Num movimento ousado, do qual John Le Carré muito se orgulharia, Julian Assange, o superstar de WikiLeaks, entrou no prédio da Embaixada do Equador em Knightsbridge, centro de Londres, pediu asilo político, nos termos da Declaração Universal dos Direitos do Homem da ONU e detonou mais uma tempestade internacional. (...)
À primeira vista, a coisa toda é só... sexo. Semana passada, a Corte Suprema da Grã-Bretanha rejeitou, em última instância, o recurso de Assange contra a extradição para a Suécia. Estocolmo o quer lá, para ser interrogado em processo no qual foi acusado de ter estuprado uma mulher e agredido sexualmente uma segunda mulher, em agosto de 2010.
Julian & as tietes periguetes [orig. Julian's groupies from hell]
O caso dos suecos contra Assange clama aos céus escandinavos – estrelando uma Procuradora e conhecida odiadora de homens (Marianne Ny) e duas tietes periguetes: uma vingativa e ultra manipuladora (Anna Ardin), a outra do tipo tímida (Sofia Wilen), e ambas mantiveram intercurso sexual consensual com Assange.
Resumo da ópera: Ardin decidiu vingar-se de Assange – que trocou os favores sexuais de Ardin pelos de Wilen, mais jovem que Ardin. Foi Ardin quem convenceu Wilen a apresentar queixa à polícia, acusando Assange de tê-la agredido sexualmente; e levou Wilen a uma delegacia de Polícia.
Wilen ainda estava sendo interrogada, quando uma policial (mulher) telefonou à Procuradora (mulher) e obteve dela uma ordem de prisão (in absentia) contra Assange. O fato conhecido de a Procuradora ter emitido uma ordem de prisão sem ler a queixa (fosse queixa de Wilen, fosse queixa de Ardin, fosse queixa das duas) – prova que não estamos assistindo a filme noir sofisticado à moda do escandinavo Stieg Larsson; contra Assange, é pornochanchada.
Tudo aconteceu numa noite de 6ª-feira. No sábado pela manhã, um tabloide sueco, direitista à moda dos tabloides de Murdoch, Expressen, publicou uma foto de Assange, primeira página; e a manchete: “Duplo Estuprador”.
Anna Ardin (D) e Sofia Wilen (E)
Documentos da polícia que vazaram informam que Wilen estava desesperada; não queria acusar Assange de tê-la estuprado. O namorado de Wilen, norte-americano, explicou que o problema era que Wilen sempre fora super, ultra, mega paranoica sobre fazer sexo sem proteção.
E Ardin contou a outra policial (mulher), em entrevista por telefone, que o sexo com Assange fora consensual – mas que não teria sido, de modo algum, se ela soubesse que Assange não estava usando camisinha. A anotar, que Ardin só se lembrou de sentir-se ofendida ou ameaçada pela ausência de camisinha depois de, digamos, várias vezes: o chamado intercurso não aconteceu só uma vez nem foi “ficada” casual de uma noite-e-tchau.
Decidida a impedir que WikiLeaks armasse seu QG na Suécia, a sórdida direita sueca não economizou golpes. Foi ajudada por ninguém menos que Karl Rove – que trabalhara na assessoria do primeiro-ministro sueco Fredrik Reinfeldt, conhecido como “o Reagan sueco”, por dois anos.
Depois de já ter ameaçado Assange para que destruísse absolutamente todos os arquivos de WikiLeaks onde houvesse “segredos” militares, diplomáticos e de inteligência dos EUA, o Pentágono pouco se preocuparia com a coisa virar chantagem da mais suja, ou qualquer tipo de sórdida manipulação dos fatos.
O Pentágono está decidido a pegar Assange, custe o que custar. Para todas as finalidades práticas, já há acusação “formal” contra ele, em processo secreto. É o próximo Bradley Manning – breve numa tela próxima de você, em Imax 3D. E também encenarão sessão de grande júri.
Bradley Manning
Isso, depois de um porta-voz do Pentágono, ao vivo e para quem quisesse ouvir, já ter descartado o respeito à lei:
“Se fazer a coisa certa não basta no caso deles [WikiLeaks], veremos que outras alternativas nos restam para obrigá-los a fazer a coisa certa”[1].
Passagem só de ida para Quito, please
Assange tinha prazo até a 5ª-feira da próxima semana para impetrar recurso, na Corte Europeia de Direitos Humanos em Strasbourg, contra a decisão da corte britânica. As autoridades britânicas já haviam dito que, se nada obtivesse, Assange seria deportado para a Suécia até a meia noite de 7/7/2012. Antes de decidir pelo movimento rumo ao território do Equador, os advogados devem ter considerados as (sombrias) possibilidades restantes.
Assange foi preso e libertado sob fiança (mais de US$370 mil dólares, arrecadados por seus apoiadores) na Inglaterra, desde o outono de 2010. Permaneceu em prisão domiciliar desde então, numa casa de campo em Suffolk, cujo proprietário, Vaughan Smith, é fundador do Club Frontline, em Londres; tem de se apresentar uma vez por dia à Polícia; e tem de usar uma tornozeleira de monitoramento eletrônico.
Assange explicou, em declaração, que estava pedindo asilo político porque seu país de nascimento, a Austrália – nas palavras da primeira-ministra Julia Gillard – declarara, oficialmente, que não mais lhe garantiria proteção; na Suécia, “os mais altos funcionários do governo têm-me atacado abertamente”; e nos EUA “estou sendo acusado de haver cometido crimes políticos que são puníveis com pena de morte”.
“Se fazer a coisa certa não basta no caso deles [WikiLeaks], veremos que outras alternativas nos restam para obrigá-los a fazer a coisa certa”[1].
Passagem só de ida para Quito, please
Assange tinha prazo até a 5ª-feira da próxima semana para impetrar recurso, na Corte Europeia de Direitos Humanos em Strasbourg, contra a decisão da corte britânica. As autoridades britânicas já haviam dito que, se nada obtivesse, Assange seria deportado para a Suécia até a meia noite de 7/7/2012. Antes de decidir pelo movimento rumo ao território do Equador, os advogados devem ter considerados as (sombrias) possibilidades restantes.
Assange foi preso e libertado sob fiança (mais de US$370 mil dólares, arrecadados por seus apoiadores) na Inglaterra, desde o outono de 2010. Permaneceu em prisão domiciliar desde então, numa casa de campo em Suffolk, cujo proprietário, Vaughan Smith, é fundador do Club Frontline, em Londres; tem de se apresentar uma vez por dia à Polícia; e tem de usar uma tornozeleira de monitoramento eletrônico.
Assange explicou, em declaração, que estava pedindo asilo político porque seu país de nascimento, a Austrália – nas palavras da primeira-ministra Julia Gillard – declarara, oficialmente, que não mais lhe garantiria proteção; na Suécia, “os mais altos funcionários do governo têm-me atacado abertamente”; e nos EUA “estou sendo acusado de haver cometido crimes políticos que são puníveis com pena de morte”.
Julian Assange
O que vem depois disso é a matéria de que se faz a fama de John Le Carré. Assange estará agora protegido de ser extraditado? Dado que violou as condições da prisão domiciliar... Londres pode tentar prendê-lo? O que fará a Agência Contra o Crime Organizado Grave [orig. Serious Organized Crime Agency (SOCA)] na Inglaterra – à qual compete executar os Mandados Europeus de Prisão – nesse quadro de grave turbulência política? Como Assange sairá da embaixada e entrará num avião que o leve a Quito, se infringiu as regras da prisão domiciliar e tem contra ele um mandado de extradição a ser executado?
Imediatamente, foi iniciada também campanha organizada de difamação contra o Equador em toda a imprensa-empresa, pode-se dizer, do planeta. Dentre outras coisas, já disseram que “menos de um terço da população equatoriana tem acesso à internet”. Correa já está sendo apresentado como besta fera, ainda pior que Hugo Chávez:
“O pedido de asilo pode ajudar Correa a polir sua reputação de desafiante provocador no relacionamento entre nações latino-americanas em desenvolvimento e os EUA. Foi o papel de agente anti-imperialista desempenhado até aqui, com grande talento histriônico, pelo presidente Hugo Chávez da Venezuela. Agora, com Chávez doente de um câncer, Correa já vê espaço para um novo líder. Para muitos, Correa apressa-se a tentar ocupar o espaço de Chávez”[2].
Imediatamente, foi iniciada também campanha organizada de difamação contra o Equador em toda a imprensa-empresa, pode-se dizer, do planeta. Dentre outras coisas, já disseram que “menos de um terço da população equatoriana tem acesso à internet”. Correa já está sendo apresentado como besta fera, ainda pior que Hugo Chávez:
“O pedido de asilo pode ajudar Correa a polir sua reputação de desafiante provocador no relacionamento entre nações latino-americanas em desenvolvimento e os EUA. Foi o papel de agente anti-imperialista desempenhado até aqui, com grande talento histriônico, pelo presidente Hugo Chávez da Venezuela. Agora, com Chávez doente de um câncer, Correa já vê espaço para um novo líder. Para muitos, Correa apressa-se a tentar ocupar o espaço de Chávez”[2].
MRE do Equador - Ricardo Patiño
Segundo o Ministro de Relações Exteriores do Equador, Ricardo Patiño, Assange escreveu pessoalmente a Correa, pedindo-lhe asilo político. O quanto poderia esperar, de Correa, em termos de solidariedade intelectual, foi algo que Assange teve oportunidade para aferir, durante entrevista absolutamente aberta e sem barreiras, à qual o mundo assistiu pela rede Russia Today. [3]
Durante os contatos para organizar a entrevista, levada ao ar em teleconferência, o asilo político foi, realmente, oferecido a Assange (mas não diretamente pelo próprio presidente).
Não há dúvidas de que Assange não é fugitivo. Tem absoluto direito de buscar asilo político baseado numa violação de direitos humanos – nesse caso, pela real possibilidade de ser extraditado sob condições de risco absoluto e ameaça à vida. A Suécia jamais ofereceu qualquer garantia de que Assange não viesse a ser extraditado para os EUA.
Se Assange fosse chinês, cego e se chamasse Chen Guangcheng – e, se, além disso, denunciasse excessos chineses – toda o hipócrita ocidente atlanticista estaria desfilando em passeatas de solidariedade à sua frente. E, equanto isso, “Dábliu” (Bush), “Dick” (Cheney) e “Rummy” (Rumsfeld) – Os Três Patetas Assassinos –, destroem um país inteiro, mas escapam da polícia e continuam por aí, em plena liberdade.
Segundo o Ministro de Relações Exteriores do Equador, Ricardo Patiño, Assange escreveu pessoalmente a Correa, pedindo-lhe asilo político. O quanto poderia esperar, de Correa, em termos de solidariedade intelectual, foi algo que Assange teve oportunidade para aferir, durante entrevista absolutamente aberta e sem barreiras, à qual o mundo assistiu pela rede Russia Today. [3]
Durante os contatos para organizar a entrevista, levada ao ar em teleconferência, o asilo político foi, realmente, oferecido a Assange (mas não diretamente pelo próprio presidente).
Não há dúvidas de que Assange não é fugitivo. Tem absoluto direito de buscar asilo político baseado numa violação de direitos humanos – nesse caso, pela real possibilidade de ser extraditado sob condições de risco absoluto e ameaça à vida. A Suécia jamais ofereceu qualquer garantia de que Assange não viesse a ser extraditado para os EUA.
Se Assange fosse chinês, cego e se chamasse Chen Guangcheng – e, se, além disso, denunciasse excessos chineses – toda o hipócrita ocidente atlanticista estaria desfilando em passeatas de solidariedade à sua frente. E, equanto isso, “Dábliu” (Bush), “Dick” (Cheney) e “Rummy” (Rumsfeld) – Os Três Patetas Assassinos –, destroem um país inteiro, mas escapam da polícia e continuam por aí, em plena liberdade.
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