Michael T. Klare em um artigo publicado na Global Research e Tom Dispatch, em Inglês, e em Rebelión na versão em espanhol em 5 de Maio (“O colapso da velha ordem baseada no Petróleo”) explica curiosamente o fracasso de uma reunião em Doha, Qatar, dos países da OPEP que se juntaram México e Rússia na qual tentaram cortar a produção de petróleo para levantar os preços do petróleo, medida que não pode ser implementada porque o principal produtor, a Arábia Saudita, recusou-se a reduzir a produção, em parte porque melhores preços beneficiariam o Irã que é seu inimigo.
Klare argumenta que a nova realidade que no futuro próximo enfrentarão os países produtores de petróleo é promissor, e afirma que a oferta excede a demanda pelo que nós estamos vivendo em tempos de pico de demanda, e não de produção de petróleo. Isto é devido em parte ao abrandamento do crescimento econômico, o que é verdade, e de acordo com Klare resultado do início de “uma revolução verde.” Esta frase “revolução verde” devemos lembrar foi cunhada pelo agronegócio nos anos sessenta, portanto: totalmente questionável. Klare acrescenta que nesta revolução verde “o planeta fará a transição para fontes de combustível que não são baseadas em carbono” e que “o preço da energia solar e eólica vai continuar a cair e outras fontes alternativas de energia vão se tornar operacionais.”
Em primeiro lugar, o mundo em que vivemos necessita para funcionar diariamente de 95 milhões de barris de petróleo por dia, essa seria a demanda, são oferecidos no mercado pouco mais de 96 milhões de barris por dia, que seria a oferta, isto de acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA em inglês) e considerando que a diferença entre a oferta e a procura é flutuante, porque a indústria do petróleo é muito complexa, requer manutenção programada contínua e também imprevistos acontecem. Basta pensar que, para transportar estes 95 milhões de barris são necessários cerca de 146 navios super-tanques em trânsito no oceano, ao mesmo tempo; se imaginarmos um barco atrás do outro ou ao lado do outro, estaríamos diante de uma vista imponente e mais impressionante ainda quando percebemos que este óleo surpreendente que se move através do mundo é o que se faz necessário para o funcionamento do mundo em um só dia. Não devemos esquecer que, independentemente do preço do petróleo, ou US$ 45 o barril, ou US$ 100 o barril, de modo igual nós o consumimos, ou seja, o preço não baixou o consumo e, portanto, não vai impedir que o óleo se esgote algum dia – nem vamos dizer de quando ele simplesmente deixar de existir sabendo que é algo que inevitavelmente vai acontecer no futuro.
Certamente aumentou a exploração de petróleo não convencional, como as areias betuminosas de Alberta, Canadá e o petróleo e o gás natural do xisto betuminoso (principalmente nos EUA) ambas explorações causando danos irreparáveis ao meio ambiente em ambos os países, mas o óleo de baixo custo convencional no mundo continua a reduzir significativamente a produção, devido ao esgotamento de seus campos de petróleo, aqui no Canadá o melhor exemplo é o declínio na produção de petróleo convencional em Alberta que de um milhão de barris por dia nas últimas décadas chegou a apenas meio milhão de barris por dia, e algo semelhante vem acontecendo no Alasca onde se chegou a produzir 2 milhões de barris por dia na década de 80, mas hoje a saída máxima é de cerca de 400.000 barris por dia. Prevê-se que até 2020 a produção de petróleo convencional no Alasca não será de 200.000 barris por dia e que em 2030 o famoso tubo estendido de norte a sul no Alasca estará obsoleto devido ao esgotamento do petróleo convencional do Alasca, de acordo com o lei, quando esta tubulação está em uso terá de ser desmontada, provavelmente pelo estado norte-americano já que as companhias petrolíferas evitar fazer a sua parte.
Os outros combustíveis alternativos para os transportes, os biocombustíveis são principalmente o álcool etanol ou acetato (extraído principalmente de milho, cana-de-açúcar e beterraba, nos Estados Unidos e no Brasil se produz 80 por cento do álcool no mundo) e o biodiesel (produzido a partir de óleos vegetais, principalmente soja e especialmente na Alemanha, onde é produzido mais de 60 por cento desse biocombustível) são altamente subsidiados pelos estados que os produzem e têm uma rentabilidade extremamente variável. Além disso, vale considerar as contradições éticas da utilização de matérias-primas alimentares para a produção de biocombustíveis em um mundo onde um bilhão de pessoas não têm comida e passam fome todos os dias.
Considerando então a sua rentabilidade questionável, os desafios éticos envolvidos e aqueles oferecidos para o transporte (sendo corrosivo para os tubos por ser higroscópico, ou seja, absorvem água) e certamente não podem ser uma solução definitiva para o problema de energia nos Estados Unidos, onde mais se há exibido a produção de etanol e a sua utilização como uma mistura com a gasolina que serve como oxigenador para ele, são geralmente misturas de 10 por cento de etanol e 90 por cento de gasolina, também foram fabricados veículos chamados “flex-fuel”, onde o álcool pode chegar a 85 por cento da mistura. Assim, com tudo que se diz, a realidade nos Estados Unidos é que apenas 5 por cento dos combustíveis utilizados no transporte são biocombustíveis – os 95 por cento são combustíveis fósseis. No Brasil, que foi pioneiro no uso de etanol, em uma mistura de 25 por cento de etanol com o resto de gasolina, dos veículos que circulam diariamente 25 por cento usam etanol, o resto usa somente combustível fóssil.
Na área de transporte recebem muita publicidade os veículos de passageiros elétricos e híbridos de eletricidade e gasolina. As corporações fabricantes de veículos dão importância aos chamados veículos ecológicos em parte por ser isso uma estratégia para melhorar a sua imagem pública, para não esquecer que são as corporações as responsáveis por grande parte da poluição que enfrentamos no ambiente. Mas o uso de veículos elétricos ou híbridos no mundo, onde circulam cerca de um bilhão de veículos, é de apenas 0,1, que é de apenas 1 em cada 1000 veículos em circulação é elétrico ou híbrido. A Noruega é uma exceção, pois afirma que 22 por cento de seus veículos são elétricos, tem 220 veículos elétricos ou veículos híbridos para cada 1000 veículos circulando.
A Europa como um todo tem 14 veículos elétricos ou híbridos para cada mil circulantes (1,4 por cento); Os Estados Unidos tem 7 veículos elétricos ou híbridos que circulam para cada mil (0,7 por cento); A China tem 8,5 veículos elétricos ou híbridos para cada mil que circulam (0,85 por cento). É preciso considerar que os veículos elétricos são de 50 a 100 por cento mais caro do que os regulares a gasolina ou diesel e que os híbridos estão entre 10 a 20 por cento mais caro do que os regulares a gasolina ou diesel. O que certamente é importante, no entanto, é que nos países mais ricos do uso de eletricidade em trens de passageiros e ônibus em algumas cidades tem aumentado significativamente.
Voltando para a energia elétrica, esta é geralmente produzida a partir de diferentes fontes, mas o carvão mineral continua a ser a sua principal fonte de geração (41 por cento), o gás natural o segue (21 por cento), em seguida está a fonte hidroelétrica (16 por cento), nuclear (13 por cento), petróleo (5 por cento) e eólica (1 por cento). A energia solar é uma fonte mínima de geração de energia em países que pretendem usá-lo como tal. Na Alemanha, que desenvolveu uma tecnologia renovável, e de fato tem mais de 350.000 trabalhadores produzindo equipamentos e aparelhos para a produção de energia renovável, indústria com a qual a Alemanha abastece grande parte do mundo, mas a sua própria eletricidade é de 47 por cento proveniente da queima do carvão, além de ser 17 por cento nuclear e 16 por cento eólica e solar. A Alemanha é líder no mundo no uso de energia eólica.
Nos Estados Unidos, 78 por cento da eletricidade é produzida por usinas nucleares, 6 por cento produzida do petróleo e gás natural, e 1 por cento de energia eólica. No Canadá, 63 por cento da energia é produzida pelas usinas hidrolétricas, a energia nuclear produz 15 por cento, o carvão produz 13 por cento, o gás natural produz 6 por cento e a eólica produz 1 por cento. Os estados do Golfo Pérsico vivem da exportação de petróleo e gás e, claro, produzem eletricidade em 100 por cento desta matriz fóssil; o mesmo sucede no Irã, ambos países pretendem construir usinas nucleares para substituir o petróleo como fonte de energia enquanto a produção do petróleo começa a declinar. Na França, 78 por cento da eletricidade é produzida por usinas nucleares, apenas 1 por cento depende de energia eólica. A Rússia, que é um dos maiores produtores de gás natural do mundo, utiliza o gás natural para produzir eletricidade em 48 por cento, 19 por cento de carvão, energia nuclear e hidrelétrica ambas em 16 por cento. Surpreendentemente, a Venezuela, que tem as maiores reservas de petróleo do mundo, produz sua eletricidade em 70 por cento com base em energia hidrelétrica.
O petróleo é uma fonte vital de energia na operação do transporte terrestre, aéreo e marítimo no mundo, fundamental em um mundo globalizado dependente do transporte de bens. O petróleo também é crucial para o funcionamento de máquinas nas estradas, nas minas e na agricultura. Os combustíveis fósseis produzem a matéria-prima orgânica para a indústria de polímeros (plásticos) que são cerca de 16 materiais que vão desde o poliuretano ao poliéster, também são fundamentais em fertilizantes baseados em nitrogênio, e suma importancia no combustível que fornece calor e permite a preparação de alimentos no mundo. Imagine sobreviver a um inverno canadense sem aquecimento, é impossível, não só a madeira não pode competir com o nível de calor do gás natural, mas também não duraria muito tempo e também tem níveis elevados de poluentes.
Para melhor e para pior, nós construímos um mundo completamente dependente do gás natural e petróleo, cuja produção, sem dúvida vai decair esgotamento. Um mundo baseado na acumulação de riqueza no curto prazo, sem planos de longo prazo, onde se consome sem moderação, busca-se a satisfação imediata, vive-se longe ou separado da natureza, onde a energia alternativa e a reciclagem, embora válidos não são suficientes embora a desempenhar seu papel no processo de entorpecente no processo de facilitação acrítica e continuada do consumismo em massa na prática e do ideal deste consumismo em massa quando isso não pode ser posto em prática. O Ocidente continua a sua enganação, mantendo um positivismo enganador usando as energias alternativas, a reciclagem e a falácia de que um dia os Estados Unidos terão sucesso em se autoabastecer de petróleo para evitar o questionamento e a emergência de alternativas reais para um mundo sem futuro. O ambiente está em perigo, mas a espécie mais ameaçada é a humana e seu principal inimigo é ela mesma.
Autor: Mario R. Fernández
Traduzido para publicação em dinamicaglobal.wordpress.com
Fonte: GlobalResearch.ca
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