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sexta-feira, 18 de março de 2016

Em direção a uma nova guerra no Líbano


Thierry Meyssan

Desde Maio de 2008 que o Líbano não cumpre, mais, a sua própria constituição e não tem sequer orçamento. O país, hoje em dia à deriva, tornou-se uma presa fácil para Israel. O falhanço da operação contra a Síria conduz o partido colonial a buscar um novo alvo. Se uma segunda guerra civil pode ainda ser evitada, será difícil impedir uma nova invasão.

 | BEIRUTE (LÍBANO) 

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Michel Sleiman foi eleito, a 25 de Maio de 2008, pela Assembleia de Deputados em violação da Constituição Libanesa (o artigo 49 interdita a um alto funcionário ser eleito menos de dois anos antes de ter deixado as suas funções). Ele, não foi empossado pelo seu predecessor, Émile Lahoud, mas pelo emir do Catar, na presença do representante da antiga potência colonial francesa, Bernard Kouchner, instalado, não na tribuna, mas, sim no banco do governo.
Desde o acordo de Doha e da eleição anti-constitucional de Michel Sleiman como presidente da República, em 2008, o Líbano não teve nenhum acontecimento político marcante até Agosto último. No decurso dos sete últimos meses o país foi sacudido, quando da «crise do lixo», por manifestações susceptíveis de desembocar numa segunda «revolução dos Cedros», depois por uma crise de confiança com a Arábia Saudita e seus aliados, finalmente por uma condenação internacional do Hezbollah. Três acontecimentos que, avaliados separadamente, parecem explicar-se por si próprios e não conduzem a nada. No entanto…
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Odor pestilencial em numerosas comunas do Líbano onde os lixos não são, mais, recolhidos.
Em Agosto de 2015, começou subitamente a «crise do lixo»: o Estado não conseguiu renovar o contrato de recolha das lixeiras pela sociedade Sukleen. Em poucos dias, todo o país se tornou uma vasta lixeira com os resíduos amontoando-se nas ruas. Desencadearam-se manifestações acusando o governo de incúria. Rapidamente milhares de manifestantes gritavam, no centro da capital, que os próprios políticos eram lixo, pilhando o Estado em detrimento dos cidadãos. Os média sugeriam um início de revolução colorida comparável à «revolução do Cedro», organizada pelos Estados Unidos após o assassinato do antigo Primeiro-ministro Rafik Hariri; outros média falavam de uma extensão da «Primavera Árabe» [1]. No fim, a fúria popular caiu porque o sistema comunitário único do Líbano —imposto pela França— prende cada cidadão à sua comunidade religiosa e o impede de se posicionar quanto às questões nacionais.

Todavia, sete meses mais tarde, a crise do lixo ainda não está resolvida. Claro, a capital e as grandes cidades são limpas, mas em muitas regiões, as lixeiras acumulam-se espalhando um odor nauseabundo. A persistência e propagação deste problema tem consequências em matéria de saúde pública. Os vírus propagam-se e quase todos os Libaneses caiem episodicamente doentes. Têm também consequências econômicas. De fato, o turismo, a principal fonte de renda oficial do país, está em grave queda.
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O terraço do Petit Café em Beirute, frente ao rochedo, está vazio. Os clientes do Golfo desertaram.
A segunda crise começou com a anulação do donativo saudita de 3 bilhões de dólares ao Exército libanês [2]. Na realidade, este «donativo» era o pagamento feito ao exército libanês por ter destruído o testemunho de Majed al-Majed, o qual tinha detido durante o seu transporte em ambulância, a 26 de Dezembro de 2013. O célebre terrorista era o representante do príncipe Bandar bin Sultan no Levante. Ele era suspeito de conhecer, pessoalmente, o conjunto dos políticos que apoiam secretamente os jihadistas. O seu testemunho teria colocado gravemente em apuros o reino saudita. O homem teve o bom senso de morrer, ao fim de alguns dias de detenção, sem que o seu detalhado testemunho fosse gravado [3].

Para justificar o cancelamento do seu «donativo», Riad evocou a reação do Líbano quanto à execução do Xeque Nimr al-Nimr Baqr. A 2 de Janeiro de 2016, a petro-ditadura tinha, com efeito, decapitado o chefe da sua oposição. Ora, acontece que esta personalidade era um religioso xiita, o que levantou uma onda de indignação em todas as populações xiitas do mundo, incluindo no Líbano [4]. A Arábia Saudita mobilizou os seus aliados para afirmar o seu direito, absoluto, a matar quem lhe apetecer entre seus súditos, enquanto o Líbano se mantêm prudentemente reservado. Riad decidiu ver nisso uma forma de ingratidão em relação aos bilhões despejados, durante anos, para apoiar o 14-Março, quer dizer a coligação de partidos comunitários libaneses colaborando com Israel.

Acima de tudo, Riad decidiu afundar a economia libanesa interditando aos seus súditos viajar para o Líbano e fazendo estender esta interdição aos Bahreinitas e aos Emiradenses. Privados dos seus turistas do Golfo, os comércios e os bancos entraram imediatamente em recessão.
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A Al-Manar é o único meio de comunicação do qual disporia a Resistência libanesa em caso de agressão israelita. Durante a guerra de 2006, o Hezbollah conseguiu fazê-la funcionar apesar dos gigantescos bombardeamentos do Tsahal. Em caso de corte da antena, só a versão ocidental dos fatos seria divulgada
A terceira crise é a que envolve o Hezbollah. Esta rede de resistência, à ocupação israelita, transformou-se progressivamente em partido político e participante no governo. Principalmente apoiada pela Síria no período de 1982-2005, ela volta-se, gradualmente, para o Irã após a partida do Exército Árabe Sírio do Líbano. No período 2006-2013, recebe um arsenal considerável dos Guardas da Revolução iranianos. No entanto, desde a eleição do Xeque Hassan Rohani, no Irã, o Hezbollah prepara-se para uma ruptura e desenvolve as suas próprias fontes de financiamento, apoiando-se na diáspora libanesa e/ou xiita no estrangeiro, principalmente em África e na América Latina. No seguimento da assinatura do acordo 5+1 com o Irã, a 14 de Julho de 2015, o Hezbollah empenha-se contra os jihadistas ao lado do Exército Árabe Sírio, ao mesmo tempo que se distancia progressivamente de Teerã.

A 16 de Dezembro de 2015, o Congresso dos EUA adotou, por unanimidade, uma lei interditando aos bancos trabalhar com o Hezbollah, ou organismos ligados à Resistência libanesa, e visando cortar a difusão da estação de televisão Al-Manar [5]. Este texto reforça um outro datando de 2014. De imediato, o Tesouro impôs sanções contra Ali Youssef Charara, CEO do Grupo Spectrum Investment, acusado de participar no sistema de financiamento da Resistência [6]. A lei norte-americana foi seguida por uma resolução do Conselho de Cooperação do Golfo, depois pelos ministros do Interior e dos Negócios Estrangeiros da Liga Árabe, qualificando o Hezbollah de «movimento terrorista».

O dispositivo está agora completo: a economia libanesa está arruinada, e o princípio de Resistência à ocupação israelita é assimilado ao terrorismo. O canal de televisão Al-Manar não deverá estar, mais, disponível através do Nilesat e do Arabsat, limitando consideravelmente a sua audiência.
Duas opções são agora possíveis para Washington e Telavive: ou, uma guerra convencional, como em 2006, ou —mais simples e mais discreto— uma guerra civil, como o Líbano conheceu entre 1975 e 1990. O último presidente constitucional do Líbano, Emile Lahoud, apela a uma reforma imediata da lei eleitoral, de maneira a que o próximo Parlamento não seja representativo das comunidades religiosas, mas, sim da população. É o único meio de evitar a guerra civil.

Thierry Meyssan  – Intelectual francês, presidente-fundador da Rede Voltaire e da conferência Axis for Peace. As suas análises sobre política externa publicam-se na imprensa árabe, latino-americana e russa. Última obra em francês: L’Effroyable imposture: Tome 2, Manipulations et désinformations (ed. JP Bertrand, 2007). Última obra publicada em Castelhano (espanhol): La gran impostura II. Manipulación y desinformación en los medios de comunicación(Monte Ávila Editores, 2008).

Tradução Alva

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