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sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Rússia promove plataforma curda unificada, por M.K.Bhadrakumar

Que BRICS?! Enquanto 'chanceler' do "B" tenta escapar da cadeia, Lavrov tenta dar jeito no mundo... [NT]

7/8/2018, M.K.Bhadrakumar, Indian Punchline

Traduzido pelo Coletivo Vila Vudu

Foi fundada no sábado [4/8], em Moscou, a Federação Internacional de Comunidades Curdas. É importante desenvolvimento contra o ressurgimento do problema curdo. Os curdos vivem em vários países, num arco amplo, da Turquia, por toda a parte norte do Oriente Médio, até o Cáucaso e a Ásia Central.
A nova organização é presidida por Mirzoyev Knyaz Ibragimovich – importante intelectual de origem curdo-armênia nascido no Cazaquistão,– escritor, filólogo especialista em idiomas orientais e professor. A ideia de reunir numa plataforma de integração a própria identidade curda dispersa, parece ter sido promovida pelas autoridades da Rússia. O vice-ministro de Relações Exteriores da Rússia e Representante Especial do Presidente Putin para Oriente Médio e África, Mikhail Bogdanov, hoje, em Moscou, recebeu Mirzoyev e sua delegação.

Press-release do Ministério de Relações Exteriores da Rússia informa que discutiram "questões prementes do Oriente Médio, com ênfase nas questões curdas no contexto dos desdobramentos no Iraque e na Síria, inclusive a necessidade de consolidar esforços internacionais para conter o ISIS e outros grupos terroristas". Bem obviamente, o contexto imediato é a estabilização da situação no Iraque e na Síria.

Claro, é momento importantíssimo, porque Rússia e curdos têm longa e complexa história partilhada. Poucos saberão que, embora a política russa tenha sido, historicamente, de oposição à independência dos curdos, São Petersburgo sempre foi o mais importante centro de estudos curdos, desde meados do século 19. A Rússia czarista, na verdade, assistiu a um florescimento de estudos curdos e de promoção da cultura curda. Sob os auspícios da Academia Imperial de Ciências de São Petersburgo, foram compilados dicionários curdo-francês-russo; e uma seleção de textos curdos foi publicada em 1857, organizada a partir de material coletado de curdos feitos prisioneiros de guerra na Guerra da Crimeia (os prisioneiros foram segregados num campo em Smolensk na Rússia ocidental).

Provavelmente, o mais importante trabalho sobre os curdos publicado em São Petersburgo tenha sido uma história dos curdos, elaborada originalmente em 1596, em idioma persa, cobrindo cinco séculos, "para que a história das grandes dinastias que reinaram no Curdistão não permaneça ignorada". Os russos levaram o manuscrito original, datado de 1599, quando transferiram toda a Biblioteca Real Safávida de Ardabil para São Petersburgo, como parte do espólio que coube à Rússia czarista na guerra com a Pérsia em 1828. Nos anos 1869-75, foi publicada em São Petersburgo uma edição em francês daquele trabalho histórico, em quatro volumes.

Que incrível capítulo, na antiga saga das relações entre eslavos e muçulmanos [os safávidas eram xiitas (NTs)]! Para alguns historiadores, todas essas ações teriam sido inspiradas pela ambição imperial dos russos, aos quais interessaria o desmembramento dos impérios persa e otomano, o acesso às águas temperadas do Golfo Persa e a libertação das minorias cristãs naquelas regiões. Seja como for, o que interessa agora é que nenhuma questão sobre independência curda jamais teve qualquer influência nas tais ambições imperiais.

Essa abordagem russa para a questão da independência curda foi consistente durante toda a era soviética e assim se mantém até hoje. Permitam-me pescar nos arquivos uma entrevista fascinante, concedida pelo ministro de Relações Exteriores da Rússia Sergey Lavrov a um canal curdo-iraquiano  há um ano, interessante hoje pela explicação cristalina da posição russa quanto à questão curda. A certa altura, disse Lavrov:

·         "Sem sombra de dúvida nossa atitude em relação aos curdos é muito positiva. Temos laços muito antigos e nos conhecemos muito bem. Temos interesse em que os curdos – como qualquer outro grupo étnico no planeta – alcancem suas legítimas aspirações e intenções (...) Partimos do pressuposto de que as legítimas aspirações dos curdos – como de qualquer outro povo – têm de ser buscadas nos termos da lei internacional (…). A questão curda tem papel crucialmente importante na primeira linha dos processos de superação de crises que agora se desdobram na região (...) A história mostra que muito frequentemente não basta uma eleição para resolver todos os problemas do dia para a noite. São processos a serem conduzidos, repito, de modo responsável, considerando o amplo significado da questão curda para toda a região."

Com toda a certeza, o modo como Moscou está propondo essa plataforma internacional curda será observada muito atentamente. Fato é que Moscou toma a iniciativa de consolidar a identidade cultural e política curda sob a liderança de um intelectual erudito e ilustrado, num momento em que grupos militantes curdos na Síria – que foram apoiados pelos norte-americanos – parecem interessados em negociar com Damasco.


Os sírios curdos sabem que, na ausência de qualquer compromisso do lado norte-americano para o futuro, a via mais prudente é reconciliarem-se com Assad. Interessante aqui é que os curdos sírios ao longo dos sete anos de guerra sempre evitaram combater contra forças do governo sírio, e jamais apoiaram qualquer acordo de paz que exigisse a deposição de Assad. Os combatentes curdos várias vezes manifestaram interesse em se integrar ao Exército Árabe Sírio.

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