Virgínia Silveira
A Atech vai participar diretamente do desenvolvimento do reator do futuro submarino nuclear brasileiro. A empresa, do grupo Embraer, venceu a licitação da Marinha e ficará responsável pelo desenvolvimento do sistema de controle do laboratório de geração núcleo-elétrica, conhecido pela sigla Labgene, considerada a parte principal e mais complexa do reator.
A concorrência, segundo o presidente da Atech, Tarcísio Takashi Muta, foi realizada em âmbito nacional, já que o objetivo é dominar a tecnologia do sistema de controle da propulsão nuclear.
"A empresa fará a integração do sistema e o desenvolvimento do software de controle, tecnologias que não são vendidas e nem transferidas", destacou o diretor do Centro Tecnológico da Marinha em São Paulo, vice-almirante Carlos Passos Bezerril. Com o projeto do Labgene, o Brasil, segundo ele, será o primeiro país da América Latina a ter o domínio da tecnologia de controle da propulsão e do combustível nuclear.
O diretor também lembrou que o desenvolvimento do reator irá envolver a participação de 80 empresas nacionais, na parte de construção civil e mecânica, química, materiais, engenharia naval, entre outras.
A disputa para o desenvolvimento do sistema de controle do reator nuclear envolveu também a Odebrecht e o contrato está avaliado em R$ 231 milhões, informou o executivo da Atech. O prazo para a execução do projeto é de três anos e meio, mas a qualificação do reator para ser utilizado no primeiro submarino está prevista para 2018. O contrato representa três anos e meio de faturamento para a Atech e exigirá a contratação de 40 funcionários.
Orçado em R$ 800 milhões, o Labgene é uma unidade nuclear de geração de energia elétrica, que será projetada e construída no país. Essa instalação, que está sendo erguida no Centro Experimental Aramar (CEA), em Iperó (SP), servirá de base e de laboratório para qualquer outro projeto de reator nuclear no Brasil.
O CEA, inaugurado em fevereiro deste ano, abriga a unidade produtora de Hexafluoreto de Urânio (matéria-prima para o enriquecimento de urânio, que produz o combustível nuclear para as usinas) e o Centro de Instrução e Adestramento Nuclear Aramar (Ciana), encarregado de formar mão de obra para o Labgene e também para as futuras tripulações dos submarinos nucleares brasileiros.
O vice-almirante Bezerril explica que o Labgene é também um protótipo em terra do sistema de propulsão naval que, por sua vez, permitirá a obtenção da capacitação necessária para readequá-lo ao submarino nuclear. "É um laboratório que testará todos os equipamentos, semelhante a uma planta nuclear, antes de colocar o reator no submarino."
A Atech vai aplicar a sua experiência em gestão e integração de sistemas complexos às normas e requisitos específicos da área nuclear. Parte dessa expertise, segundo o presidente da empresa, foi adquirida com a participação no Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia), onde conquistou o domínio completo da inteligência do projeto.
A Atech figura entre as dez empresas no mundo que dominam a tecnologia do controle de tráfego aéreo, o que permitiu que o país atingisse a autonomia no gerenciamento do seu espaço aéreo.
Além de dar autonomia para o país na área de sistemas de controle de geração de energia nuclear, a tecnologia desenvolvida para o Labgene, segundo Takashi, terá aplicação dual. "A partir desse núcleo poderemos suportar as atividades da Marinha na área nuclear e modernizar os simuladores de operação para as usinas de Angra 1 e 2", explicou.
Objetivo é reduzir dependência externa
O domínio da tecnologia de controle de propulsão nuclear, segundo o presidente da Atech, Tarsício Takashi Muta, será uma experiência similar a que a empresa viveu na época da crise aérea no Brasil, entre 2007 e 2008. "Fomos acionados pela Aeronáutica e tivemos que mobilizar muita gente para modernizar o sistema nacional de controle de tráfego aéreo."
Segundo o executivo, o novo sistema, batizado de Sagitário (Sistema Avançado de Gerenciamento de Informações de Tráfego Aéreo e Relatórios de Interesse Operacional) tornou o Brasil menos dependente de outros países, pois o domínio da tecnologia garante a evolução do sistema e a autonomia nesse segmento.
Para o projeto do Labgene, a companhia vai trabalhar em parceria com outras empresas e a Embraer, segundo Takashi, deverá participar trazendo a experiência na área de licença de exportação de componentes e subsistemas considerados sensíveis, devido a sua aplicação na área nuclear.
"Parte dos componentes do Labgene serão comprados fora do país e a experiência da Embraer será muito importante na hora de negociarmos essas licenças de exportação com as empresas de fora", explica o diretor de Mercado-Defesa da Atech, Giacomo Feres Staniscia. Alguns subsistemas, no entanto, deverão ser desenvolvidos no país por se tratarem de itens controlados e de difícil aquisição no mercado externo.
A Atmos, por exemplo, segundo o diretor, será uma das empresas brasileiras escolhidas para o desenvolvimento de um dos mecanismos de controle do processo de geração nuclear.
A Atech já atua no projeto do submarino nuclear brasileiro como subcontratada da francesa DCNS, na parte de absorção de tecnologia de sistemas de combate. No acordo feito pelo governo brasileiro com as empresas francesas, está previsto o fornecimento de quatro submarinos convencionais e a transferência de tecnologia do casco do submarino de propulsão nuclear.
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