O recente discurso de Putin à Assembleia Geral da Federação Russa foi constituído de duas partes: uma parte em que falou sobre a política exterior da Rússia e que foi fala indiscutivelmente histórica; e outra, na qual falou sobre economia interna. E essa segunda parte foi o triste desapontamento, para dizer o mínimo. De fato, devo dizer que foi aterrorizante. Não vou postar toda essa parte “econômica”; os interessados podem ler (em espanhol) noblog redecastorphoto ou (em inglês) na página do Kremlin. Mas eis o meu resumo do que Putin disse:
●– Faremos todos os esforços para ajudar a comunidade empresarial russa; faremos todos os esforços também para fazer retornar à Rússia todo o dinheiro russo que está escondido em paraísos fiscais longe daqui; e criaremos estabilidade e previsibilidade.
OK, tudo muito bonito, tudo muito bem, exceto que Putin nãodisse tudo que realmente faria diferença. Como, dentre outros “não ditos”:
●– Putin não denunciou como criminoso o trabalho da presidenta do Banco Central Russo.
●– Putin não ameaçou vender bônus dos EUA e trazer para casa de volta o dinheiro dos russos.
●– Putin não demitiu um único oficial russo por incompetência nem, muito menos, por sabotagem.
●– Putin não anunciou grande modificação no status do rublo; não falou, por exemplo, sobre o rublo-ouro.
●– Putin não rejeitou o modelo econômico ocidental.
●– Putin não anunciou qualquer reforma, nem que o estado russo estatizará o Banco Central da Rússia.
●– Mais importante, Putin não anunciou nenhuma grande mudança na política econômica.
Vladimir Putin |
Não tenho como saber se Putin acredita sinceramente nos dogmas econômicos liberais ocidentais, ou se só lhe resta fingir que acredita. Mas o resultado é o mesmo: Putin rejeita o modelo político ocidental, ao mesmo tempo em que, ao que parece, endossa integralmente o modelo econômico.
Acabo de assistir a uma entrevista de Mikhail Khazin e Evegnii Feodorov, pela rádio Russian New Service (em russo), e os dois estão tocando o alarme.
Elvira Nabiullina |
Khazin está exigindo que a presidenta do Banco Central da Rússia (Elvira Nabiullina), seja demitida e presa; Feodorov quer a extinção do Banco Central. Concordo com ambos.
A economia russa em geral, e o rublo em especial, estão ambos sob ataque direto, não só por efeito das sanções, mas também por movimentos e operações especulativos. O preço do petróleo está em colapso, efeito, provavelmente, de várias razões objetivas (recessão mundial) e operações deliberadas dos EUA. Mas Putin não está introduzindo nenhuma mudança significativa no rumo da economia, e até elogiou o Banco Central por suas atividades! Não faz recordar algo?
Pessoalmente, tudo isso me faz relembrar o que aconteceu nos últimos meses de Anatolii Serdiukov, quando os militares russos estavam sendo atingidos por um escândalo depois de outro, sem parar, e Putin continuava a elogiar Serduikov e seu trabalho. Afinal, Serdiukov foi demitido e substituído pelo realmente destacado e impressionante Shoigu, mas a demissão de Serdiukov demorou muito, exigiu trabalho muito intenso. E até hoje nenhum tribunal condenou Serdiukov por suas numerosas atividades criminosas.
Significa que Putin é hesitante, fraco ou que está confuso?
[Significa que Dilma é hesitante, fraca ou que está confusa? (NTs)]
Acho que não. Acho que tudo isso mostra que uma das tarefas mais gigantescas e mais perigosas para Putin é livrar-se dos sabotadores nos altos escalões do poder.
Mikhail Khazin |
O mesmo Mikhail Khazin disse recentemente que só agora o poder do grupo “Soberanista Eurasiano” pró-Putin começa a equivaler, aproximadamente, ao poder dos“Integracionistas Atlanticistas” pró-EUA (não usou essas palavras, que são expressões minhas).
Esperemos que Putin esteja planejando, para Nabiulina, operação semelhante à que conseguiu destituir Serdiukov, mas nada parece apontar nessa direção. A pressão sobre Putin aumenta para que tome medidas dramáticas e, de uma vez por todas, desconecte a economia russa da ortodoxia neoliberal conhecida como “Consenso de Washington”, mas também há forte resistência.
Essa é, de longe, a maior ameaça contra Rússia e contra Putin [e contra o Brasil e contra Dilma (NTs)]: a 5ª coluna de sabotadores nos mais altos postos do poder, sobretudo, ainda, dentro do governo [e no venal JUDICIÁRIO brasileiro (Nrc)]. Enquanto esse pessoal permanecer no poder, a Rússia [e o Brasil(Nrc)] continuará fraca e frágil e muito suscetível às armas da econômica que o ocidente mobiliza contra o mundo.
The Saker
Redecastorphoto
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