Militares e aviões russos na base aérea de Hmeimim, na Síria Foto:Reuters
Um porta-voz do Ministério da Defesa russo negou as acusações de que o país teria planejado com antecedência um ataque a uma base dos EUA-Reino Unido na Síria, ainda em 16 de junho, e ressaltou que os coligação internacional estariam na zona de ação das forças aeroespaciais russas “por culta de sua liderança, que se recusa a coordenar as operações na Síria com Moscou”.
A declaração veio na esteira de uma reportagem divulgada pelo norte-americano “The Wall Street Journal”, no último dia 21 de julho, na qual o veículo denuncia um suposto ataque aéreo pelas forças aeroespaciais russas sobre uma base da coalizão ocidental contra Estado Islâmico (EI).
Segundo o jornal, o ataque em al-Tanf, no sudeste da Síria, teve como alvo uma base secreta usada tanto por rebeldes sírios, como pelas forças especiais norte-americanas e britânicas. Fontes entrevistadas pelo veículo alegam que o incidente teria sido premeditado pela Rússia.
Acidente ou ação planejada
O ataque aéreo perpetrado em al-Tanf mirava terroristas, segundo o especialista militar da Tass, Víktor Litôvkin. “A pasta da Defesa não sabia que a base era também usada por norte-americanos e britânicos”, disse Litôvkin à Gazeta Russa, antes de acrescentar que “representantes de grupos como a al-Nusra estavam na base”.
Já o especialista em estudos árabes e professor sênior do departamento de Ciências Políticas na Escola Superior de Economia, em Moscou, Leonid Issaiev, qualifica a versão do jornal norte-americano como “credível”.
“Ao atacar a base, a Rússia enviou aos EUA e seus aliados um sinal de que a falta de coordenação pode ser muito perigosa, e isso teve efeito”, diz Issaiev. “As negociações que ocorreram entre [o chanceler russo Serguêi] Lavrov e [o secretário de Estado dos EUA John] Kerry recentemente [após o ataque na base] focaram justamente a necessidade de coordenação russo-americana na Síria.”
Confronto direto improvável
Um ataque russo a uma base dos EUA-Reino Unido parece preocupante, mas a reação ao incidente foi contida. As autoridades de ambos os países não teceram comentários sobre o episódio, com exceção de um relatório divulgado pelo Pentágono em 18 de junho, segundo o qual as partes discutiram a situação em detalhes e garantiram que assumirão esforços para evitar a repetição do de incidentes como esse no futuro.
“As tropas norte-americanas e britânicas não sofreram perdas no ataque”, disse Litôvkin. “Por isso, a resposta contida dos oficiais”, completou.
Apesar de conduzido contra uma base da coalizão ocidental, o ataque teve como alvo os combatentes da oposição síria, e não os representantes estrangeiros, garante Issaiev. “A Rússia não iria atacar os Estados Unidos e suas forças aliadas na Síria.
Tanto a Rússia como os Estados Unidos entendem que um confronto direto pode levar a um grave conflito que nenhum dos lados tem interesse”, afirma.
Dificuldades de coordenação
A Rússia já sugeriu aos Estados Unidos uma cooperação mais estreita na Síria. A iniciativa pressupõe a coordenação de uma lista única de grupos terroristas e o compartilhamento das coordenadas de combatentes da oposição leais à coalizão ocidental a fim de poupá-las de possíveis ataques pela força aérea russa. No entanto, esta opção não serão realizada em futuro breve, concordam Issaiev e Litôvkin.
“Os Estados Unidos têm dificuldade em criar uma lista única com forças da oposição moderada que não devem ser atingidas e com quais deve-se negociar”, explica Issaiev. “O problema é que a oposição é muito turva”, acrescenta.
Muitos grupos de oposição, segundo o observador, se dividiram em facções menores e vêm atuando sob diferentes bandeiras, declarando-se alternadamente seculares e islâmicos, e, por vezes, cooperando com grupos terroristas como Frente al-Nusra.
Além disso, Litôvkin sugere que a coordenação é dificultada por disputas entre o departamentos de Estado e de Defesa dos EUA, que mantêm diferentes pontos de vista sobre a cooperação com a Rússia na Síria. “Quando Lavrov negocia algo com Kerry, em seguida, verifica-se que não é um acordo aos olhos do Pentágono e da liderança das forças dos EUA na Síria”, disse.
gazetarussa
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