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terça-feira, 6 de novembro de 2012

Atenas para por dois dias enquanto parlamento vota pacote do FMI.Jornalistas gregos decidem manter greve por 72 horas

Pichação na Acrópole protesta contra as medidas da chanceler alemã, Angela Merkel.

Plano de austeridade passa por crivo nesta quarta-feira; analistas esperam aprovação por margem pequena de votos

Cartazes espalhados por toda a cidade, a cada poste, avisam que Atenas vai parar pelas próximas 48 horas. Manifestações vão tomar conta da praça Omonia, norte da capital grega, e Syntagma, no centro, em protestos contra o pacote de austeridade do FMI (Fundo Monetário Internacional), que foi apresentado ontem ao parlamento e deve ir à votação nesta quarta-feira (07/11).

Desde ontem (05/11) as três linhas de metrô e os diversos trens de superfície, que atendem 1 milhão de passageiros por dia, estão suspensos em virtude da greve de parte dos funcionários do transporte público ateniense. Somente ônibus abarrotados continuam circulando pela cidade para suprir a demanda. A partir de hoje, funcionários do serviço público, estudantes, professores e jornalistas também aderem à greve geral, que vai paralisar o país.


Ao mesmo tempo, a presença policial em Atenas é massiva, com agentes de forças especiais circulando por áreas consideradas críticas, no centro histórico da capital grega. Como reflexo dos efeitos da crise e da imagem de violência dos protestos, a quantidade de turistas é pequena, apesar do bom tempo, com temperatura pelo menos 10 graus acima do frio que já chegou à Europa ocidental.

O elegante aeroporto Eleftherios Venizelos, construído para a Olimpíada de 2004, estava às moscas no último sábado. Restaurantes na área de Monastiraki, próxima à Acrópoles e à área dos protestos, ficaram vazios na noite de ontem e devem permanecer assim pelas próximas 48 horas.
Policiais fecham avenida no entorno do Parlamento.

Para jornalistas, funcionários públicos e estudantes ouvidos pelo Opera Mundi, o clima no país é de completa frustração. “Todo ano que passou é melhor que o próximo”, disse, com sorriso amarelo, um deles. “Talvez em 10 anos melhore alguma coisa”, continuou. Em pesquisa recente do Eurobarometer, 100% dos gregos consideraram a situação econômica péssima. O desemprego entre jovens de 18 a 25 anos está acima dos 50%.

O pacote do FMI, a ser votado pelos deputados gregos, prevê um desembolso de 13,5 bilhões de euros (cerca de R$ 35 bilhões) em troca de medidas de austeridade. Se aprovado, a Grécia se compromete a atender todas as demandas da troika, formada pelo BCE (Banco Central Europeu), Comissão Europeia e FMI.

O documento, com 54 páginas, (veja a íntegra aqui)ordena mudanças na constituição grega para facilitar o pagamento da dívida, a fusão de todos os planos de saúde em um único sistema estatal - com benefícios reduzidos, a fusão de departamentos de ensino das universidades gregas e, entre as medidas mais polêmicas, a privatização de empresas do setor elétrico.

Há pontos bastante específicos na cartilha do FMI, como a abertura de supermercados a produtos pré-embalados e congelados, como carnes, peixes, e queijos, além da flexibilização nos reajustes das mensalidades de escolas primárias e secundárias. Os cortes em benefícios sociais, informa o documento, devem chegar a 395 milhões de euros (cerca de R$ 1 bilhão) em 2013.

Aprovação apertada

Apesar de conter diversos pontos polêmicos, analistas acreditam que a cartilha do FMI deverá ser aprovada no Parlamento grego por uma margem pequena de votos. A bancada do primeiro-ministro Antonis Samaras, do partido de centro-direita Nova Democracia, não contará com os votos de uma sigla de sua frágil aliança, a Esquerda Democrática, o que pode acirrar a disputa.

A cartilha, chamada tecnicamente de terceiro memorando, passará por discussões nesta terça-feira no Parlamento. A votação deve ocorrer na quarta-feira à noite, no auge dos protestos marcados pela Associação de Servidores Públicos (Adedy, na sigla em grego) e pela Frente Militante dos Trabalhadores (Pame, na sigla em grego) na praça Syntagma, a poucos metros dali.
Cartaz da Pame (Frente Militante dos Trabalhadores da Grécia) em frente ao Parlamento.

Após reunião tensa, jornalistas gregos decidem manter greve por 72 horas
Categoria se une a trabalhadores do serviço público grego, que planejam protestos durante votação do pacote do FMI

Gritos furiosos cortavam a fumaça dos cigarros pelos corredores do Sindicato dos Jornalistas dos Diários de Atenas (Esiea, na sigla em grego). Reunidos e em crise escancarada, representantes dos principais veículos de comunicação do país partiram para a acusações sobre a condução da greve da categoria, que paralisou novamente as redações do país nesta segunda-feira (05/11).

Enquanto repórteres e editores pediam que a greve fosse mantida - por um dia, um mês ou até um ano -, alguns representantes argumentavam que Grécia precisa deles nas ruas para cobrir os protestos que vão tomar conta da capital nesta terça e quarta (06 e 07/11). O momento é crítico, já que o Parlamento grego pode aprovar na quarta o novo pacote do Fundo Monetário Internacional (FMI), imposto pelo Banco Central Europeu e pela Comissão Europeia para a economia do país.

Ao final do dia, a Federação Pan-Helênica de Sindicatos de Jornalistas (Poesy, na sigla em grego), emitiu uma nota sustentando a greve por mais 48 horas, com fim marcado para as 6h de quinta-feira. A Poesy demanda respostas do governo para o que classifica como “perseguição” contra jornalistas, especialmente em casos de funcionários da emissora estatal ERT (Rede Helênica de Notícias).

“A greve é a única coisa a se fazer. Outras formas de protesto se esgotaram faz tempo. Somos trabalhadores como quaisquer outros e temos de defender nossos direitos para ter um futuro digno. Mas com esse pacote, a Troika não vai nos dar uma vida digna”, disse ao Opera Mundi um dos editores da ERT, Sotiris Domatopoulos. “Nossa única chance é lutar agora. Pelo futuro de nossos filhos.”

O epicentro da crise entre os jornalistas é a mudança em seus planos de saúde. Hoje, o profissionais da área pagam uma mensalidade, descontada do salário, pelas vantagens de um serviço privado. Como parte do plano de austeridade, o governo grego pretende fundir o plano de saúde dos jornalistas com o serviço público de saúde, considerado de pior qualidade, sem qualquer compensação pelo dinheiro investido.

“Nosso plano, pelo qual eu paguei a vida inteira, é o melhor de todos. Por que precisamos agora, depois de tanto esforço, ir para o serviço público, que não é bom?”, afirmou ao Opera Mundi a ex-editora de assuntos internacionais da TV Mega, Seva Kammer. Desde 1999 fora das redações, Seva teme perder o auxílio saúde e, ainda, sofrer cortes em sua aposentadoria com um possível corte no piso salarial.

Atualmente, o piso salarial do jornalista grego, hoje, é de 850 euros (cerca de R$ 2,2 mil). Eles temem que o valor caia para 580 euros (R$ 1,5 mil), em paridade com o novo salário mínimo nacional. Para Seva, os jornalistas gregos precisam de “unidade” e “solidariedade” para atravessar a crise.

Esse não é o primeiro blecaute das redações gregas. Desde 2008, quando o país mergulhou na crise, já foram várias paralisações. A última aconteceu na quarta-feira passada e durou 24 horas. Não há sinais de recuo por parte do governo sobre o pacote a ser aprovado.

Opera Mundi

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