A sequência mostra um cargueiro AN-32 e, abaixo, o ministro da Defesa indiano Parrikar sendo brifado acerca das buscas coordenadas pela Marinha ao avião desaparecido
Por Roberto Lopes
Com tecnologia não se brinca. Especialmente se ela for a de aplicação militar, rotineiramente levada aos limites das suas capacidades.
O ministro da Defesa da Índia, Manohar Parikkar está sob forte pressão dos militares que lidera e da imprensa de seu país, em razão dos 42 acidentes aéreos com aeronaves militares ocorridos nos últimos cinco anos.
Neste fim de semana, em um gesto destinado a demonstrar que se preocupa com o quadro de obsolescência quase generalizada dos seus aviões e helicópteros, Parikkar embarcou em um (moderníssimo) jato de patrulhamento marítimo Boeing P8i, e participou de um voo de buscas ao bimotor de transporte AN-32, de origem ucraniana, desaparecido das telas do radar na sexta-feira passada (22.07), quando sobrevoava o Mar Arábico, transportando 21 militares da Estação da Força Aérea de Tambaram, perto de Chennai – extremo nordeste da Índia –, para Port Blair, a capital do estratégico arquipélago Andaman e Nicobar.
O importante semanário Sunday Standard, de Nova Déli, publicou, neste domingo (24.07) uma reportagem cujo título pergunta: “O que o desaparecimento do AN-32 nos diz: a maior parte do inventário da IAF [sigla de Força Aérea da Índia em inglês] é de três décadas atrás”.
Turbulência – Os upgrades “de meia-vida” na frota de 101 cargueiros AN-32 começaram a ser feitos em 2010.
Entretanto, até agora, apenas 40 desses aviões retornaram, devidamente atualizados, de Kiev. O serviço no restante da frota vem sendo afetado pela turbulência política entre a Ucrânia e a Rússia – países que, no passado, compartilhavam boa parte de sua produção militar.
O avião desaparecido era um dos dez transportes desse tipo que haviam sido modernizados nas instalações da Base de manutenção ucraniana de Kanpur. O serviço foi concluído em setembro de 2015, depois que, em julho daquele ano, a aeronave apresentara três problemas técnicos.
Obsolescência – Dos 42 aparelhos militares acidentados desde 2011, 28 caíram.
Entre eles havia 20 caças, a maior parte – 14 – velhos jatos Mig.
Perto de dois terços da frota militar indiana foi fabricada na Rússia ou em alguma das antigas Repúblicas Soviéticas.
Quando eles cruzam seu primeiro limite de vida útil é preciso remeter esses aviões ao fabricante, onde eles receberão uma remodelação “de meia-vida”. Mas a limitada disponibilidade de spare parts atrasa o processo de recuperação dessas máquinas aéreas, apesar de a Hindustan Aeronautics Ltd., principal indústria aeronáutica da Índia, já estar envolvida, há alguns anos, na conservação de aeronaves procedentes da Rússia.
O problema é que, para um país que desenvolve e mantém armas nucleares, com milhares de aviões e de tanques (além de mais de uma centena de embarcações militares), apenas uma grande indústria aeronáutica é totalmente insuficiente.
Uma a auditoria encomendada há tempos pelo Ministério da Defesa indiano mostrou que as dificuldades técnicas têm perseguido os aviões da Aviação Militar, e que nem os modernos caças Sukhoi Su-30, integrantes das unidades aéreas de 1ª linha, escapam a essa sina.
Documentação – Como bem lembrou o Sunday Standard, a maior parte da frota aérea da Índia já completou três décadas em operação.
Os militares admitiram para uma comissão do Parlamento que suas equipes de manutenção só podem lidar, adequadamente, com um pouco mais de 60/65% do total das aeronaves em operação – e que esse índice poderia subir para 77/80% caso houvesse peças de reposição na quantidade necessária, o que não é o caso.
Além disso uma auditoria já determinou que o pessoal indiano da manutenção lida com “documentos obscuros e erros de tradução” nos manuais técnicos que manuseia.
Como a compra dos caças franceses Rafale anda muito devagar, os pilotos indianos se vêem forçados a proteger os céus do seu país a bordo dos antiquados Migs, apelidados de “caixões voadores”.
Os registros oficiais são assustadores: nos últimos 46 anos, mais de 170 pilotos da Aviação Indiana morreram em acidentes com o jato Mig-21. De 2011 até agora, ao menos seis Mig-21 Bison (foto abaixo) caíram. Mas já se sabe que, nesse último caso, o problema são os constantes vazamentos de combustível.
Tejas – A Força Aérea da Índia planeja ter desativado todas as versões do Mig-21 até o ano de 2022, substituindo-as pelo caça leve HAL Tejas – mas a verdade é que essa aeronave ainda não está completamente pronta para cumprir suas missões de Defesa Aérea.
Os indianos estipularam em 44 o número de seus esquadrões aéreos de combate, mas, hoje, apenas 33 estão operacionais. Um total de 144 aeronaves mobilia essas unidades.
O plano estratégico da Aviação indiana é expandir os seus esquadrões de caça até o total de 45, prevendo um cenário (dantesco) de guerra em duas frentes, com a China e o Paquistão.
Outro índice que ilustra o deficiente estado de prontidão da Força Aérea da Índia: o comando da corporação recomenda a existência de 1,25 piloto para cada avião de combate, mas esse índice é, atualmente, de 0,84.
Só para comparar: de acordo com o Sunday Standard, o Paquistão possui 2,5 pilotos para cada uma de suas aeronaves de combate,
Dos 33 esquadrões de combate (caça e ataque ao solo) da IAF:
11 estão equipados com caças Mig-21 e Mig-27A (considerados de risco elevado);
Mig-27A indiano
10 estão dotados de caças Sukhoi Su-30MKIS (foto abaixo);
06 voam os caças-bombardeiros Jaguar, de origem britânica (fabricados nos anos de 1970);
Jaguar indiano em procedimento de descida
02 voam jatos franceses Mirage 2000 (foto abaixo); e
03 operam os caças multi função Mig-29 (que estão sendo revitalizados com nova aviônica e mísseis modernos).
Mig-29 indiano
Exército – Outro motivo de preocupação do Ministério da Defesa indiano é com a robustez de 250 helicópteros que servem à mobilidade de tropas do Exército.
O limite de uso seguro das suas células é de 4.500 horas de voo, mas boa parte deles já acumula mais de 6.000.
A vida útil do motor de uma aeronave de asa rotatória desse tipo (transportadora de tropas) é de 1.750 horas – mas a suspeita é que os motores dos aparelhos indianos já tenham muito mais do que isso.
Plano Brasil
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