Ankara. A secretária de Estado dos EUA Hillary Clinton tem muitos amigos em Istambul, cidade que visitou como primeira-dama do governo Clinton e, mais recentemente, como alta funcionária do governo Obama. Contudo, se olhasse pela janela de seu quarto de hotel na direção do Bósforo, veria o descontentamento que cresce nas ruas. Na famosa Praça Taksin, em Istambul, secularistas protestam contra o apoio que o governo de Erdogan tem garantido às políticas dos EUA para a Síria; para muitos manifestantes, o que se vê acontecer hoje na Síria é efeito de plano dos norte-americanos, para gerar o caos na região.
A Associação da Juventude da Anatólia, que faz oposição cerrada ao Partido Justiça e Desenvolvimento, de Erdogan, não tem dúvidas de que o inferno que os sírios enfrentam hoje é, pelo menos em parte, efeito das políticas viciosas do atual governo turco.
Manifestantes que se reúnem próximo ao Monumento à República, em Istambul, chamam a atenção de todos os países árabes para o risco de não defenderem a Síria contra os EUA e para o que, para eles também, é efeito das políticas dos EUA para a região.
Alguns manifestantes acusam a CIA de apoiar o Exército Síria Livre, que combate contra as unidades legais do exército sírio.
Em praticamente todas as muitas manifestações de rua que agitam Istambul, veem-se secularistas preocupados com o futuro da região. Muitos são conhecidos opositores das políticas do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan, cujo modelo de governo parece atender a todas as expectativas de Washington para a Turquia.
Tantos discursos de apoio ao governo de Al-Assad talvez soem estranhos a ouvidos ocidentais, sobretudo vindos de grupos secularistas, tradicionais opositores de governos apresentados no ocidente como de fundamento religioso, ou totalitários ou repressores. E essa não é a única anomalia que se vê na Turquia nos últimos dias: Israel também não vê com bons olhos a “mudança de regime” que os EUA tentam promover na Síria.
Resultado desse cálculo regional, as políticas de Washington para a Síria não estão encontrando o apoio que Clinton esperava recolher na Turquia: grande parte da população turca culpa os EUA pela desgraça dos sírios; e Israel mais teme do que deseja o fim do governo de Assad.
Para o ex-ministro das Relações Exteriores da Turquia, Yasar Yakis, Israel está vendo com preocupação o rumo que as coisas vão tomando na Síria. Com a Fraternidade Muçulmana já tendo alcançado a maioria no Parlamento egípcio, Israel prefere continuar a enfrentar o governo laico de Assad a ter de enfrentar mais um governo islamista também na Síria.
A Fraternidade Muçulmana já começa a fazer barulho contra a influência de Israel no Sinai. Um governo de inclinação islamista na Síria devolveria à pauta a questão das Colinas do Golan – diz Yakis.
Parte significativa da elite turca está incorporada a esses protestos, porque os confrontos sectários que estão sendo estimulados na Síria, onde sunitas estão sendo empurrados contra xiitas, podem facilmente contaminar a Turquia e servir de combustível, num cenário mais amplo, para alimentar o movimento secessionista dos curdos.
Muitos turcos já temem que, se não se encontrar saída negociada para a Síria, a crise que daí advirá lançará ao caos toda a região.
Pela primeira vez, os diplomatas turcos parecem incapazes de formular ou defender qualquer política clara para a Síria. Ankara, que apoiou o levante inicial da oposição síria, talvez não encontre meios para perseverar em suas políticas atuais. Também no Parlamento turco já há forte oposição às políticas do ministro de Relações Exteriores de Erdogan, Ahmet Davutoglu, e vários partidos já falam abertamente em mudança no ministério.
Resultado desse cálculo regional, as políticas de Washington para a Síria não estão encontrando o apoio que Clinton esperava recolher na Turquia: grande parte da população turca culpa os EUA pela desgraça dos sírios; e Israel mais teme do que deseja o fim do governo de Assad.
Para o ex-ministro das Relações Exteriores da Turquia, Yasar Yakis, Israel está vendo com preocupação o rumo que as coisas vão tomando na Síria. Com a Fraternidade Muçulmana já tendo alcançado a maioria no Parlamento egípcio, Israel prefere continuar a enfrentar o governo laico de Assad a ter de enfrentar mais um governo islamista também na Síria.
A Fraternidade Muçulmana já começa a fazer barulho contra a influência de Israel no Sinai. Um governo de inclinação islamista na Síria devolveria à pauta a questão das Colinas do Golan – diz Yakis.
Parte significativa da elite turca está incorporada a esses protestos, porque os confrontos sectários que estão sendo estimulados na Síria, onde sunitas estão sendo empurrados contra xiitas, podem facilmente contaminar a Turquia e servir de combustível, num cenário mais amplo, para alimentar o movimento secessionista dos curdos.
Muitos turcos já temem que, se não se encontrar saída negociada para a Síria, a crise que daí advirá lançará ao caos toda a região.
Pela primeira vez, os diplomatas turcos parecem incapazes de formular ou defender qualquer política clara para a Síria. Ankara, que apoiou o levante inicial da oposição síria, talvez não encontre meios para perseverar em suas políticas atuais. Também no Parlamento turco já há forte oposição às políticas do ministro de Relações Exteriores de Erdogan, Ahmet Davutoglu, e vários partidos já falam abertamente em mudança no ministério.
A questão dos curdos
Os curdos se espalham por 6 países
A questão curda também é fonte de graves preocupações; e, desde o início da crise síria, vem aumentando na Turquia a influência do Partido dos Trabalhadores do Kurdistão (PKK). O PKK, com correligionários no norte do Iraque e aliados potenciais na Síria, passa a ter de ser ouvido mais atentamente.
Causou alarme entre os políticos turcos a notícia de que membros do Partido Baath que governa a Síria ter-se-iam reunido com líderes do PT curdo nas Montanhas Qandil. Para muitos, ainda é bem viva a lembrança de quando Ankara e Damasco constituíram uma frente unida contra os separatistas do PKK.
Agora, em vez de Síria e Turquia manipularem o PKK, é o PKK quem vai ganhando posição mais forte. Membros do PKK têm mantido encontros regulares com o presidente do Curdistão Iraquiano, Massoud Barzani – que já declarou que tem dois milhões de curdos sírios dispostos a levantar-se para depor o governo de Al-Assad na Síria.
Circulam também informações de que Barzani estaria treinando curdos sírios, em preparação para guerra de guerrilhas.
O governo sírio, por sua vez, também alarmado ante o risco de um levante dos curdos, prometeu autonomia e autogoverno aos curdos, em troca de desistirem dos projetos de agitação popular em suas áreas. Essas propostas foram apresentadas ao Partido Curdistão Democrático sírio, que se sabe que mantém laços íntimos com o PKK turco.
Agora, com os sauditas já tendo oferecido apoio aos sunitas sírios, e o Irã prometendo apoio aos xiitas sírios, a Síria já se precipita para uma perigosa guerra sectária – resultado absolutamente diferente do que os políticos turcos esperavam.
Ainda outra dificuldade diz respeito hoje aos alevitas, grupo étnico minoritário que vive na Turquia, estimado em cerca de mais de 10% da população nacional. Os alevitas não são alawitas, como a família al-Assad que governa a Síria, mas os dois grupos são frequentemente confundidos, porque ambos juraram fidelidade ao profeta Ali, fonte inspiracional de todo o Islã xiita. E nem alevitas nem alawitas confiam em sunitas.
Há quem preveja que no caso de haver confrontos entre alawitas e sunitas dentro da Síria – os quais podem começar a qualquer momento, e até por acidente – os alevitas turcos abracem a causa dos alawitas sírios; mais um motivo pelo qual há quem recomende cautela máxima a Ankara, nas operações que envolvam a Síria.
Gílson Sampaio
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