Taiwan se prepara para realizar testes de sistemas de mísseis antiaéreos PAC 3, em um polígono estadunidense, para verificar sua capacidade de abater alvos balísticos. De acordo com a mídia, os testes serão realizados em julho. Que consequências vai ter esta decisão para a situação no estreito de Taiwan e para as relações entre Pequim e Taipei?
Leia a íntegra dos comentários da Sputnik com o especialista russo em matérias militares Vasily Kashin.
Este passo vai levar ao crescimento do descontentamento da China, tanto nas relações com a administração da ilha, como nas relações com os Estados Unidos. Taiwan realiza esses testes nos Estados Unidos devido à falta de polígono na ilha. Além disso, Taiwan provavelmente não possui um simulador de alvos para mísseis balísticos com as características necessárias.
Hoje, no âmbito da superioridade esmagadora do exército chinês no estreito de Taiwan, os sistemas de defesa aérea se tornaram a principal arma de Taiwan. A aviação militar do país perdeu ultimamente sua antiga superioridade qualitativa em relação à força aérea chinesa e é muito menor em termos de quantidade. Além disso, no caso de conflito aberto com a China, as bases aéreas de Taiwan serão destruídas, com uma alta probabilidade, nos primeiros dias de combates com misseis balísticos. Deste ponto de vista, os sistemas de mísseis antiaéreos das forças terrestres taiwanesas têm uma probabilidade maior de sobreviver e continuar a combater.
Apesar de toda a importância dos sistemas de mísseis antiaéreos para Taiwan, o papel da PAC 3 é realmente questionável. Taiwan possui um número limitado de tais sistemas e de mísseis para eles. A capacidade bélica deles, com elevada probabilidade, não permitirá rechaçar mesmo o primeiro ataque. No que se refere às perspectivas de uma campanha prolongada, posso dizer que os estoques de mísseis balísticos de curto alcance da China, de acordo com várias estimativas, contam com 1500-1700 unidades. Se considerarmos que um míssil antiaéreo PAC 3 custa de 2 a 4 milhões de dólares (R$ 7-14 milhões), e que para destruir um alvo balístico são precisos pelo menos 2 mísseis, se torna óbvio que Taiwan não vai ser capaz de adquirir o número necessário de mísseis.
Além disso, embora os sistemas PAC 3 atinjam os alvos balísticos em ambiente de polígono com sucesso, em condições de combates reais a eficiência deles é muito inferior. Todos os compradores dos sistemas de defesa antiaérea americanos devem dar uma olhada nos combates recentes durante a guerra no Iêmen. Para lutar contra a coalizão liderada pela Arábia Saudita, os rebeldes iemenitas houthis, apoiados pelo exército do Iêmen, têm usado repetidamente velhos tipos de mísseis balísticos, como o "Tochka" soviético e o "Hwasong-6" norte-coreano. A maioria deles não foram interceptados e alguns deles, apesar do sistema de orientação antigo, atingiram seus alvos e causaram pesadas baixas às tropas da Arábia Saudita e seus aliados.
Levando em conta o alto nível tecnológico dos mísseis balísticos de curto alcance da China e que o número de mísseis de cruzeiro chineses está aumentando, a decisão de compra de sistemas da defesa antimísseis muito caros pode ser considerada como um erro. Talvez o uso de sistemas menos complexos e menos caros poderia ser mais eficiente.
Independentemente dos esforços dos EUA e de Taiwan, a superioridade bélica da China nesta área é inquestionável. A única questão é se Pequim seria capaz de conquistar Taiwan antes de os EUA e o Japão poderem empreender algo para impedir essa intervenção. Com o tempo, as hipóteses de uma tal operação chinesa ser bem sucedida aumentam.
sputniknews
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