Por Emilio Chernavsky, na revista CartaCapital:
Contrariando as promessas de que a instabilidade que marcou o segundo governo Dilma Rousseff terminaria com o fim do processo de impeachment, 2016 se encerrou em meio a uma profunda crise política e institucional.
É nesse ambiente que nas últimas semanas do ano começaram a ganhar visibilidade nos meios de comunicação os comentários críticos à condução da política econômica, apontando em especial a falta de resultados positivos mesmo tendo já se passado sete meses desde que o novo governo assumiu.
De fato, longe de mostrar o início da prometida recuperação, a maioria dos indicadores econômicos permanecia estagnada ou continuava a se deteriorar, levando as previsões de crescimento para o próximo ano a serem continuamente revistas para baixo.
Apesar de contrariar as expectativas da maioria dos analistas econômicos e do governo, esta situação não deveria surpreender diante da trajetória que os componentes da demanda vinham assumindo.
Com efeito, com a redução dos salários reais e o aumento do desemprego, e com a contração no crédito pelo aumento da incerteza, o volume de vendas no comércio continuava a cair e a elevar a ociosidade da economia, aprofundando a deterioração do mercado de trabalho e realimentando a espiral negativa do consumo das famílias, que é o responsável pela maior parcela da demanda das empresas.
Estados e municípios, por sua vez, pressionados pela queda das receitas resultante do agravamento da recessão, se viam obrigados a reduzir seus gastos, particularmente os de investimento. As exportações, finalmente, que vinham dando sinais pontuais de melhora desde 2015, arrefeciam seu ímpeto em meio à forte valorização do real que reduziu nos últimos meses a competitividade da produção nacional.
Em face dessas trajetórias negativas, a tão festejada equipe econômica, o dream team sobre o qual tantas esperanças aqueles meios de comunicação e boa parte do empresariado depositavam, parecia pouco atuar para contê-las, preferindo se concentrar na preparação de reformas estruturais, começando pela PEC que congela em termos reais os gastos públicos por ao menos dez anos e garante a aplicação de um ajuste fiscal permanente no âmbito da União.
Na visão do governo e analistas, a sinalização de austeridade aumentaria a credibilidade da política econômica e levaria à redução da taxa de juros, contribuindo para recuperar a confiança dos agentes e, com ela, o investimento privado, o que compensaria a queda inicial na demanda e daria origem a um novo ciclo virtuoso de crescimento. O ajuste permanente seria, assim, expansionista e estimularia, em vez de inibir, a atividade econômica.
Com a satisfação nos círculos empresariais e nos meios de comunicação com o discurso do novo governo – e com os ganhos financeiros por muitos obtidos com a valorização da moeda e a euforia dos mercados –, entre abril e setembro praticamente todos os índices de confiança de fato melhoraram, o que foi tomado de forma quase unânime pelos analistas como indício da iminência da retomada da economia que confirmaria o acerto das previsões otimistas. Bastava, apenas, que essa melhora se traduzisse no esperado aumento dos investimentos privados.
Contrariando tais expectativas, contudo, esses investimentos, ao invés de aumentar, continuaram a cair. Isso, entretanto, não deveria espantar. Mesmo com a redução nas taxas de juro, a contração da demanda e o excesso de capacidade reduzem a rentabilidade esperada do investimento produtivo.
Logo, em vez de investir para elevar uma produção que provavelmente encalharia, gerando prejuízos, o empresário tende a reduzi-la, adaptando-a à demanda menor, e a aplicar o eventual excesso de caixa gerado nos negócios fora do circuito produtivo. A demanda encolhe assim ainda mais e a recessão se aprofunda.
Diante da continuidade da queda nos investimentos, a percepção de que a prometida recuperação da atividade econômica se daria de forma muito mais lenta e incerta do que o esperado – o que era confirmado inclusive por declarações de membros do próprio governo – começou a se generalizar entre consumidores e empresários.
Isso fez com que desde outubro os índices de confiança invertessem seu movimento, passando a registrar queda em praticamente todos os segmentos da economia:
Tal reversão da recuperação dos índices quando seus níveis ainda se encontravam muito abaixo dos que vigoraram entre 2001 e 2013 mostra a insuficiência do diagnóstico do Ministério da Fazenda, que vê o âmago da crise econômica numa crise de confiança, a qual seria resolvida com a adoção de políticas austeras.
De fato, ao contrário do que o governo esperava, ao invés de começar a melhorar, a situação da economia continuou a se deteriorar e essas políticas, em vez de ajudar a sustentar a melhora da confiança que se verificou após a troca de governo, têm contribuído para agravar o quadro de depressão da demanda.
Esta, ao se manter, derruba a confiança dos agentes. Sem o impulso da confiança, e sem que o governo apresente estratégias alternativas, a perspectiva de retomada da economia em um horizonte visível se torna cada vez mais questionável.
O quadro de continuidade da recessão e de manutenção de um horizonte nebuloso assim como a diminuição da crença entre o empresariado e a sociedade em geral na capacidade do governo em ajudar a retomar o crescimento são componentes adicionais a alimentar o ambiente atual de aguda instabilidade política.
É nele que têm aparecido com frequência nos meios de comunicação críticas explícitas à atuação do Ministério da Fazenda e do Banco Central, que até então haviam se mostrado quase que totalmente imunes a elas. Com o aumento do descontentamento com o governo, parece claro que a lua de mel com a equipe econômica que vigorou durante meses não mais existe. Resta saber se o amor acabou.
* Emilio Chernavsky é doutor em economia pela USP e especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental.
altamiroborges
Author Details
Templatesyard is a blogger resources site is a provider of high quality blogger template with premium looking layout and robust design. The main mission of templatesyard is to provide the best quality blogger templates which are professionally designed and perfectlly seo optimized to deliver best result for your blog.
Nenhum comentário:
Postar um comentário