lyne tivesse algum dia sentido qualquer remorso sobre aquela guerra.
Do Uzbequistão, ele sempre incluía Moscou em cópia nos nossos telegramas de serviço, por razões óbvias. Lyne respondeu a meus telegramas nos quais eu protestava contra aCIA usar inteligência obtida nas câmaras de tortura uzbeques, com o pedido de que eu não lhe enviasse telegramas sobre aquele assunto.
Sir Lawrence Freedman
De todos os nomes selecionados, Lawrence Freedman é a escolha mais espantosa. Sempre foi santo padroeiro de guerras "justificadas" de agressão e exponente das "Guerras de Escolha" e da "Intervenção Humanitária". É 100% opinião pronta e parti pris.
Adiante, parte do que ele disse à Comissão Especial sobre a Constituição, da Câmara dosLords, dia 18/1/2006:
"A ideia básica aqui é que nossas forças armadas se preparavam para o que se pode chamar de guerras de necessidade, quando o país estivesse sob ameaça existencial, de tal modo que se você não responde àquela ameaça, de modo muito básico nossos interesses vitais, nosso modo de viver, estariam ameaçados, e quando se consideram algumas dessas situações, são grandes ocasiões para a nação. A dificuldade que agora enfrentamos com guerras de escolha é que são discricionárias, e o governo considera vários fatores uns em relação aos outros. Falei de Sierra Leone, mas Rwanda passou por nós e nem vimos, o que muita gente consideraria uma ocasião em que teria valido a pena envolver-se. Houve o Sudão, e se disse muita coisa sobre Darfur, mas não aconteceu tudo aquilo (...)
(...) O Iraque foi situação muito pouco usual, na qual não havia conflito em andamento. Se tivéssemos esperado, as coisas não estariam muito diferentes em dois ou três meses, e assim, em vez de responder a agressão por outra entidade, como no caso das Falklands, ou de desenvolver tensões humanitárias, como nos Bálcãs, decidimos que considerações de segurança sobre o futuro exigiam ação imediata."
Sir Martin Gilbert (faleceu durante a investigação)
Historiador de direita, cuja biografia de Churchill concentrou-se no gozo que a guerra lhe oferece e é extremamente tediosa (a biografia de Churchill de Roy Jenkins é infinitamente melhor). Gilbert não era só morbidamente pró Guerra do Iraque: para ele, Blair 'é' Churchill:
"Embora se possa argumentar facilmente que George W Bush e Tony Blair enfrentaram desafio muito menor que o que Roosevelt e Churchill enfrentaram – afinal, a guerra ao terror não é uma terceira guerra mundial –, é possível que, com a passagem do tempo e a abertura dos arquivos, eles também alcancem as alturas de Roosevelt e Churchill. As respectivas sociedades são hoje divididas demais para emitir julgamento sóbrio e calmo, e muitas de suas realizações podem só vir no futuro, quando o Iraque tiver democracia estável, a al-Qaeda já tiver sido neutralizada, e quando Israel e a Autoridade Palestina sejam democracias independentes, vivendo lado a lado em cooperação econômica construtiva."
Baronesa Prashar
Presidente da Ditchley Foundation, instituição do Foreign Office – cujo diretor Sir Jeremy Greenstock, embaixador do Reino Unido à ONU, foi quem apresentou lá as mentiras sobre ADMs iraquianos; esteve também muito intimamente envolvida no movimento pró-guerra. Em todos os sentidos, é mais uma muito íntima insider da política exterior doestablishment.
Assim sendo, para resumir, essa comissão – cujos membros foram escolhidos a dedo por Gordon Brown – não poderia ter sido mais adequadamente selecionada para garantir a Blair perdão prévio.
Mais de 50% da população britânica opunha-se à Guerra do Iraque, incluindo vários e vários conhecidos e respeitados embaixadores, muitos membros das Forças Militares e muitos intelectuais e professores de academia. Fato é que Brown não pôs na Comissão Chilcot ninguém que algum dia tenha-se manifestado contra a Guerra do Iraque; três, de cinco membros, eram apoiadores ativos e declarados da guerra.
Mas que ninguém espere encontrar essa verdade simples exposta ou, sequer, considerada, na cobertura que a mídia-empresa mainstream dará ao Relatório Chilcot.*****
* O Report of the Iraq Inquiry [Relatório do Inquérito sobre o Iraque] foi publicado dia 6/7/2016. A declaração oficial do relator Sir John Chilcot pode ser lida (ing.) aqui.
** Craig Murray é autor, radialista e ativista de direitos humanos. Foi embaixador britânico no Uzbequistão, de agosto de 2002 a outubro de 2004 e reitor da Universidade de Dundee de 2007 a 2010.
Craig Murray,** Information Clearing House
Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu
blogdoalok
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