Ditadura dos bancos
A banca acompanha o mundo, em especial o mundo ocidental, desde o surgimento do capitalismo. Mas pode ser controlada, pode ficar sem poder, sem que precisemos adotar algum tipo de socialismo. Pode morrer ou enfraquecer pelo empoderamento dos Estados Nacionais, pela constituição de um Estado Soberano, habitado por cidadãos cônscios de sua cidadania. Mas como isto é difícil!
Não farei história, até porque ela vem sendo construida em notícias e artigos de algumas mídias impressas mas, majoritariamente, nas mídias virtuais.
Vamos, apenas, bem caracterizar a banca. É a denominação que dou ao sistema financeiro internacional. Este é constituído por três ou quatro dúzias de famílias, quase todas residentes nos Estados Unidos da América (EUA) e na Inglaterra, que movimentam em torno de 45% de todas as operações financeiras (bursáteis, cambiais, dos mais diferentes títulos de crédito) em todo mundo. São cerca de 1,5 trilhões de dólares, ainda sua moeda principal, correndo diariamente pelos mercados, que desestabilizam grandes empresas, segmentos econômicos, economia de países e regiões geográficas, como o Oriente Médio.
Foi, exemplificando, a banca que reduziu o preço do petróleo de US$ 100 para US$ 40, o barril, enfraquecendo economias nacionais e alterando ganhos industriais. Foi a banca que levou o Chile ao caos econômico, possibilitando a tomada do poder pelo corrupto carrasco Augusto Pinochet, tendo, no mesmo sentido, promovido no Brasil a substituição da Presidente eleita Dilma pelo Temer.
Na área internacional vem mantendo a guerra no Oriente Médio desde o fim da II Guerra Mundial. E vem concentrando, desde o início dos anos 1960, o sistema de comunicação de massa – cinema, jornais, revistas, emissoras de rádio e de televisão e, mais recentemente, das mantenedoras de redes virtuais – facilitando o controle das informações que circulam pelo mundo.
A banca criou o mito da globalização, mas vá o prezado leitor viajar sem passaporte e sem vistos. Só está globalizado o capital financeiro. Se você correr os noticiários das TVs inglesas, estadunidenses, francesas, espanholas, brasileiras, vai notar que muitas notícias são iguais, até com as mesmas imagens. Porque são apenas meia dúzia de agências que as divulgam, e nelas vai, mais ou menos explícita, a emoção que a banca quer que você tenha ou a compreensão padronizada do evento. Como afirmou, em palestra no 2º Forum de Mídia dos BRICS, o Diretor de Redação do Monitor Mercantil, Marcos de Oliveira, “os meios de comunicação não são mero reflexo do mundo exterior, mas refletem as práticas dos que detém o poder”.
Vamos atentar para dois fatos, registrados pela imprensa nestes últimos dias de junho, dentro do próprio domínio da banca, e que, mesmo não sendo investidor financeiro, meu prezado leitor arcará com suas consequências.
Do exterior noticia-se a valorização de “até 3.500%”, neste ano, com a moeda rival do bitcoin, o “ether”, da plataforma “ethereum”. No Brasil, o inconformismo do mercado de capitais que está sofrendo ”stress”, nestes tempos de lava-jato.
As moedas, em princípio, são uma expressão das soberanias nacionais. É na gestão monetária que um país pode dirigir seu crescimento, impor seu valor relativo frente a outras moedas, incentivar a industrialização e a tecnologia nacionais e se inserir competitivamente no mundo econômico.
Talvez não sejam bem conhecidas as diferenças históricas da gestão das moedas na Inglaterra e no Continente Europeu. André Mater (Traité Juridique de la Monnaie et du Change, Librairie Dalloz, Paris, 1925) comenta que, “às vésperas da Revolução Francesa, o direito canônico representava, não um sistema eclesiástico, mas um conjunto de regras comuns ao mundo europeu”. E exemplifica da Prompta Bibliotheca Canonica Juridica, de 1781: “o príncipe não pode modificar o valor intrínseco ou extrínseco da moeda sem o consentimento da comunidade, ou ao menos da sua maioria, à exceção de necessidade pública e manifesta, como as guerras” (traduções livres).
Na Inglaterra, o Governor and Company of the Bank of England (BOE) foi fundado, em 1694, pelo escocês William Paterson e, até 1946, controlado pela família Rothschild. No período de 1º de março de 1946 a maio de 1997 foi do Estado, quando então retornou a mãos privadas.
Nos EUA há um sistema complexo, envolvendo o Presidente da República, o Congresso, mas, efetivamente, é conduzido pelos bancos e instituições financeiras privadas. Estes órgãos privados participam, formalmente, por conselhos (Advisory), além de ter presença na representação dos bancos regionais. Assim, na efetiva atuação, o Federal Reserve System é um sistema privado.
Vê-se que o privado sistema financeiro angloamericano, que congrega quase todas as famílias controladoras da banca, é o grande ditador de nossos dias. É o perigo, a ameaça que nos rodeia.
Analisemos, sob esta ótica, as duas notícias que destaquei.
O bitcoin (2008/2009) é a própria expressão da banca: a moeda sem pátria nem esfígie, que o Tesouro dos EUA classifica como “moeda digital”. A “moeda digital” que não paga imposto nem fornece garantia real. Sua rival “ether” de 2014, fruto da plataforma “etherum”, que possibilita “contratos inteligentes”, ou seja, com assinatura digital e escritos nas quatro linguagens disponibilizadas pela plataforma. Se a bitcoin é um meio de pagamento eletrônico – peer to peer – em moeda digital, o ether dá uma passo a frente, possibilitando um contrato, por exemplo de seguro ou de registro de um bem.
Como se vê, claramente, a banca vai eliminando um instrumento de soberania, um empreendimento (banco) que tem pátria e é tributado, para um modelo não tributável, etéreo, de moeda e contrato. Precisa, por conseguinte, torná-lo atrativo, e o que mais atrativo do que um rendimento de 3.500%, em cerca de seis meses? Como é óbvio até para o mais desavisado coxinha, estamos diante de uma bolha, que, como todas, vai explodir para maior ganho da banca e para inevitável concentração de renda. Assim, sem medo de errar, só não sabendo dia e hora, prevejo um grande prejuízo para pessoas e empresas e “ad majorem bancae gloriam et lucrum” (desculpem-me o jesuitismo).
Vejamos, agora, a lamentação de quem certamente bateu panela. As bolsas de valores sempre foram, fundamentalmente, um meio de captação barata de recursos e um instrumento de especulação, com boa liquidez. Culpar as “governanças corporativas” ou a má atuação da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) pela “não expansão do mercado de capitais” e a desnacionalização das empresas, com preço baixo, adquiridas por capitais estrangeiros, é querer se enganar. Mas isto é, precisamente, objetivo da banca: transferir os ganhos de todos os setores econômicos para o sistema financeiro. Assim, a banca vai se assenhoreando dos setores mais produtivos, Petrobrás a R$ 11,00, e desencorajando esta forma de captação para as que, em seu projeto de poder, devem deixar de existir, Odebrecht, J&F, pois concorrem com as estadunidenses e inglesas.
O Brasil, sob o governo do golpe, articulado do exterior, mas envolvendo os três poderes – judiciário, legislativo e executivo – vai se afundando para a glória da banca. Até que, como a Líbia, a Ucrânia, o Iraque deixarem, efetivamente, de existir, ou como a União Europeia ser submetida, na prática, a um só governo. Muito me espanta que as Forças Armadas, por seus generais, almirantes, brigadeiros, ainda estejam “impressionados” com a “corrupção petista”, estando aí a banca, desde Collor, o Breve, a mandar no Brasil. E nada ou ninguém é mais corrupto do que a banca, formada com capitais lícitos e ilícitos. Será por isso que surgem tantos aviões e helicópteros com drogas, associados aos atuais dirigentes?
Autor: Pedro Augusto Pinho, avô, administrador aposentado
Publicado em dinamicaglobal.wordpress.com
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